Sociedade de Medicina de Reprodução defende estrutura para preservação da fertilidade feminina

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Calcula-se que cerca de 20 por cento da população total tenha algum tipo de infertilidade Foto: Carla Carvalho Tomás/arquivo

O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina de Reprodução (SPMR) defendeu a criação em Portugal de uma estrutura para preservação da fertilidade de mulheres que têm doenças graves e cujo tratamento vai destruir células reprodutivas.

“Como preservar a capacidade reprodutiva quando esta é posta em causa?” é um dos temas IV Congresso Português de Medicina da Reprodução, organizado pela SPMR, que decorre entre hoje e sexta-feira no Centro de Congressos de Lisboa.

Para a SPMR, “o cerne da questão reside em desenvolver mais e melhores técnicas de preservação das células reprodutoras quando, por exemplo, uma pessoa passa pela infelicidade de ter uma doença grave, eventualmente maligna, cujo tratamento compromete o seu futuro reprodutor”. O presidente da SPMR comentou que este ainda “é um tema que não é levado a sério na sociedade. Há esforços muito bem-intencionados e com a sua utilidade local, mas que não são integrados, não têm uma estrutura estável e dedicada a este tipo de tema”.

Calhaz Jorge explicou que “o problema a nível de estruturação e de concepção põe-se a nível feminino. As células femininas já são congeláveis, mas ainda num regime que não é considerado estabilizado. Nós estamos a pensar no congelar de forma a serem utilizáveis no futuro”. Para o especialista, é necessário haver “uma estrutura, que está prevista e programada, para responder a curtíssimo prazo” a estas pessoas. “Têm de criar-se essas estruturas, que não existem no país, de forma global e coerente”, sustentou.

Calcula-se que cerca de 20 por cento da população total tenha algum tipo de infertilidade. Questionado sobre se os casos de infertilidade estão a crescer, Calhaz Jorge afirmou que “isso não é claro, apesar de ser dito muitas vezes”. “É um problema que tem um aumento significativo da visibilidade social, que poderá ter cada vez mais procura de cuidados médicos para auxiliar a resolução, mas a única lógica para podermos pensar num aumento será a organização de vida em que os casais pretendem ter os filhos depois de uma fase longa de estabilização”, justificou.

Calhaz Jorge frisou que “a idade das mulheres é um dos factores de prognóstico mais importante. Portanto, não é a infertilidade como doença, mas, muitas vezes, a dificuldade em engravidar, porque começa a haver alguns circuitos [reprodutivos] que têm uma rentabilidade menor”. Segundo a SPMR, a procura de cuidados de saúde nesta área tem vindo a aumentar devido ainda a outras causas como o início de uma vida sexual precoce e com múltiplos parceiros (problemas de infecções sexualmente transmitidas) e estilos de vida não saudáveis como o sedentarismo, os hábitos alimentares, álcool e tabaco.

Outro problema que pode estar ligado à infertilidade é a endometriose, um distúrbio orgânico, que se estima afectar cerca de 10 a 15 por cento das mulheres e que se caracteriza por fortes dores pélvicas, constituindo uma doença crónica altamente perturbadora da qualidade de vida e contribuindo para importante absentismo laboral.

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