Negociações para formar governo na Holanda falham e Wilders sorri

Há dois meses que quatro partidos tentam entender-se para formar governo, mas as divergências em torno da política de imigração têm falado mais alto.

Foto
Geert Wilders foi excluído das negociações para formar governo Reuters/MICHAEL KOOREN

Dois meses depois das eleições legislativas holandesas, mantém-se o impasse nas negociações entre os partidos para formar o próximo governo. A política de imigração é o tema da discórdia, e divide os partidos conservadores e a Esquerda Verde, enquanto o populista Geert Wilders assiste com um sorriso nos lábios.

“Queridos amigos, não funcionou.” Foi assim que a porta-voz das negociações, Edith Schippers, deu como terminada mais uma ronda de diálogo entre as delegações dos quatro partidos que há dois meses – e 18 sessões depois – tentam chegar a acordo para formar um governo de coligação. “As diferenças foram demasiado grandes”, acrescentou Schippers, uma ex-ministra que foi encarregue de supervisionar o processo.

O grande receio antes das eleições de 15 de Março era que o Partido da Liberdade, com um programa altamente anti-islão, fosse o mais votado. Não foi o que aconteceu nas urnas – o partido liderado pelo controverso Wilders obteve um resultado pior do que era previsto pelas sondagens, ficando a grande distância dos conservadores do VVD. A elevada fragmentação dos votos – o VVD não foi além dos 21% – obriga à formação de uma coligação alargada, com pelo menos quatro partidos, para que seja alcançada uma maioria no Parlamento.

Porém, as ideias de Wilders – cujo programa incluía o fecho de mesquitas ou proibir a venda do Corão – parecem agora estar a ter eco. É precisamente a política de imigração que está a inviabilizar um entendimento entre os partidos que estão a negociar uma coligação.

Os conservadores do VVD, liderados pelo actual primeiro-ministro Mark Rutte, os Democratas Cristãos e os liberais do D66, defendem limitações à entrada de imigrantes e refugiados, enquanto a Esquerda Verde, que conseguiu um resultado surpreendente nas eleições, pretende uma política de maior abertura. O VVD quer, por exemplo, impedir que um estrangeiro faça um pedido de asilo assim que chegue ao país, obrigando-o a fazê-lo no país de origem, explica o Le Monde.

“Gostaria de ter formado governo, infelizmente não foi possível. Esta ronda terminou, vamos ver como irá isto correr”, afirmou o líder da Esquerda Verde, Jesse Klaver. Rutte considerou “lamentável” o falhanço das negociações, assim como o dirigente dos Democratas Cristãos, Sybrand Buma. O líder do D66, Alexander Pechtold, mais favorável a um acordo com a Esquerda Verde, disse que o impasse é “extremamente decepcionante”. Nenhum dos líderes partidários arriscou, contudo, em dar por terminadas as conversações, que Schippers diz querer ver concluídas antes do Verão.

A notícia foi saudada por Wilders, que lembrou que o seu partido foi o segundo mais votado e voltou a manifestar-se disponível para integrar uma coligação governamental. A entrada do Partido da Liberdade numa solução de governo é, contudo, um cenário muito improvável. Durante a campanha, os principais partidos garantiram excluir o partido de extrema-direita de qualquer negociação.

A palavra é passada agora para a câmara baixa do Parlamento, que vai discutir o relatório elaborado por Schappers e irá decidir o rumo que as negociações devem seguir. O processo de negociação de coligações na Holanda é tradicionalmente uma tarefa árdua e longa. Em média, as negociações duram 72 dias e o recorde de 1977, em que as conversações se arrastaram 208 dias, está ainda longe de ser batido.

Caso a fórmula actualmente em equação falhe definitivamente, a alternativa poderia passar pela entrada da União Cristã, um pequeno partido protestante, nas negociações, em substituição dos ecologistas. Um entendimento entre estas formações iria permitir um overno sustentado por uma maioria muito curta – as quatro bancadas somam 76 deputados, num total de 150.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários