Bielorrússia, Lukachenko e fraude eleitoral: o mesmo do costume

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Lukachenko é Presidente da Bielorrússia há 18 anos. SERGEI SUPINSKY/AFP

Novas eleições legislativas na Bielorrússia, novas denúncias de fraude eleitoral. Não é novidade, é facto, e os observadores garantem que entre todos os processos eleitorais que Lukachenko venceu, apenas um não foi fraudulento: aquele que o tornou presidente, em 1994.

Em Lida, no oeste da Bielorrússia, perto da fronteira com a Lituânia, uma observadora do processo eleitoral de domingo abandonou o seu posto para fumar um cigarro. Tinha registado até então 850 votos. Volta, dez minutos mais tarde, e repara que nesse período, registou-se um total de 156 votos.

E em Brest, também no oeste, mas na fronteira com a Polónia, um idoso viúvo conta a um observador que viu o nome da sua mulher, morta há já sete anos, na lista de eleitores. Também em Brest, 16 pessoas pediram para votarem por correspondência, por não poderem estar presentes no processo eleitoral. No final de contas, contam observadores, foram 100 os votos por correspondência inseridos na urna.

Na capital bielorrussa, Minsk, Siarhei Bakhun foi expulsa de uma escola onde decorria o processo eleitoral por ter fotografado uma cabine eleitoral vazia, para ilustrar a fraca participação dos eleitores nas eleições de domingo, conforme reivindicado pela oposição e activistas pelo boicote eleitoral, e negado pelas autoridades, que apontam para 74% de participação.

Também em Minsk, cerca de 20 observadores eleitorais do projecto “Observação eleitoral: Teoria e Prática” foram resgatados de uma pousada da juventude, o Jazz Hostel, e foram detidos durante horas. Segundo Valiantsin Stefanovich, em declarações ao site charter.97.org, estas detenções foram feitas com o objectivo de “intimidar” os observadores, fazendo com que “nunca mais queiram ir à Bielorrússia observar eleições”.

Vitória esmagadora e fraudulenta

O líder da missão da Organização para Segurança e Cooperação Europeia (OSCE) na Bielorrússia, Mateo Mecacci avança que “as eleições não foram justas desde o início”. Isto porque, nas palavras do italiano, “eleições livres dependem da possibilidade de as pessoas poderem falar livremente e de poderem candidatar-se ao Parlamento, de se organizarem – coisa que não vimos nesta campanha”.

Dos 110 assentos parlamentares escrutinados no domingo, todos foram atribuídos a partidos favoráveis a Lukachenko. Nem um deputado da oposição foi eleito.

Lukachenko é Presidente da Bielorrússia há 18 anos, valendo-lhe o título de “o último ditador da Europa”. O único processo eleitoral legítimo terá sido apenas o primeiro, em 1994, quando foi eleito Presidente da Bielorrússia.

Com um discurso fluído, populista e nostálgico em relação à União Soviética (URSS), Lukachenko passou a ser visto como um homem que entendia o povo, que entendia as suas privações e que estava empenhado em ajudar aqueles que empobreceram abruptamente com o fim da URSS. Entretanto, houve mais três eleições presidenciais, quatro eleições parlamentares (a última foi no domingo) e três referendos; todos com sinais de fraude eleitoral.

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