Piloto ucraniana condenada a 22 anos de prisão por tribunal russo

Nadejda Savchenko foi acusada de cumplicidade na morte dos dois jornalistas russos no Leste da Ucrânia. Presidente Petro Poroshenko está "pronto" para uma troca de prisioneiros com Moscovo.

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A piloto ucraniana (aqui em Dezembro de 2014) não reconhece a acusação da justiça russa AFP/Kirill Zykov

A piloto ucraniana Nadejda Savchenko foi condenada esta terça-feira pela justiça russa a 22 anos de prisão, tendo sido declarada culpada por ter sido cúmplice na morte de dois jornalistas russos no Leste da Ucrânia, em Junho de 2014. O processo que já levava seis meses terminou em confusão total, depois de Savchenko ter começado a cantar uma música tradicional, abafando a voz do juiz que a declarou culpada.

“A sentença definitiva fixa-se em 22 anos de privação de liberdade”, indicou o juiz, Leonid Stepanenko, no tribunal da cidade de Donetsk, situada perto da fronteira da Rússia com a Ucrânia. Ao longo do processo, a acusação tinha pedido que a sentença fosse de 23 anos. Savchenko foi também condenada a pagar 30 mil rublos (cerca de 390 euros) por “passar ilegalmente a fronteira com a Rússia”. A piloto de 34 anos rejeita esta acusação, afirmando ter sido capturada por milícias pró-russas em território ucraniano, antes do ataque que matou os dois jornalistas russos. Por seu turno, a justiça russa considera que Savchenko atravessou ilegalmente a fronteira, fazendo-se passar por requerente de asilo.

O Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, prometeu fazer “todos os possíveis” para que Savchenko, detida há 21 meses, regresse ao país, evocando uma eventual troca de prisioneiros com Moscovo. “Estou pronto para transferir para a Rússia dois soldados russos detidos no nosso território, após terem participado numa agressão militar contra a Ucrânia”, afirmou Poroshenko, numa declaração divulgada online após Savchenko ter sido condenada pelo tribunal russo.

Os dois soldados referidos são Evgeni Erofeev e Alexander Alexandrov, apresentados por Kiev como agentes da inteligência militar russa, detidos no Leste da Ucrânia depois de serem acusados de combater ao lado dos rebeldes pró-Russia contra o Exército ucraniano.

Na mesma declaração, o Presidente ucraniano lançou fortes críticas à justiça russa e afirmou que não reconhece o veredicto do julgamento. “A Ucrânia nunca, insisto, nunca vai reconhecer este julgamento que é uma farsa, nem este suposto veredicto, que demonstra o absurdo e crueldade da justiça russa que remonta à época de Estaline”.

Após a divulgação da sentença, têm-se sucedido as mensagens de apoio e de solidariedade com a piloto ucraniana, assim como a condenação da justiça russa. Mark Feigin, outro dos advogados da piloto, utilizou a rede social Twitter para apelar a “manifestações pacíficas” contra uma “sentença criminosa”. Feigin reiterou também que vai “começar uma série de procedimentos internacionais para a libertação” de Savchenko.

Também o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Iatseniuk, utilizou a mesma rede social para demonstrar o seu apoio e para deixar fortes críticas à justiça russa. “O espírito de Nadejda Savchenko é mais forte do que uma centena de tribunais diabólicos do Kremlin. Ela será libertada!”, escreveu Iatseniuk.

“Nadejda Savchenko não teve um julgamento justo e a sua condenação é ilegítima e não deveria ser aplicada”, lamentou, por sua vez, Hugh Williamson, director da Human Rights Watch para a Europa e Ásia Central.

O futuro de Savchenko deverá agora ser discutido esta quarta-feira, em Moscovo, durante uma visita do ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, e do secretário de Estados dos EUA, John Kerry.

A condenação da piloto ucraniana que se tornou uma heroína nacional já era esperada, apesar de ela rejeitar as acusações de que foi alvo por parte da Rússia. Savchenko tem desafiado abertamente o poder russo, tendo chegado a erguer o seu dedo do meio ao juiz. Desde Dezembro de 2014, fez três greves de fome (esteve mais de 80 dias sem comer), reiterando que nem reconhece a sua culpa nem a sentença de um tribunal russo, exigindo regressar à Ucrânia. 

 

Notícia editada por Rita Siza

 

 

 

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