Autarca e construtora com versões contraditórias sobre linha de água no local da derrocada em Guimarães

Presidente da junta garante que a água "nasce por todos os lados" no local onde foi construído o loteamento. Construtora nega e garante que a obra, agora em risco, era segura.

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Uma das famílias afectadas pela derrocada de terça-feira em Guimarães recusa-se a regressar a casa, mesmo que lhe seja garantida a segurança da habitação, disse esta quarta-feira à Lusa um morador, que não quis ser identificado. Contrariando o presidente da Junta, a construtora garante que não havia linhas de água no local.

O  presidente da Junta de Freguesia de Mesão Frio disse à Lusa que os edifícios foram “parcialmente construídos em cima de um aterro”. Alcino Sousa adiantou que em cima do aterro (maciço artificial de terras para cobrir ou nivelar um terreno) fica a zona das garagens, que foi precisamente a mais afectada pela derrocada.

“Aquilo levou ali muita terra e, se calhar, ela não estava devidamente consolidada, não a deixaram endurecer devidamente e deu-se isto, até porque, naquela zona, a água nasce por todos os lados”, explicou o autarca. Alcino Sousa disse ainda que a parte da frente das casas já estará assente “em terra mais firme”, uma vez que confina com a antiga linha de caminho-de-ferro, entretanto transformada em ciclovia.

Segundo o autarca, a construção daquele loteamento, constituído por dois blocos com cinco moradias cada, “terá estado embargada durante muito tempo”, por “razões que desconhece”.

Contrariando as críticas do presidente da junta, fonte da construtora manifestou confiança nas fundações e na qualidade do trabalho executado. Garantiu que o deslizamento de terras não se deveu à construção dos edifícios. A mesma fonte disse à agência Lusa, no local da derrocada, em Mesão Frio, que toda a construção das casas “decorreu com normalidade e sem problemas quanto a terras”, negando que houvesse cursos de água no local aquando da construção.

A fonte da construtora Manuel e Fernando Moreira relatou ter estado no local antes da derrocada e disse “que não estava em causa a terra das obras, mas antes a que estava em baixo do local”. A obra em causa “estava legal” e “com todas as licenças”, acrescentou a mesma fonte, indicando que “apenas o chão das garagens cedeu e que as paredes dos prédios devem estar intactas”.

Estas explicações não descansam uma das famílias, que se recusa a voltar para sua casa. “Mesmo que me seja garantida a segurança da casa, já não quero viver mais aqui e os meus filhos também se recusam a morar nesta casa”, disse um morador à Lusa. Esta família não consegue entrar em casa desde terça-feira, os seus elementos ainda estão com a mesma roupa no corpo e tiveram de dormir em casa de familiares.

Neste momento, aguardam que lhes seja dada autorização para irem buscar os pertences básicos. A família mora naquela casa há cerca de seis anos, tendo o condomínio começado a ser construído há uma década. Seis das dez moradias estão habitadas e foram vendidas por cerca de 200 mil euros cada.

Esta tarde, representantes da Câmara de Guimarães e da Protecção Civil distrital vão reunir-se com o presidente da Estradas de Portugal, para discutirem um plano de reabertura ao trânsito da variante Guimarães-Fafe, onde prosseguem as operações de remoção de terras e entulho.
 

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