Líder do Hezbollah avisa que raiva contra o filme que chocou os muçulmanos não é passageira

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No Paquistão, onde os protestos fizeram mais dois mortos, o acesso ao YouTube já foi bloqueado S. S. Mirza/AFP

Para Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah libanês, The Innocence of Muslims é o maior insulto de sempre aos muçulmanos. Pior do que as caricaturas do profeta Maomé, pior do que os Versículos Satânicos de Salman Rushdie. Disse-o num apelo ao protesto nos dias que aí vêm — e muitos concordarão com ele, a julgar pelas proporções que a indignação com o filme está a tomar pelo mundo muçulmano. Depois de dois dias de relativa calma, a violência voltou esta segunda-feira a tomar conta dos protestos contra os 13 minutos de mau cinema publicados no YouTube.

No Paquistão, onde os confrontos entre a polícia e os manifestantes levaram à morte de duas pessoas, o primeiro-ministro, Raja Pervez Ashraf, acabou por ordenar a suspensão do acesso ao YouTube. Para que mais ninguém pudesse ver aquele vídeo “blasfemo”. Ao todo, os protestos que começaram na passada terça-feira, já fizeram 18 mortos.

O que enfureceu os islamistas que têm liderado as manifestações foi o filme, mas os Estados Unidos (onde foi produzido, por um copta egípcio) tornaram-se no alvo óbvio. Hassan Nasrallah, que esta segunda-feira saiu à rua nos subúrbios de Beirute, num protesto de milhares que ele próprio convocara na véspera, avisou Washington de que o filme poderá ter consequências bem mais graves do que aquilo a que se assistiu nos últimos dias. “A América tem de perceber que pôr o filme todo cá fora vai ter consequências muito graves por todo o mundo.”

Numa rara aparição em público desde a guerra contra Israel de 2006, líder o Hezbollah exigiu que os sites em que os excertos do filme estão disponíveis sejam bloqueados e que os insultos a qualquer religião ou profeta sejam criminalizados internacionalmente. “O mundo deve saber que a nossa raiva não é passageira, é o início de um movimento sério que vai continuar para defender o Profeta de Deus.” Perante ele, a multidão gritava “América, escuta-nos, não insultes o nosso profeta!”

Vários analistas ouvidos pela AFP explicam o que tem acontecido nos últimos dias com aquilo que dizem ser uma falta de liderança de Barack Obama no Médio Oriente, nomeadamente na questão israelo-palestiniana, e argumentam que esta crise não se resolverá sem uma intervenção firme do Presidente americano.

O dia ficou também marcado por ter sido o primeiro de violência no Afeganistão. A polícia decidiu não reagir, mesmo quando homens armados dispararam entre a multidão, em Cabul. Dezenas de polícias ficaram feridos, atingidos por pedras e objectos arremessados pelos manifestantes. Os incidentes desta segunda-feira Tailândia, maioritariamente budista mas com 1,2 milhões de muçulmanos, levaram os EUA a anunciar o encerramento do seu consulado.

As demonstrações de raiva contra o filme que ridiculariza Maomé já chegaram a países em que o islão é uma religião minoritária. E se uns tentam acalmar os ânimos, outros fazem o contrário. Como um grupo de extrema-direita islamofóbico alemão, que que quer exibir o filme em Berlim. “É uma questão de arte e de liberdade de expressão”, disse Manfred Rouhs, o chefe do Pro Deutschland, à Der Spiegel. As autoridades disseram que recorrerão a todos os meios legais para os impedir de exibir a totalidade do filme. Que nem se sabe se existe.

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