Indústria não aproveita as ideias de cientistas lusos

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A Fundação da Juventude promove desde 1992 o Concurso para Jovens Cientistas e Investigadores Nuno Oliveira/Arquivo

Os concursos de jovens cientistas, do ensino secundário, apresentam projectos com ideias e produtos interessantes, mas sem aproveitamento pelas empresas ou instituições de investigação portuguesas, como acontece no estrangeiro, lamentou a directora geral da Fundação da Juventude.

“Há descobertas que, depois de trabalhadas pelo sector industrial ou por um sector de investigação mais desenvolvido, podem dar novos produtos e novos negócios”, mas Portugal “não tem essa prática”, disse à Lusa Maria Geraldes.

A Fundação da Juventude promove desde 1992 o Concurso para Jovens Cientistas e Investigadores, uma iniciativa que já envolveu centenas de alunos entre os 15 e 20 anos com o objectivo de “sensibilizar e motivar os jovens para a investigação e ciência” em praticamente todas as disciplinas, das ciências sociais às exactas.

A última edição recebeu 150 projectos candidatos. Destes, 100 foram à Mostra Nacional de Ciência, envolvendo um total de 300 jovens. A 21.ª edição vai ser lançada em Setembro.

Além da estarem na exposição dos trabalhos, os jovens premiados participam em iniciativas internacionais, como a final europeia deste concurso, que em 2013 será na república Checa, e na Semana Internacional sobre Animais Selvagens, nos Alpes, na Suíça, em Julho do próximo ano, ou na feira Internacional de Ciência e Engenharia, nos EUA.

E é a sua experiência nestas iniciativas que leva a directora-geral da Fundação da Juventude a apontar a pouca importância que as empresas e instituições de investigação portuguesas dão ao trabalho destes jovens, alguns futuros cientistas.

“Há muito pouco hábito [de visitar as exposições de jovens cientistas], é muito pouco prática em Portugal, o que é uma pena e um desperdício”, frisou.

Maria Geraldes pretende mesmo alterar este estado de coisas e insiste na apresentação de trabalhos que não sejam “exclusivamente académicos, que sejam projectos com aplicação prática”. “Gostamos que a mostra seja visitada também por pequenas empresas e por pessoas da área das patentes e dos novos produtos” pois “há um potencial de sinalização de jovens talentos que teria de ser mais aproveitado”, disse.

Aliás, “há descobertas que, depois de trabalhadas pelo sector industrial, ou por um sector de investigação mais desenvolvido, podem dar novos produtos e novos negócios”, realçou a directora geral da Fundação.

E não deixa de transmitir que alguns dos trabalhos distinguidos no concurso são publicados em revistas científicas de referência.

A sua insistência parece estar a dar algum resultado. “Este ano já tivemos visitas de algumas empresas e institutos seniores de investigação, mas estamos muito aquém” do que se passa em outros países.

Grande parte dos trabalhos que concorrem são desenvolvidos em contexto escolar, orientados por professores, por isso “um dos sucessos do projecto tem a ver com a relação de proximidade que tem com as escolas, os professores e muitos dos alunos”, referiu Maria Geraldes.

A participação não é só o desenvolvimento do projecto científico, é a troca de experiências com outros “aspirantes a cientistas” e a aprendizagem de competências valorizadas no mercado de trabalho, como o trabalho de equipa ou a apresentação da investigação.

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