Principal negociador da oposição síria abandona processo de paz

Representante da facção rebelde salafista Jaish al-Islam anuncia saída da delegação que agrupa os grupos de oposição ao regime de Bashar al-Assad.

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Mohammed Alloush foi indicado pela facção salafista Jaish al-Islam e era o principal negociador da oposição AFP/FABRICE COFFRINI

O principal negociador da delegação que representa a oposição política e os principais grupos rebeldes que combatem o regime do Presidente da Síria, Bashar al-Assad, anunciou esta segunda-feira a sua demissão do cargo e consequente abandono do processo negocial em curso na cidade suíça de Genebra, sob mediação das Nações Unidas.

Mohammed Alloush, o líder da equipa negocial da oposição nas conversações de Genebra, indicado pela facção rebelde salafista Jaish al-Islam [exército do islão], deu conta da sua saída primeiro numa mensagem publicada no Twitter e depois num comunicado em que justificava a decisão com o fracasso em obter um acordo político para desbloquear o conflito na Síria e também em responder à crise humanitária que afecta principalmente os habitantes de cidades sitiadas no país.

“As três rondas de conversações até agora não tiveram resultados por causa da teimosia do regime, e os seus contínuos bombardeamentos e agressões contra a população síria”, escreveu Mohammed Alloush, que lamentou também a “incapacidade da comunidade internacional em fazer aplicar as suas próprias resoluções em termos de ajuda humanitária, fim dos cercos, libertação de prisioneiros e respeito do [acordo] de cessar-fogo”.

Para Charles Lister, especialista do Middle East Institute sedeado em Washington, a “desistência” de Alloush – ou seja, do seu grupo Jaish al-Islam – prova que as conversações de paz estão prestes a desmoronar definitivamente. “Creio que terão já dado o seu último suspiro”, considerou à AFP, notando que os grupos armados que aceitaram participar na trégua e envolver-se no processo político têm há algum tempo ameaçado retirar os seus representantes das negociações. “Este anúncio será interpretado como um sinal pelos outros grupos rebeldes, para se prepararem para a morte inevitável do processo de paz”, afirmou.

Os mesmos motivos invocados por Alloush tinham já sido apresentados pelo Alto Comité Negocial (ACN) da oposição para suspender a sua participação formal nos trabalhos – que não têm ainda uma data oficial para ser retomados. “Este é o resultado da frustração sentida por todos os sírios com o péssimo desempenho da comunidade internacional”, completou o porta-voz do ACN, Salem al-Muslat, em declarações à estação televisiva Al Hadath.

Segundo as agências, outros responsáveis envolvidos no processo em nome da oposição, nomeadamente o chefe da delegação, Assad al-Zoubi (general que desertou para a oposição), não deverão regressar à mesa negocial: a reconfiguração da equipa poderá ser anunciada dentro de dez dias, acrescentou Muslat.

O representante da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, disse no fim-de-semana que não via maneira de o processo avançar “nas próximas duas ou três semanas”. O diplomata não reagiu ao anúncio do abandono do principal negociador da oposição, e a sua assessora disse não ter comentários a fazer sobre as “questões internas do ACN. Em todo o caso, manifestou esperança no compromisso de ambas as partes com a retoma dos trabalhos.

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