Um hotel construído com terra

O empreendimento Parque Alqueva, para além do campo de golfe, tem um projecto concluído e licenciado para a construção de um hotel com capacidade para 80 quartos.

Quando se esperaria ver um dia um bloco de betão a agredir a paisagem envolvente, afinal o promotor tinha uma proposta diferente: não haveria construção em altura e muito menos em betão, mas apenas casas térreas construídas em taipa, com paredes de 60 centímetros de espessura e telhados, também de terra, cobertos de arbustos e arrelvados. Evitar o consumo de energia no ar condicionado era o objectivo, mas a legislação em vigor para os empreendimentos turísticos não o permitiu. "Queríamos ver aprovado o que já estava provado ao longo dos séculos", sustenta a empresa que pretendia garantir consumar em Portugal "o primeiro projecto carbono zero da Europa".

E a tarefa começou logo que as máquinas entraram na Herdade de Roncão d"el-Rei. Nem um só metro de terra recolhido durante o processo de decapagem para a instalação dos arruamentos saiu da herdade. Foi toda amontoada para construir as paredes do futuro hotel em taipa.

A configuração do casario e dos arruamentos respeita a tradicional aldeia alentejana, está rodeada de vinha, com uma diferença: a rua principal, em vez de encaminhar para uma igreja, aponta para uma adega.

O enquadramento paisagístico, no alto de um maciço de xisto onde o rei D. Carlos instalou uma casa de campo no início do século XX, faculta aos ocupantes do hotel uma panorâmica surpreendente que incide na albufeira de Alqueva, precisamente onde o espelho de água apresenta a sua maior largura, cerca de 10 quilómetros. O projecto prevê a instalação de um ancoradouro. Na outra margem da albufeira está território espanhol.

O promotor propunha-se também fazer o plantio de ervas aromáticas naturais do Alentejo para produzir sabonetes, champôs e perfumes para fornecer as casas de banho do hotel. A transformação dos produtos ocorreria na casa do hortelão do rei D. Carlos.

O projecto contemplava ainda o plantio de árvores de fruto - laranjeiras, limoeiros e figueiras - nos tufos arbóreos e arbustivos em vários trajectos do interior do campo de golfe, de forma a permitir a sua recolha por quem o frequenta.

Para o campo de golfe e arruamentos foi seguido o critério de respeitar as curvas de nível do terreno, evitando os impactos ambientais das terraplenagens.

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