À procura de recursos, a China tenta controlar a Potash

China, matérias-primas e interesses geoestratégicos: estes são os ingredientes ideiais, na actual conjuntura, para um negócio de grandes proporções.

Todos eles estão presentes no tri- ângulo existente entre a canadiana Potash Corp, a anglo-australiana BHP Billiton e a chinesa Sinochem, que, tudo indica, está ainda para durar.

A semana foi marcada por movimentações da gigante asiática para travar o avanço da oferta da BHP sobre a Potash e ainda pelo alargamento do prazo dado pela BHP, consequência do requerimento feito pela Autoridade da Concorrência do Canadá.

No início da semana, o jornal chinês Economic Observer noticiou que a Sinochem pediu formalmente o apoio do Governo de Pequim para as negociações de uma possível proposta de compra da canadiana Potash Corp. O argumento apresentado foi de que esta aquisição é um enorme contributo para a garantia do abastecimento de alimentos no país, onde a procura tem aumentado devido ao excedente populacional. Até 2009, a Sinochem era detida pelo Governo chinês, pelo que os analistas acreditam que o apoio não lhe será negado.

Mas a Sinochem não se ficou pelo Governo e pediu ainda aconselhamento bancário junto do Deutsche Bank e do Citigroup sobre as possibilidades de poder ou não avançar com uma proposta sobre a Potash Corp tendo em conta a sua situação financeira.

No final de 2009, os activos da Sinochem valiam 25 mil milhões de dólares (19 mil milhões de euros ao câmbio actual). Há ainda rumores de que a Sinochem terá também contactado o CIC - China International Corporation, fundo soberano chinês - com o propósito de se tornarem parceiros na eventual proposta.

O facto é que desde a oferta hostil lançada em Agosto pela anglo-australiana BHP, a Sinochem mostrou-se logo preocupada com o negócio, uma vez que "teria impacto no mercado chinês da potassa" e, assim sendo, acompanharia "de perto" todo o de- senvolvimento do processo. Os analistas dizem mesmo que a China é a principal parte interessada no negócio, uma vez que, enquanto maior consumidora de potássio, gostaria de manter os preços baixos da matéria-prima, o que não deverá acontecer ca- so a BHP consiga concluir a oferta, uma vez que, ao fazê-lo, tornar-se-á detentora de cerca de 30 por cento do total de potassa produzida no mundo.

Evitar mercado controlado

A Sinochem nunca se pronunciou sobre as suas reais intenções neste negócio, não se sabendo por isso se em causa está a compra de apenas uma fatia das acções da Potash, num montante suficiente para anular a proposta de 39 mil milhões de dólares (29 mil milhões de euros) da BHP, ou se o objectivo é mesmo a aquisição da totalidade da Potash. Os analistas especulam sobre uma proposta a rondar os 60 mil milhões de dólares (45 mil milhões de euros).

Este pedido de aconselhamento junto dos bancos surgiu após o anúncio por parte da BHP de que iria alargar o prazo de aceitação da oferta até 18 de Novembro, medida que foi consequência do requerimento apresentado pela Autoridade da Concorrência canadiana, onde eram pedidas informações mais precisas acerca do plano da BHP para a Potash.

Numa tentativa de prolongar ainda mais o prazo da oferta, a Potash avançou com uma queixa em tribunal sobre a BHP, alegando que a oferta feita teve por base declarações falsas e enganosas e acusa ainda a BHP de ter violado as leis canadianas de valores imobiliários. Na acção movida pediu ainda que a empresa anglo-australiana fosse proibida de prosseguir com a proposta.

Os analistas encaram estas tentativas de bloqueio da oferta da BHP como uma oportunidade para a chinesa Sinochem avançar com uma proposta sobre a Potash, empresa que sempre se mostrou disponível para ouvir propostas alternativas à da BHP.

A 18 de Agosto, a BHP propôs a compra da totalidade das acções da Potash pelo valor de 130 dólares (97 euros) cada, sendo que no total, o montante seria de 39 mil milhões de dólares. A oferta foi considerada "inadequada" por "sobrevalorizar o valor dos accionistas" e foi recusada pela Potash. Desde então, a Potash tem tentado encontrar soluções "alternativas" à proposta da empresa liderada por Marius Kloppers.

Sugerir correcção
Comentar