Corpo de Yasser Arafat exumado em Ramallah
Especialistas internacionais vão investigar hipótese de assassínio com polónio
O corpo do histórico líder palestiniano, Yasser Arafat, foi exumado esta manhã em Ramallah, no âmbito de uma nova investigação para determinar se a causa da sua morte terá sido envenenamento.
A hipótese foi levantada após a realização de exames forenses aos pertences de Arafat à altura da sua morte, em 2004, terem detectado a presença de polónio-210, uma substância radioactiva que é letal.
Os testes, levados a cabo num laboratório suíço, foram encomendados pela cadeia pan-árabe Al-Jazira, que em Julho produziu um documentário sobre a morte de Arafat no qual a teoria de que o líder palestiniano teria sido assassinado foi levantada.
O processo de exumação começou às 5 horas locais, sob a supervisão de uma equipa de técnicos internacionais que deverão proceder a exames independentes nos seus respectivos países.
Presentes no local estiveram também os três juízes franceses responsáveis pelo inquérito, aberto após a entrega de uma queixa por suspeita de assassínio pela viúva de Yasser Arafat.
Suha Arafat resistiu à realização de uma autópsia após a morte do marido, a 11 de Novembro de 2004 em paris, mas agora concordou com a realização de testes forenses e pediu à Autoridade Palestiniana que lançasse uma investigação para apurar a verdade.
“A operação já foi terminada, o túmulo já foi novamente encerrado e as amostras estão já a caminho para serem analisados por especialistas franceses, suíços e russos”, disse à agência France Press um responsável palestiniano pela comissão de inquérito à morte de Arafat.
Arafat – que liderou a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) durante 35 anos, e se tornou o primeiro líder da Autoridade Palestiniana em 1996 – adoeceu em Outubro de 2004 no complexo governamental de Muqataa, na Cisjordânia
A deterioração rápida do seu estado de saúde levou à sua transferência para um hospital militar em Paris, onde acabou por morrer com 75 anos de idade.
A sua ficha clínica, que o diário The New York Times divulgou no ano seguinte, apontava uma hemorragia generalizada causada por agente infeccioso desconhecido. Esse relatório afastava a hipótese de cancro, e também de uma infecção com o vírus da Sida, que na altura se especulava poderem ser as verdadeiras causas da morte de Arafat.
Os palestinianos especularam também que a morte de Arafat teria sido “encomendada” por Israel, que mantinha o líder da Autoridade Palestiniana em prisão domiciliária. Mas o Governo de Telavive sempre negou qualquer envolvimento numa conspiração para o assassínio de Arafat.
Os testes efectuados nos laboratórios do Instituto de Radiação da Universidade de Lausanne, na Suíça, detectaram uma presença “significativa” do elemento polónio-210, em doses 10 vezes superiores à amostra de controlo.
O polónio pode ser encontrado na natureza (nomeadamente nas primeiras camadas do solo), mas os técnicos suíços afastaram a hipótese de a substância detectada nos pertences de Yasser Arafat ser de origem natural.
A produção de polónio artificial, a partir do urânio, exige um reactor nuclear.