Primeiros resultados apontam para vitória da oposição no Paquistão

Partido do ex-primeiro-ministro lidera contagem, mas a formação de Imran Khan, antiga estrela de críquete, pode negar-lhe maioria no Parlamento. Participação nas legislativas foi "enorme"

A contagem de votos só agora começou
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A contagem de votos só agora começou Aamir Qureshi/AFP
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Houve violência, mas não tanta como a prometida pelos taliban, nem a suficiente para afastar milhões de paquistaneses de participarem nas históricas eleições – pela primeira vez desde a independência, um governo democraticamente eleito dará lugar a outro escolhido pelo povo. Resultados divulgados ao final do dia, colocavam o ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif em boas condições de ser eleito, pela terceira vez, para a chefia do Governo, mas mostravam também um bom desempenho do partido de Imran Khan, antigo jogador de críquete que foi a estrela da campanha para as legislativas.

Cinco horas depois do fecho das urnas, a Liga Muçulmana (PML-N) de Sharif tinha já assegurado a vitória em 50 dos 272 círculos eleitorais, enquanto o Partido do Povo (PPP, da dinastia Bhutto, actualmente no poder) dava como certos apenas 20. A curta distância, e ainda com esperança de se estrear no Parlamento como segunda formação mais votado, surgia o Movimento para a Justiça (PTI) de Khan.

A confirmar-se, a boa votação do partido do antigo desportista – que mobilizou os eleitores mais jovens e urbanos prometendo romper com o status quo da política paquistanesa – poderá negar a Nawaz Sharif a maioria no Parlamento, o que abriria um período de incerteza política no Paquistão, a braços com uma economia em ruínas, corrupção endémica, violência sectária e uma rebelião islamista que faz anualmente centenas de mortos.

Uma incerteza que as denúncias de irregularidades agravam. A comissão eleitoral admitiu não ter conseguido que a votação em Carachi, a maior cidade e pólo industrial do Paquistão, fosse “livre e justa” e ordenou a repetição da votação em 42 assembleias de voto. Não é ainda certo o impacto deste veredicto sobre a votação nacional, mas o jornal paquistanês Dawn adiantava que quase todos os partidos da oposição vieram dizer que não vão reconhecer os resultados das legislativas na cidade, alegando que houve intimidação de eleitores e funcionários e que várias mesas de voto estiveram encerradas durante quase todo o dia.

Foi também em Carachi que se deu o incidente mais sangrento de uma votação que culminou a campanha mais violenta da história do país, com atentados e tiroteios diários que deixaram um rasto de 120 mortos. Neste sábado, 11 pessoas morreram e 40 ficaram feridas na explosão de uma bomba junto aos escritório do ANP, movimento nacionalista de esquerda que integra a actual coligação liderada pelo PPP. A acção não foi reivindicada, mas as suspeitas recaem sobre os taliban, apostados tanto em punir o Governo pela sua conivência com os ataques dos drones americanos, como em repudiar a democracia, a que chamam “um sistema de infiéis”.

Em vésperas da votação avisaram a população para se manter afastada das urnas, que ameaçavam atacar com violência sem precedentes, levando Exército e polícia a mobilizar 600 mil homens para proteger os locais de voto e a encerrar por três dias as fronteiras nacionais. Além de Carachi, onde uma segunda bomba matou dois ocupantes de um autocarro, houve incidentes dispersos pelo país, sobretudo nas províncias do noroeste, próximas do Afeganistão.

Mas a ameaça não afastou os eleitores e, por todo o país, as filas eram já longas horas antes de as urnas abrirem. “Passámos anos a viver no medo das ameaças terroristas. Hoje decidimos acabar de vez com o clima de medo”, disse à AFP um comerciante de Peshawar. A comissão eleitoral falou numa participação “enorme” e um responsável admitiu que a taxa final pode rondar os 60%, o que seria a mais alta dos últimos 36 anos.
 
 

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