Toyota, uma marca que é sinónimo de promessa cumprida em Portugal

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Nelson Garrido

Quando entrou no mercado português em 1968, há 40 anos, a mais conhecida marca nipónica de automóveis apresentou-se com a assinatura "Toyota veio para ficar". E nem demorou cinco anos a afirmar aos portugueses: "E ficou mesmo." Artigo publicado originalmente a 24 de Fevereiro de 2008

O feito não espanta, se nos lembrarmos que, depois de ter começado por vender 180 unidades no primeiro ano, atingiu, logo no início da década de 70, uma quota de 11 por cento do mercado nacional. Uma posição que a Toyota volta a procurar (tem oito por cento actualmente), depois de quatro décadas recheadas de grandes sucessos, como a adesão às sucessivas gerações do Corolla, e de muitas vicissitudes, como a legislação restritiva que, até 2000, limitou as importações desta marca fundada em 1937 e presente na Europa desde 1963.

Houve muitos slogans pelo caminho, mas a actual assinatura da marca, Today, Tomorrow, Toyota, aponta para esses tempos iniciais de formação de uma das mais duradouras parcerias com uma empresa estrangeira em Portugal. A Toyota e a Salvador Caetano (SC) são indissociáveis, e foi graças ao dinamismo do empresário que importa os seus carros desde o primeiro momento que os japoneses aceitaram o desafio de abrir em Ovar a primeira fábrica europeia da marca, em 1971.

Longe da pujança de outros tempos, em que além dos comerciais chegou a produzir vários modelos de ligeiros, a unidade é hoje o centro de produção da famosa Toyota Dyna na Europa, e os japoneses mantêm os mesmos 27 por cento do capital da fábrica. Outros ter-se-iam ido embora.

Algumas marcas deixam mesmo de montar veículos no nosso país. Mas o vice-presidente da Toyota Caetano Portugal, José Ramos, diz que não se recorda e está na administração da SC desde 1975 de alguma vez ter ouvido sequer uma ameaça. "Não está no espírito Toyota." Nem sequer quando sucessivas restrições legislativas, algumas para "proteger o projecto da Renault" em Portugal, nota Ramos, impuseram quotas à importação de veículos, atirando a Toyota para uma fatia quase insignificante do mercado. Para dar a volta a este período difícil, a fábrica de Ovar passou a produzir apenas comerciais, abastecendo as necessidades do mercado português chegou a ter 22 por cento da quota no segmento e, por via de um prémio à exportação, alargando um pouco a quota que a Salvador Caetano utilizava nos ligeiros.

A situação viria a piorar em 1987, quando as restrições foram levantadas para as marcas europeias, que aproveitaram para crescer, mas se mantiveram para as asiáticas. Foram tempos em que a necessidade aguçou o engenho, e se produziram em Portugal Land Cruisers com motor italiano, para vender essencialmente nos mercados de Itália e de Espanha, recorda José Ramos. Neste contexto restritivo, a dupla SC e Toyota conseguiu ainda assim passar dos 2,8 para os 4,8 por cento do mercado. Os entraves à livre concorrência só terminariam em 2000, e desde então, com excepção de 2004, vinca o administrador, as vendas da Toyota superaram sempre as taxas de crescimento do mercado automóvel nacional, tendo a marca chegado aos 6,6 por cento de quota no ano passado.

Relações estáveis

A estabilidade das relações é uma constante na história daquela que é considerada a sexta marca mais valiosa do mundo.

Seja entre a Toyota e a Salvador Caetano: num sector em que várias marcas têm vindo a separar-se dos seus importadores tradicionais, no ano passado foi criada a Toyota Caetano Portugal, unidade do grupo SC que gere, com maior visibilidade para os japoneses, todo o negócio do ramo automóvel; seja entre a SC e os parceiros e clientes: José Ramos recorda a aquisição de várias firmas concessionárias em dificuldades económicas; seja entre os clientes e os seus carros: em Portugal, como no mundo, são muitos os toyotistas de longa data, e Ramos conta até o caso de um proprietário que lhe apareceu a exigir garantia para um carro com 500 mil quilómetros.

Manter o que é velho

A fiabilidade é um dos atributos de sempre desta marca que, tendo vendido 500 mil veículos desde que chegou a Portugal, estima ter em circulação 270 mil. Se contabilizarmos que, na última década, não se venderam cem mil Toyotas, dá para perceber que os proprietários não estão muito interessados em abater os seus carros, por velhos que estejam a ficar.

Domingos Casimiro só já não tem a sua carrinha Corolla 1200 cc porque um cunhado a destruiu num acidente de viação, em 1988. O carro tinha já 18 anos, mas chegava para as curvas "e que mau viver lhe tinha dado, com a participação em vários ralis", recorda este famalicense desde sempre ligado às competições automóveis de modo que, com um milhão de quilómetros no contador, ainda levou a mulher e a mãe numa viagem a Colónia, na Alemanha, apesar dos avisos de um amigo que, tendo oferecido ao aventureiro uma viatura quase nova de uma outra marca, acabou por vêla avariar-se, semanas depois, numa viagem bem mais curta, até Saragoça, em Espanha.

A história da Toyota faz-se destas histórias. E para a história da marca em Portugal fica também o rosto de Nani Fernando Pereira, de baptismo o primeiro a conduzir um carro oficial da Toyota em provas portuguesas, em 1970. Com ele, o ex-piloto de motocrosse que se estreava nos carros conseguiu chegar ao segundo lugar no Campeonato Nacional de Iniciados, tendo perdido a hipótese de chegar à liderança na última prova por causa da neve.

Nani recorda-se bem desse Corona Mark II 1900, algo "violento" e nada fácil de controlar, espécie de símbolo de uma marca que o tempo, com as suas vicissitudes, não conseguiu parar.

E ela ainda aí está, para o provar.

Números

500.000 veículos foram vendidos pela Toyota em 40 anos de presença em Portugal, sendo que quase 181 mil foram carros das várias gerações do Corolla.


2500 pessoas trabalham nas várias áreas de negócio da Toyota Caetano Portugal, a empresa que, assim designada desde 2007, representa a Toyota em Portugal.

1000 veículos híbridos, o Prius, é quanto a Toyota espera ter conseguido vender até Abril, e em termos acumulados, no nosso país.

Presença em Portugal

A marca Toyota estreou-se em Portugal, há 40 anos, com o modelo Corolla, um modelo que é um caso sério de longevidade já vai em dez gerações e vendeu quase 200 mil veículos em Portugal; ainda hoje continua a ser responsável por uma grande parte da notoriedade da marca. Uma consulta às estatísticas da Auto-Informa, a subsidiária da Associação Automóvel de Portugal que tem registado o número de automóveis vendidos no nosso pais desde 1987, permite verificar qual foi o percurso da marca japonesa face a outros fabricantes, europeus e americanos, que sempre tiveram em Portugal muita aceitação.

As estatísticas dos veículos ligeiros vendidos em Portugal nos últimos 20 anos revelam uma Toyota muito longe das cifras alcançadas pela Renault e pela Opel: a Toyota vendeu uma média de oito mil carros por ano, a Renault vendeu quase 32.500 e a Opel mais de 28 mil. Mas essas estatísticas também demonstram que a Toyota é a marca que apresenta menos oscilações, e sempre uma trajectória de crescimento (excepção feita a uma pequena interrupção, em 2004): em 1988 a Toyota vendeu 5701 veículos ligeiros de passageiros (diesel e gasolina), e em 2007 vendeu mais de 12 mil. Inversamente, outros construtores viram as suas vendas reduzidas a metade (em vinte anos, e na mesma categoria de veículos, a Renault passou da venda de 47.647 automóveis para 24.358) ou reduzidas a um quarto (caso da Fiat, que passou dos 29.496 veículos vendidos em 1988 para os 6865 vendidos em 2007).

Apesar da trajectória de resistência e perseverança que a Toyota alcançou nos veículos ligeiros de passageiros, não é, porém, neste segmento que se lhe deve atribuir a sua melhor performance: é antes nos comerciais ligeiros, onde a marca japonesa atinge o pódio, atrás da Renault e da Ford. Um honroso terceiro lugar no top de vendas, e que significa mais de duzentos mil veículos vendidos. Voltando às estatísticas da Auto-Informa, e aos dados das vendas que foram feitas entre 1970 e 2005, os modelos da Renault venderam 241.468 veículos, os da Ford 235.576 unidades, e os da Toyota 222.734 veículos.

Esta análise às estatísticas não poderia ficar completa sem uma incursão ao segmento dos todo-o-terreno, ou não fosse, também, a Toyota a autoproclamada responsável pela introdução do conceito de Sport Utility Vehicle (SUV) em Portugal. As marcas, modelos e motorizações são muitas, mas há um segmento que é liderado pela Toyota: o Land Cruiser foi o jipe que mais vendeu na categoria 2500-3500 quilos, ultrapassando os também populares Nissan Terrano e Patrol. O campeão de vendas foi o Suzuki Vitara, com mais de 15 mil unidades vendidas.

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