Comboio directo Porto-Vigo agrada, mas região pede mais investimento

Presidente da Junta Metropolitana do Porto lamenta que seja preciso esperar três anos para que a linha seja electrificada.

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Hoje a viagem Porto Vigo demora cerca de três horas Paulo Ricca

O presidente da Junta Metropolitana do Porto lamentou hoje que a região tenha de esperar três anos para um tempo de viagem “mais competitivo” entre o Porto e a Galiza, mas considerou “positiva” a criação de um comboio directo até Vigo, já no próximo Verão.

O também presidente da Câmara do Porto, reagia desta forma à decisão, anunciada segunda-feira na XXVI Cimeira Luso-Espanhola, sobre a “criação de um comboio directo diário nos dois sentidos e do bilhete único a partir do Verão”.

A declaração final da cimeira refere que Portugal e Espanha “manifestam o compromisso de agilizar os recursos disponíveis que permitam finalizar a electrificação de todo o trajecto até 2016”. É a este prazo que o presidente da Junta Metropolitana se refere quando alerta para a necessidade de esperar “três anos” por um tempo de viagem “mais competitivo”.

A ligação entre o Porto e Vigo por comboio em alta velocidade esteve prevista, mas foi adiada e depois suspensa pelo Governo socialista de José Sócrates, em Novembro de 2010. Em Julho de 2011, a administração da CP admitiu que a “racionalização de custos” estava na origem da decisão de acabar com a ligação internacional até Vigo mas acabaria por manter a ligação.

O actual Governo decidiu em março de 2012 o “abandono definitivo” do projecto português de alta velocidade. Agora, anuncia um novo impulso para a melhoria desta ligação, num gesto bem acolhido na região.

O presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte Portugal saudou e o lançamento, ainda que “um pouco tarde”, de um comboio direto diário entre Porto e Vigo nos dois sentidos e de um bilhete único. Melchior Moreira considera, no entanto, que a decisão surge “um pouco tarde” e deveria ser completada com alguma renovação na ferrovia e no material circulante.

Também o presidente do Conselho Regional do Norte, Franscisco Araújo, afirmou que a anunciada ligação ferroviária directa entre Porto e Vigo representa “uma notícia importante” para a região mas que, por si só, “não será suficiente”, enquanto a linha, na parte portuguesa, não for alvo da “prometida” modernização para reduzir os tempos de viagem.

“O importante é existir uma ligação rápida entre Porto e Vigo, mas faltam outros passos. Nomeadamente no âmbito do próximo período de programação de fundos comunitários [2014-2020] é preciso alocar recursos financeiros para criar condições para que a via ofereça serviços adequados à euro-região”, disse Francisco Araújo, que lidera o órgão consultivo da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), o qual integra os 86 autarcas do Norte e duas dezenas de organizações sociais, económicas, ambientais e científicas da região.

Araújo, que é também autarca de Arcos de Valdevez, admite contudo que “foi dado um primeiro passo” para o “reconhecimento da importância” desta ligação ferroviária, a qual, mesmo que directa, diz, deveria “prever” o serviço às “áreas” de Viana do Castelo e Braga, no contexto da euro-região Norte de Portugal e Galiza.

Por seu turno, o presidente interino da CCDRN manifestou “satisfação” pelo anúncio da ligação ferroviária directa diária, afirmando que “é aceitável” e “vem ao encontro de uma pretensão antiga” do organismo. Tendo em linha de conta “o cenário económico-financeiro em que vivemos, a ligação em alta velocidade não é oportuna não só para Portugal como também, provavelmente, para Espanha, que também vive momentos difíceis”, afirmou, em declarações à Lusa, Carlos Neves.

Já o o Eixo Atlântico, entidade que promove a defesa dos interesses das 34 maiores cidades do Norte de Portugal e da Galiza e que tem defendido a melhoria da ligação ferroviária entre Porto e Vigo, remete uma posição oficial sobre o assunto para esta quarta-feira, em conferência de imprensa, a realizar em Vigo.

O Eixo Atlântico chegou a classificar a cimeira ibérica de Madrid como a “hora das decisões”. Em Abril último, o secretário-geral desta entidade tinha já advertido que se da reunião entre os governos dos dois países não saísse um “plano operacional dos trabalhos” de modernização e electrificação da Linha do Minho (entre Nine, Viana do Castelo e Valença), o Eixo iria “fazer uma guerra até o conseguir”.

A avançar a ligação directa apenas com paragens nas cidades de Porto e Vigo, o comboio deixará de apanhar passageiros na estação de Viana do Castelo, uma das cerca de dez que integra o percurso actual, sendo este município liderado precisamente pelo presidente do Eixo Atlântico, o socialista José Maria Costa.
 
 

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