Familiares acusam "Amália - O Filme" de “deturpar a realidade” e imagem da fadista

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O filme estreia amanhã em 66 salas de cinema portuguesas Pedro Elias (arquivo)

"Amália - O Filme", de Carlos Coelho da Silva, que chega amanhã a 66 salas de cinema portuguesas, tem um argumento que “deturpa grosseiramente a realidade”, declararam hoje, em comunicado, as irmãs e sobrinhos de Amália Rodrigues. Na nota, os familiares pedem “desculpa” pelo filme da VC Filmes, que é a maior estreia de uma produção português em sala.

A família, que tentou impedir a realização e estreia do filme através de uma providência cautelar à qual o tribunal deu parecer negativo, quis desta forma declarar que a obra “não retrata com verdade nem a personalidade de Amália, nem a personalidade dos seus familiares, nem tão pouco as suas vidas”.

O filme, co-produzido pela RTP e que custou perto de três milhões de euros (e terá distribuição em cerca de 20 países), retrata a vida da fadista desde a infância ao ano de 1984, quando ponderou o suicídio após lhe ter sido diagnosticado um tumor. No retrato fílmico da sua infância, passada em Lisboa e separada dos pais e irmãos, é evidenciado o papel do avô e, anos mais tarde, a censura e amargura da mãe perante a carreira de Amália, interpretada por Sandra Barata Belo.

“A relação familiar que é mostrada entre Amália e a mãe é completamente falsa”, disse ao PÚBLICO Diogo Varela Silva, sobrinho-neto da fadista. “Ela aprendeu a cantar com a mãe, que sempre a incentivou, e no filme parece que a mãe odiava ouvir a Amália cantar. Eu tenho cassetes antigas em que elas cantam juntas”.

A família assistiu ao filme com o juiz e os advogados na sequência do pedido de providência cautelar. “Nunca pagaria dinheiro para ver aquilo”, afirma Diogo Varela Silva. Os familiares de Amália ficaram também chocados com a forma como a personagem fala, num tom que, garante o sobrinho-neto, não corresponde à realidade. “Ela nunca foi uma mulher brejeira, antes pelo contrário. Nunca ninguém a ouviu dizer um palavrão”.

Outro dos eixos do filme, que tem 127 minutos e foi rodado este Verão em mais de 85 cenários e 45 locais diferentes, é uma paixão platónica entre a fadista e o banqueiro Ricardo Espírito Santo (António Pedro Cerdeira). A família nega veementemente que a relação com Ricardo Espírito Santo tenha existido “pelo menos ao nível em que é posta no filme”. “Não sei como se pode ficcionar assim a vida de uma pessoa”, conclui o sobrinho-neto da fadista, que considera o filme “degradante para a imagem” de Amália.

Os familiares não conseguiram impedir o filme de estrear, mas continuam “a estudar a situação com os advogados”. Entretanto, a produção inaugural da VC Filmes será distribuída na China, Holanda, Bélgica, Emirados Árabes Unidos, Egipto e Arábia Saudita, entre outros. Em 2009, dez anos após a morte da fadista, Amália passa na RTP como mini-série de dois episódios.

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