O “Pixuleco” Lula saiu à rua nos protestos contra o Governo de Dilma

No Brasil, manifestações a exigirem a destituição da Presidente ganharam fôlego graças às investigações judiciais que envolvem o antigo Presidente.

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Protesto em Brasília EVARISTO SA/AFP
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Protesto no Rio de Janeiro VANDERLEI ALMEIDA/AFP
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Protesto no Rio de Janeiro VANDERLEI ALMEIDA/AFP
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Protesto no Rio de Janeiro VANDERLEI ALMEIDA/AFP
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Palavras de apoio para o juíz da operação Lava-Jato CHRISTOPHE SIMON/AFP
Dilma voltou a repetir na sexta-feira que não se demite
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Dilma voltou a repetir na sexta-feira que não se demite Ueslei Marcelino/Reuters

Protestos à beira da praia? Só o Rio de Janeiro. Domingo de manhã em Copacabana, Maria Aparecida Silva deu as costas para o mar e virou a cadeira de praia para a avenida, lá onde um camião exibia uma faixa dizendo “Fora Comunismo”, à frente de uma multidão sem fim. O corpo de Maria Aparecida podia estar na areia, enrolado numa toalha de praia, mas o coração dela estava ali, nos protestos. “Isso é o que todo o mundo devia fazer!”, diz a comerciante de 53 anos, de Caxambu, Minas Gerais. “Vou falar uma coisa para você: Não sei como é que não teve uma guerra. As coisas ‘tá tudo caro, o desemprego ‘tá total, acabou tudo. Eu tenho dó é dos pobres.”

Os protestos de domingo, contra o Governo de Dilma Rousseff, tiveram lugar em várias cidades do Brasil. Eles estavam marcados desde Janeiro, mas ganharam força sobretudo na última semana, depois de o ex-Presidente Lula da Silva, antecessor de Dilma, virar alvo directo de duas investigações criminais, uma delas ligada à operação Lava-Jato, por suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro. “A bruxa pegou o avião e foi com o nosso dinheiro dar apoio ao barbudo”, vociferou o sistema de som do camião que pilotava os protestos em Copacabana. A “bruxa” é Dilma, o “barbudo” é Lula. Um dia depois de Lula ser levado sob escolta policial para ser interrogado, a Presidente fez questão de visitá-lo na sua casa em S. Bernardo do Campo, São Paulo, e de aparecer ao lado dele na varanda, num gesto de apoio. “Mas quando a barragem da Samarco rebentou lá em Minas, ela demorou dez dias para chegar! Dez dias!”, gritou o sistema de som.

“Lula na cadeia” era uma reivindicação constante na manifestação de domingo, como já tinha sido em manifestações anteriores do mesmo género. A multidão que compunha os protestos não precisou de esperar até que o juiz Sérgio Moro mandou o ex-Presidente depor nas instalações da Polícia Federal para decidir que Lula é um criminoso. O “Pixuleco”, um boneco insuflável de Lula vestido com farda prisional listada, é visto nas manifestações de rua contra o PT (Partido dos Trabalhadores) e o Governo de Dilma desde, pelo menos, Agosto. Era um item popular no domingo, levado nas mãos de muita gente. “Paguei 20 reais, também foi um roubo!”, riu-se Luciana Meyrelles, comerciante, 53 anos. “Mas vale a pena. Vou guardar ele de lembrança.” Lembrança de quê? “Da data do início de uma mudança no país. Porque o povo hoje veio para a rua. Com convicção.”

"Corrupção descarada"
“Eu quero ver os dois lá, com essa roupinha, atrás das grades”, diz Camila Marins, 34, enquanto segura um bonequinho de Dilma e outro de Lula. “Lula foi o pior Presidente que tivemos no país. É uma corrupção descarada, é escândalo atrás de escândalo e eles continuam tratando isso com deboche. Acham que o povo brasileiro é burro. Mas o povo que está aqui não se vende. Porque o PT pega o povo mais miserável e compra com o Bolsa Família [abono financeiro para famílias de baixo rendimento, iniciado no Governo de Lula]. Acham que o que o Governo está fazendo por eles é uma maravilha.”

Artur Rosas, professor universitário, 36, diz que “a única forma de o PT agradar à população é deixar de existir”. Não é que outros partidos não sejam corruptos. “Ninguém aqui é a favor de partido algum. Enganam-se os que pensam que esse movimento atende os propósitos do partido A, B ou C. A sociedade está cansada de todos eles de uma forma geral.” Se assim é, em quem vão votar? “Isso a gente pensa depois. Sabe porquê? Ninguém mais representa a gente. Não me conformo com aqueles que pensam: todos são [corruptos], sempre foi assim, não tem jeito. Recuso-me a pensar que um país desse tamanho não tem jeito.”

Um herói emergiu, visivelmente, entre a multidão – mas não era um político. “Je suis Moro”, lia-se em t-shirts. “Somos todos Sérgio Moro”, dizia um cartaz. Salete Barroso, 62, veio para a primeira manifestação da sua vida – e talvez tenha sido por causa do juiz que tem desmontado a rede de corrupção da Petrobras e mandado prender tantos políticos e empresários. “Tem um juiz aí pegando provas contra essa corrupção toda. Estou acreditando mais que vai acontecer alguma coisa.”

Os organizadores calculam que a manifestação no Rio teve 200 mil participantes, segundo a Folha de S. Paulo. E, apesar de estimativas de organizadores serem quase sempre sobrestimadas, não há dúvida de que ela teve mais fôlego e participação do que  as manifestações pró-impeachment de Dezembro. O PT chegou a convocar contramanifestações para o mesmo dia, mas desistiu por receio de confrontos.

Um jovem casal argentino, de férias no Rio, olhava para os protestos da praia. “Queremos que aconteça o mesmo na Argentina. Roubam muito.”

 

 

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