Teatro S. Carlos volta atrás e decide apresentar a peça "Amor"

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Fonte do Teatro S. Carlos disse que o adiamento do espectáculo para amanhã, dia de encerramento do Festival ao Largo, se ficava a dever a “problemas internos da produção” João Henriques (arquivo)

A peça “Amor”, um espectáculo encenado por Marcos Barbosa a partir de um texto do escritor brasileiro André Sant'Anna, que devia ser apresentado hoje, às 22h, no Largo de S. Carlos, em Lisboa, esteve cancelado durante 20 horas. Programado há um mês e meio por Diogo Infante para o Festival ao Largo – o director do Teatro Nacional D. Maria II fez três escolhas para este festival organizado pela Opart, a entidade que gere o teatro S. Carlos e a Companhia Nacional de Bailado – o espectáculo foi considerado “inadequado” para uma apresentação ao ar livre.

O episódio conta-se em poucas palavras: À uma da manhã de hoje, Pedro Moreira, presidente da Opart, telefonou a Diogo Infante para lhe dizer que a peça que este programara há pelo menos um mês e meio não tinha “o perfil adequado para o festival” e que, por isso, era cancelada. Pouco antes das 20h, Infante recebeu nova chamada, desta vez para o informar de que “Amor” estava de volta, mas que só será apresentado amanhã, à mesma hora (tecnicamente já não é possível apresentar hoje o espectáculo).

Diogo Infante, que se mostrara “surpreendido” com o cancelamento, está agora “feliz” por saber que “há pessoas que têm a capacidade de reconsiderar”, corrigindo um erro.

Entre um telefonema e outro houve muitos e-mails trocados pelo potencial público e até a convocação para uma demonstração de desagrado pela atitude de “censura” da Opart, em que estariam presentes os criadores do espectáculo, diversos artistas e cidadãos.

Fonte do Teatro Nacional de S. Carlos disse apenas que o adiamento do espectáculo para hoje, dia de encerramento do Festival ao Largo, se ficava a dever a “problemas internos da produção”.

Quando informou Infante do cancelamento, Pedro Moreira disse ter havido “um mal-entendido” entre a Opart e o director do D. Maria, que não percebera “ a filosofia do festival” e acabara por programar “um espectáculo que não era para aquele espaço nem para aquele público”. Será que houve novo mal-entendido? Infante prefere congratular-se apenas com o facto de o público voltar a ter à disposição o monólogo de André Sant'Anna (um original de 1998), interpretado por Flávia Gusmão. É um texto “exigente”, “provocador” e tem “momentos agressivos”, admite. “Mas é muito contemporâneo e desafia com inteligência os estereótipos relacionados com a masculinidade e a feminilidade.” Proibir a sua apresentação, diz, era “emitir juízos morais em relação às capacidades do público que tem assistido ao Festival ao Largo”.

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