Ex-dirigente da Casa Pia divulga carta que escreveu um dia antes de entrar na prisão

Apesar de condenado a cinco anos e nove meses de prisão, Manuel Abrantes mantém que está inocente neste "maldito processo".

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Manuel Abrantes está preso, mas continua a "gritar" que está inocente Rui Gaudêncio

Um dia antes de se entregar no estabelecimento prisional da Carregueira, em Sintra, para cumprir a pena a que foi condenado, o antigo provedor adjunto da Casa Pia de Lisboa Manuel Abrantes escreveu uma carta ao Presidente da República, aos líderes dos grupos parlamentares e a várias outras personalidades, como Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio. "Estou em vésperas de ser preso e não estou aqui a pedir nada a ninguém, estou apenas como cidadão a gritar-Vos que nada tenho que ver com abusos sexuais."

A carta tem a data de 3 de Abril de 2013. No dia 4 de Abril, o ex-dirigente da Casa Pia apresentou-se na Carregueira, para cumprir o que lhe falta da pena de cinco anos e nove meses de prisão decidida pelo tribunal. E há dias essa mesma carta começou a chegar às redacções de "órgãos de comunicação social", num envelope que tem como remetente, precisamente, Manuel José Abrantes.

Na sua exposição de cinco páginas, Abrantes passa em revista alguns momentos daquilo a que chama "maldito processo". Começa por explicar que foi "educando interno, funcionário e dirigente da Casa Pia". Que em Novembro de 2002, "na sequência das notícias explosivas sobre abusos sexuais" contra alunos daquela instituição, foi demitido do cargo de dirigente (mais tarde foi decidida a sua aposentação compulsiva, mas diz que nunca foi ouvido). Que, em Janeiro de 2003, tomou conhecimento de um processo disciplinar de que era alvo, por ser acusado de abusar de alunos e que, cerca de um ano depois, foi detido.

"Em 29 de Dezembro de 2003, recebi a acusação do chamado processo Casa Pia, só nesta data fiquei a saber que seis alunos me acusavam de abusos sexuais: um numa sala por debaixo do meu gabinete de trabalho, outro numa casa na Ajuda, outro numa casa na Buraca, não se sabia onde, outro numa casa de Lisboa, não se sabia onde..." Isto entre 1997 e 2000.

A carta relata depois o que fez Manuel Abrantes para provar a sua alegada inocência. Abrantes insiste na tese que defendeu em tribunal: que não estava nos locais onde o situavam. E diz que, para prová-lo, apresentou listas de telefonemas, de movimentos bancários, de pagamentos de portagens, bilhetes de viagens, horários de aulas... "Volvidos quase sete anos neste inferno [...] ninguém me fez o favor de explicar por que é que as múltiplas e variadas versões acusatórias dos assistentes foram mais verdade do que a minha versão de inocência."

O advogado Paulo Sá e Cunha confirma que a carta é do seu cliente e explica que o antigo provedor adjunto da Casa Pia queria ter a certeza de que passava tempo suficiente para que os destinatários da carta tomassem conhecimento da mesma. E que, por isso, só agora o documento foi divulgado. O texto tem ainda como destinatários a presidente da Assembleia da República, a procuradora-geral da República, o provedor de Justiça e os presidentes do Tribunal Constitucional, Supremo Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Administrativo.

O ex-provedor adjunto diz que os juízes que o condenaram deram como provadas "situações falsas, enredos patéticos, comportamentos irrealistas".

Tal como Manuel Abrantes, também o ex-motorista da Casa Pia Carlos Silvino, o apresentador de televisão Carlos Cruz, o ex-embaixador Jorge Ritto e o médico Ferreira Diniz estão a cumprir as penas a que foram condenados por abusos sexuais no âmbito do processo Casa Pia.
 

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