Teste à sobrevivência da moeda única faz-se nos próximos três meses

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Mario Monti (ao centro) tem um trimestre duro pela frente Foto: Giampiero Sposito/Reuters

No mesmo dia em que passaram dez anos desde a entrada em circulação das notas e moedas de euro, os países da moeda única iniciaram ontem três meses decisivos para a resolução da crise mais grave que já tiveram de enfrentar.

Será durante o primeiro trimestre do ano que se vai poder ficar a saber se as decisões tomadas pelos líderes europeus na última cimeira realizada em Bruxelas são suficientes para resolver os problemas de financiamento de vários Estados da zona euro e se é possível, com esta estratégia, aliviar a tensão que se vive no sistema financeiro. E porquê? Porque é durante este período de tempo que países como a Itália e a Espanha vão ser sujeitos aos testes mais duros nos mercados, realizando emissões de dívida pública numa escala até aqui nunca antes vista.

Se estes Estados demonstrarem que conseguem encontrar investidores em número suficiente para lhes emprestarem dinheiro a taxas de juro sustentáveis a prazo, a zona euro dará um passo importante para travar o alastramento da crise soberana, que já forçou Grécia, Irlanda e Portugal a recorrerem a ajuda financeira externa. Se não o conseguirem, a crise entra numa nova fase, em que os líderes europeus - provavelmente numa nova cimeira classificada como decisiva - têm de ir mais além na tentativa de encontrar uma solução para apoiar países com a dimensão da Itália e da Espanha.

A Itália lidera, nesta fase, as preocupações, especialmente devido à quantidade de dívida pública que tem de amortizar e renovar durante os próximos três meses. De acordo com os cálculos do banco Dexia, as amortizações de dívida que o Estado italiano tem de realizar durante o ano de 2012 ascendem a 211 mil milhões de euros, mais 44 mil milhões do que no ano passado. E apenas durante o primeiro trimestre do ano terão de ser renovados 64 mil milhões de euros de financiamento.

Isto faz com que a Itália, que há apenas poucas semanas tem um novo Governo formado a aplicar uma nova política orçamental, não tenha praticamente tempo para recuperar a confiança dos mercados, que foi sendo perdida ao longo de 2011, à medida que a crise soberana da zona euro alargava os seus pontos de contágio.

Exemplos positivos

Durante a semana passada, já foi possível ter uma ideia da forma como os mercados estão neste momento a encarar esta avalancha de novas emissões de dívida italianas. Roma fez, na quarta-feira, uma emissão de curto prazo (a seis meses) e na quinta duras emissões (uma delas a dez anos). A resposta foi muito positiva nos títulos de curto prazo, com as taxas de juro exigidas a baixarem para metade face ao que tinha acontecido um mês antes. No entanto, quando o Tesouro italiano pediu aos investidores para emprestarem dinheiro por um prazo mais longo, a resposta voltou a ser desconfiada. Na emissão a 10 anos, a taxa de juro acabou por ficar perto dos 7%, um nível considerado insustentável para um país em que a dívida pública supera dos 120% do PIB.

O facto de a Itália apenas estar confortável em emissões de dívida a curto prazo é preocupante, tendo em conta que a maior parte das operações a fazer durante este ano é referente a maturidades mais longas.

Não é por isso de estranhar que Mario Monti, o primeiro-ministro italiano, tenha voltado, no final da semana passada, a fazer um apelo para que a zona euro tenha rapidamente operacionais os mecanismos de apoio financeiro reforçados decididos na última cimeira. "Os leilões correram bastante bem, o que é encorajante, mas a turbulência financeira não está de modo algum acabada", afirmou, reiterando que "muito trabalho tem de ser feito a partir de agora e tem de ser feito na Europa, acima de tudo".

E a verdade é que, se a Itália se mantém no centro das atenções, a pressão da dívida soberana faz-se sentir um pouco por toda a zona euro. No total da zona euro - e assumindo que Grécia, Irlanda e Portugal apenas irão recorrer ao mercado numa escala muito pequena -, as amortizações de dívida pública que vão ter de ser feitas em 2012 ultrapassam os 600 mil milhões de euros, segundo cálculos do Dexia, quando em 2011, se ficaram pelos 520 mil milhões.

Numa conjuntura em que existe o risco de reentrada da economia europeia em recessão, em que os bancos do Velho Continente enfrentam desafios de liquidez e de capitalização muito difíceis e em que os mercados continuam a revelar um grande nervosismo, garantir que os Estados asseguram sem problemas todo este financiamento será, sem dúvida, uma tarefa perigosa. E, por isso, o futuro do euro joga-se no ano que agora começa e, em particular, logo nos seus primeiros meses.

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