Polícia sul-africana abate mineiros em greve

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A polícia atirou gás lacrimogéneo e disparou sobre os manifestantes durante mais de dois minutos Siphiwe Sibeko/Reuters

As imagens transmitidas pelas estações de televisão mostraram corpos a cair numa poça de sangue. A polícia sul-africana disparou sobre mineiros que estavam em greve na mina de Marikana, no Noroeste do país, e pelo menos 12 pessoas morreram. O Presidente Jacob Zuma ficou “chocado”.

“Contei cinco corpos”, disse um jornalista da televisão privada eNews quando ainda não se tinha percebido bem o que estava a acontecer. Pouco depois a Reuters referiu 12 mortes, o Guardian 18, vários jornais falaram num massacre.

Naquela mina, a cerca de 100 quilómetros de Joanesburgo, o que aconteceu trouxe à memória os dias mais sangrentos vividos na África do Sul. Uma testemunha, Molaole Montsho, da agência de notícias sul-africana Sapa, disse à BBC que primeiro a polícia usou gás lacrimogéneo para dispersar os mineiros e depois começou a disparar.

Alguns líderes sindicais procuraram dispersar os mineiros, durante os confrontos foram atirados cocktails molotov e granadas. Alguns relatos referem que um grupo de mineiros tentou passar para lá da barreira policial. “A polícia ameaçou-os com canhões de água, atirou gás lacrimogéneo e granadas”, adiantou Montsho. Depois houve disparos. “Ouviram-se tiros durante mais de dois minutos”.

O jornalista da Sapa contou 18 corpos no chão, não sabia quantos estavam vivos ou mortos. A tensão já tinha subido de tom na passada sexta-feira, quando cerca de 3000 mineiros iniciaram um protesto contra as suas condições salariais.

Os mineiros estavam armados com paus e alguns teriam também armas de fogo, segundo a AFP. O porta-voz do Sindicato Nacional de Mineiros da África do Sul (NUM, em inglês), Lesiba Seshoka, disse à eNews que o presidente de um outro pequeno sindicato que convocara a greve, a Associação de Mineiros e Trabalhadores da Construção (AMCU), tinha feito um apelo para que os mineiros voltassem ao trabalho, mas em vão. “Disseram-lhe que estavam dispostos a morrer”.

Centenas de mineiros mantiveram o protesto para pedir um salário de cerca de 12.500 rands, cerca do triplo do que ganham actualmente, adiantou a AFP. Logo na sexta-feira, cerca de 3000 abandonaram o seu posto de trabalho para uma greve que a Lonmin, a empresa proprietária da mina, considerou ilegal. No dia seguinte, alguns dos mineiros que tentaram regressar ao trabalho foram atacados, segundo fontes da Lonmin e do sindicato Num. Nos confrontos entre mineiros ligados a este sindicato e ao AMCU, nascido de um grupo dissidente do primeiro, resultaram pelo menos dez mortos ainda no início dos protestos.

No domingo foram mortos dois guardas, e na segunda-feira os confrontos resultaram na morte de dois trabalhadores e dois polícias. Até que, nesta quinta-feira, várias centenas de homens, armados com barras de ferro ou catanas, voltaram a juntar-se no exterior da mina para pedir um aumento significativo do seu salário, que ronda os 4000 rands (400 euros), e a polícia disparou sobre os manifestantes com armas automáticas.

“Somos explorados, nem o Governo nem os sindicatos nos ajudam”, disse um dos mineiros, Thuso Masakeng. “As empresas mineiras fazem dinheiro à custa do nosso trabalho e não nos pagam quase nada”.

O Presidente Jacob Zuma disse ter ficado “chocado” com o que aconteceu naquela que é a terceira maior mina de platina do mundo. “Já dei instruções às autoridades para que façam tudo o que for possível para controlar a situação e responsabilizar os autores da violência”, adiantou. Um analista político especialista em questões sul-africanas, Nic Borain, sublinhou em declarações à Reuters que "não há memória de confrontos entre manifestantes e polícia tão violentos desde 1994”, o ano em que chegou ao fim o regime de segregação racial na África do Sul.

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