Médicos que colaboraram em interrogatórios da CIA podem ser acusados de fazer experiências em humanos

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Manifestação exigindo a libertação dos presos de Guantánamo Fabrizio Bensch/REUTERS

Os médicos e psicólogos que a CIA usou para monitorizarem os interrogatórios a suspeitos terroristas onde se recorreram a técnicas que a ONU e a Cruz Vermelha já consideraram tortura poden ter feito “experiências ilegais com humanos”, afirmou a organização não governamental Médicos pelos Direitos Humanos, que investigou o papel do pessoal médico em Guantánamo, Abu Ghraib, Bagram e outros centros de detenção dos Estados Unidos.

A organização diz que houve profissionais de saúde envolvidos em cada fase do desenvolvimento, concretização e, até, justificação legal, dos métodos usados - e que incluem privação do sono ou simulação de afogamento.

A principal acusação contida no seu último relatório, "Aiding Torture", citado ontem pelo jornal britânico "The Guardian", é que houve médicos a monitorizar a aplicação das técnicas de interrogatório com vista a determinar a sua eficiência - e não para garantir a vigilância da saúde do preso. É esse tipo de envolvimento que “se aproxima de experiências ilegais”, podendo ser considerado isso mesmo, sustentam os Médicos pelos Direitos Humanos.

Já não restavam dúvidas de que médicos ao serviço da CIA tiveram um papel central nos “maus-tratos” a que foram sujeitos alguns detidos - em Abril, um relatório do Comité Internacional da Cruz Vermelha confirmou isso mesmo. O documento, de 2007, mas só divulgado este ano, descrevia que médicos e outros profissionais de saúde tinham participado em interrogatórios em que os agentes usaram métodos que são considerados tortura: sufocação por água”, “espancamento”, “confinamento a uma caixa”, “nudez prolongada”, “espancamento com coleira” ou “permanência em pé prolongada”. Às vezes apenas monitorizando o estado dos presos, outras dando instruções para os interrogatórios continuarem, conselhos para interromper a aplicação de determinado método ou para o seu ajustamento.

A Associação Médica Americana, a maior organização de médicos dos EUA, já disse que está a dialogar com a Administração Obama sobre o papel dos médicos. “A participação de médicos na tortura e nos interrogatórios é uma violação dos seus valores éticos de base”, considera.

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