Afinal, onde está a matéria escura que devia andar à volta do Sol?

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Visão artística da Via Láctea com o halo de matéria escura à volta, que agora não foi afinal detectado ESO/L. Calçada

A equipa liderada por Christian Moni Bidin, da Universidade de Concepción, no Chile, estudou o movimento de mais de 400 estrelas, para tentar detectar a matéria escura através dos seus efeitos nelas, com um telescópio instalado no Observatório de La Silla, no Chile. Recorrendo ainda a outros telescópios, estas observações são as mais rigorosas feitas até agora sobre os movimentos das estrelas na nossa galáxia, a Via Láctea, em busca da matéria escura, refere um comunicado do Observatório Europeu do Sul (ESO), organização europeia de astronomia (Portugal é um dos membros), que tem o observatório de La Silla.

A partir das observações, a equipa de cientistas do Chile, que publicará os resultados na revista The Astrophysical Journal, calculou a quantidade de toda a matéria na vizinhança do Sol.

É que os movimentos das estrelas resultam da atracção gravitacional da matéria entre si — seja a matéria convencional, que vemos nas estrelas e de que somos feitos e que representa uma parte muito pequena do Universo; seja a misteriosa matéria escura, que não emite luz, quase não interage com a matéria normal e apenas se deduz que existe pelos efeitos gravíticos na rotação das galáxias.

Este constituinte invisível do Universo foi proposto para explicar por que é que as zonas periféricas das galáxias, incluindo a Via Láctea, rodavam tão rapidamente, explica ainda o comunicado do ESO. E esses modelos sugerem também que a Via Láctea está rodeada por um halo de matéria escura. Embora não consigam prever a forma desse disco de matéria invisível em torno da Via Láctea, as teorias prevêem grandes quantidades de matéria escura à volta do Sol.

Só que todas as tentativas de detectar esta matéria e de descobrir de que é feita têm falhado, pelo que a sua natureza, como o nome indica, mantém-se obscura. Estas últimas observações não são excepção neste aspecto, o que contradiz os modelos e obriga a olhar para novas hipóteses.

“A quantidade de massa que calculámos coincide muito bem com o que vemos — estrelas, poeira e gás — na região em torno do Sol. O que não deixa lugar para matéria adicional — a matéria escura — que esperávamos encontrar”, diz Christian Moni Bidin, citado no comunicado. “Os nossos cálculos mostram que a matéria escura deveria ter aparecido muito claramente nas medições. Mas afinal não está lá”, refere.

“Apesar destes resultados, a Via Láctea roda muito mais rapidamente do que o que pode ser justificado pela matéria visível. Por isso, se a matéria escura não está onde se esperava, temos de procurar uma solução para o problema da massa que falta. O mistério da matéria escura tornou-se agora ainda mais misterioso.”

Ficamos agora à espera das próximas cenas deste thriller cosmológico, que talvez tenham desenvolvimentos quando, em 2013, for para o espaço a missão Gaia, da Agência Espacial Europeia, que irá fazer o censo pormenorizado de mil milhões de estrelas da Via Láctea.

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