Cargueiro Kepler é lançado hoje para alimentar e dar "empurrão" à Estação Espacial

Foto
O Kepler demora oito dias até chegar à ISS ESA

O cargueiro espacial não tripulado Johannes Kepler, construído pela Agência Espacial Europeia (ESA), vai ser lançado esta noite, depois do cancelamento do voo durante a noite de ontem. O veículo vai transportar carga e empurrar a Estação Espacial Internacional (ISS) para maiores altitudes.

O foguetão europeu Ariane 5 vai lançar o Kepler às 21h50 (hora de Lisboa) da base espacial de Kourou, que pertence à ESA e fica na Guiana Francesa, no Nordeste da América do Sul. O lançamento esteve previsto para ontem às 22h13 mas foi cancelado durante a contagem decrescente, devido a um aviso vermelho de um dos componentes do sistema de combustível. No site da ESA pode-se assistir em directo ao lançamento de hoje.

O veículo tem o nome do famoso astrónomo Johannes Kepler, que viveu durante o século XVI e XVII, e foi responsável pela descoberta das leis que regem as órbitas dos planetas. O cargueiro sucede ao Júlio Verne, que foi o primeiro Veículo de Transferência Automática a ser lançado para este fim, em 2008.

O Kepler tem 9,7 metros de comprimento, 4,48 metros de altura e pesa 20 toneladas. Uma vez no espaço irá accionar quatro sistemas de painéis solares que vão alimentar o sistema eléctrico.

O cargueiro irá acoplar-se à ISS e vai corrigir a órbita da estação que, devido ao atrito da atmosfera terrestre, tem vindo a perder altitude gradualmente, apesar de estar a 350 quilómetros de altitude. O veículo leva consigo 4534 quilos de combustível para propulsionar a ISS para a altitude correcta e, caso seja necessário, desviá-la de zonas com muito entulho espacial.

Além disso, o Veículo de Transferência Automática (ATV) transportará também 1600 quilos de material para a estação, 850 quilos de combustível para o sistema de propulsão do módulo russo Zvezda e cem quilos de oxigénio.

Desta vez, a ISS não vai precisar de receber água potável nova. Mas vai carregar os tanques de água do Kepler com detritos líquidos produzidos na estação. O espaço livre do veículo vai ainda receber o lixo sólido e o hardware que já não é necessário.

Antena açoriana de olho no Kepler

O cargueiro espacial lançado pelo foguetão europeu Ariane 5 vai em direcção a nordeste e passa a 130 quilómetros de altitude dos Açores. A estação açoriana construída na Ilha de Santa Maria vai monitorizar a viagem do foguetão durante oito minutos.

A estação faz parte do Estrack da ESA, um sistema espacial europeu que segue estas missões. A antena da estação detecta por telemetria o estado do sistema de propulsão, a orientação e a navegação do Ariane 5.

O foguetão e o cargueiro darão mais uma volta à Terra. Quando o Kepler passar uma segunda vez por cima da estação de Santa Maria, a 250 quilómetros de altitude, já terá desacoplado do Ariane 5, que irá afundar-se no oceano Pacífico.

O Kepler continuará em direcção à ISS. Ao todo, vai demorar oito dias até chegar à estação.

“O ATV carrega um sistema de navegação de grande precisão, um software de voo altamente redundante e um sistema completamente autónomo para evitar colisões com um sistema independente de fornecimento de energia, controlo e propulsores”, explica o comunicado de imprensa da ESA.

O ATV ficará ligado à ISS até Junho. Depois de receber todo o lixo, vai ser desprendido e será comandado para se afundar no Pacífico.

Este é o segundo dos cinco Veículos de Transferência Automática com que a ESA vai alimentar a ISS até 2016. Foi esta a forma de a agência contribuir para o projecto da estação internacional em vez de financiar directamente a sua manutenção. Desta forma, pode colocar astronautas europeus a trabalhar lá.

Entretanto, o prazo de vida da estação foi prolongado até 2020. Ainda está por decidir como é que a Europa vai continuar a contribuir para este projecto. As limitações financeiras dos 18 países que fazem parte da ESA são uma dificuldade. “As limitações de orçamento são tremendas como se sabe, mas penso que mais fundamental será a Europa construir uma estratégia consistente para a exploração [do espaço]”, disse à BBC News François Auque, chefe da Astrium, a empresa que construiu o cargueiro. “Acho que a visão da Europa sobre a exploração ainda não está madura o suficiente para produzir linhas de desenvolvimento.”

Sugerir correcção
Comentar