"Guerra do gás" entre Kiev e Moscovo já afecta países da UE

Polónia e Hungria detectaram falhas nas suas importações desde que a Rússia iniciou restrições ao abastecimento à Ucrânia
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Polónia e Hungria detectaram falhas nas suas importações desde que a Rússia iniciou restrições ao abastecimento à Ucrânia DR
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A Rússia começou ontem a reduzir a pressão no gasoduto que fornece gás natural à Ucrânia, depois de o Governo de Kiev ter recusado, uma vez mais, o novo preço, que quase quintuplica em relação ao anterior.

Em Bruxelas, a Comissão Europeia (CE) convocou para quarta-feira uma reunião do grupo de coordenação do gás, para analisar a situação e suas consequências. A porta-voz do executivo comunitário, Mireille Thom, exprimiu a "preocupação" da CE devido à falta de acordo, mas mostrou-se também confiante de que ambas as partes encontrarão uma solução.

Alguns países da UE são muito dependentes do gás russo. A Alemanha, por exemplo, recebe 30 por cento dos seus abastecimentos através da Ucrânia. A companhia polaca PGNiG anunciou ontem que a quantidade de gás que entra no gasoduto proveniente da Ucrânia está a diminuir, devido a uma falha de pressão no ponto de passagem, junto à fronteira entre a Polónia e Ucrânia. Eduard Zaniuk, porta-voz da empresa de gás ucraniana Naftogaz confirmou que "a pressão no gasoduto está a baixar". Também a empresa húngara MOL indicou que está a receber menos 25 por cento do fornecimento normal de gás da Rússia.

A já designada "guerra do gás" está a ser acompanhado de acusações das duas partes. Serguei Kuprianov, porta-voz do consórcio estatal Gazprom, anunciou que a ucraniana Naftogaz "recusou oficialmente" a última proposta russa, que propunha uma moratória de três meses para os novos "preços de mercado".

No último dia do ano, o Presidente russo, Vladimir Putin, propôs à Ucrânia o fornecimento de gás a preços de 2005, desde o primeiro dia de 2006 e durante três meses, se Kiev aceitasse uma subida daquele valor a partir do segundo trimestre do novo ano. "Dei instruções ao Governo e à Gazprom para assegurarem o fornecimento (...) a preços de 2005, durante o primeiro trimestre de 2006, na condição de os parceiros ucranianos assinarem (...) um contrato conforme as propostas da empresa sobre a passagem para preços de mercado no segundo trimestre", declarou Putin num conselho de ministros.

Como as autoridades de Kiev se recusaram a aceitar a fórmula que, a partir de Abril, faria igualmente subir o preço de mil metros cúbicos de gás de 50 para 230 dólares, o Kremlin começou, às 9h40 hora de Moscovo, a reduzir a pressão no gasoduto.

A Gazprom responsabiliza o Governo de Kiev. "Desde o início que eles [dirigentes ucranianos] faziam intenções de, a partir de 1 de Janeiro, começar a retirar gás sem autorização, mais precisamente, a roubar. Roubá-lo aos consumidores europeus", acusou Serguei Kuprianov.

"Fica-se com a impressão de que as actuais autoridades ucranianas, sentido-se inseguras, decidiram conscientemente romper as conversações com a parte russa e utilizar o problema do gás para a criação da imagem de um inimigo com vista à manipulação da situação política interna, incluindo as datas das eleições parlamentares", lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Moscovo.

Em Março próximo, os ucranianos vão às urnas para eleger uma nova Rada Suprema (Parlamento) e a "guerra do gás" poderá ser um dos trunfos fundamentais na campanha eleitoral. O Kremlin, com a subida em flecha dos preços do gás, pode criar sérios problemas económicos a Kiev e comprometer as forças políticas que apoiam o Presidente pró-ocidental Victor Iuschenko.

"A recusa da Ucrânia em aceitar a nossa proposta significa consequências catastróficas para a economia do país e, infelizmente, para o povo ucraniano irmão", avisou Kuprianov. O Kremlin poderá, contudo, sair derrotado tal como aconteceu há um ano, quando tentou impedir a eleição de Iuschenko. A ingerênciade Moscovo teve um efeito contrário ao esperado por Putin.

Iuschenko poderá utilizar esta crise para mobilizar e unir em torno de si todos os que o apoiaram na "Revolução Laranja". "A Ucrânia venceu a ditadura e, agora, deve trabalhar para conseguir a independência económica", declarou o Presidente na sua mensagem de Ano Novo.

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