Explosões visam turismo da Tailândia e enviam uma mensagem aos generais

Onze explosões, na quinta e sexta-feira, atingiram estâncias balneares no Sul do país. Autoridades denunciam actos de sabotagem, lançando suspeitas sobre oposição interna.

Em Hua Hin, duas bombas explodiram com meia hora de intervalo
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Em Hua Hin, duas bombas explodiram com meia hora de intervalo MUNIR UZ ZAMAN/AFP
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Quatro pessoas morreram e cerca de 30 ficaram feridas numa série de explosões, aparentemente coordenadas, esta quinta e sexta-feira, em algumas das principais estâncias turísticas no Sul da Tailândia. Ninguém reivindicou os ataques, que as autoridades rapidamente negaram ter algo a ver com terrorismo internacional, deixando a pairar a suspeita de que possam estar ligados à aprovação, no domingo, da nova Constituição imposta pela junta militar no poder.

Ao todo foram onze as explosões, todas de média potência, distribuídas por cinco províncias e separadas apenas por algumas horas. Quatro atingiram Hua Hin, 200 km a Sul de Banguecoque, que é uma das estâncias balneares mais luxuosas do país e alberga também o palácio de Klai Kangwon, residência de Verão do rei Bhumibol.

Quinta-feira à noite, dois engenhos deixados em canteiros de rua, explodiram com menos de meia hora de intervalo e a cerca de 50 metros um do outro, matando uma vendedora de rua e ferindo 21 pessoas, dez dos quais estrangeiros. Sexta-feira de manhã, o mesmo bairro, o mesmo método – uma segunda mulher, de nacionalidade tailandesa morreu e o pânico que se sentia na cidade desde a véspera esvaziou ainda mais as ruas. “Toda a gente foi aconselhada a ficar em casa, o que é muito triste porque hoje é o dia de aniversário da rainha [Sirikit, de 84 anos], que habitualmente um dia importante, em que toda a gente deveria estar na rua”, contou à BBC Wendy Herbert, um residente australiano.

O alarme foi maior porque, na mesma altura, outras bombas explodiam em Patong, uma das mais famosas praias da muito frequentada estância de Phuket, e na vizinha província costeira de Phang Nga. Ninguém ficou ferido com gravidade, mas o mesmo não aconteceu em Surat Thani, cidade portuária no Golfo do Tailândia, onde uma mulher morreu ao ser atingida pela explosão. A imprensa local dá ainda conta de uma quarta vítima na explosão, quinta-feira à noite, num mercado de Trang, um pouco mais a Sul.

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A polícia descartou de imediato a pista jihadista.“Estes incidentes não estão ligados ao terrorismo, são actos destinados a provocar a ordem pública”, disse um porta-voz do Governo, na mesma altura em que várias embaixadas aconselhavam os seus cidadãos a redobrarem a vigilância.  

O modus operandi é típico dos rebeldes que lutam por maior autonomia para as três províncias de maioria muçulmana no extremo sul do país, junto à fronteira com a Malásia. Numa década, a violência provocou mais de seis mil mortos, mas foram raras as vezes em que os separatistas atacaram fora dos seus bastiões e não há registo de que alguma vez tenham visado o sector do turismo, vital para a economia do país (representa 10% do PIB e este ano Banguecoque espera 36 milhões de visitantes, um novo recorde).

Os militares, no poder desde que em 2014 derrubaram o governo da ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra, dirigem assim as suspeitas para a oposição interna, a mesma que foi impedida de fazer campanha contra a nova Constituição. Aprovada por dois terços dos que foram às urnas, o texto garante que os generais continuarão a tutelar o país mesmo depois de novas eleições, prometidas para 2017. “Porquê agora, quando o país está a melhorar, a economia e o turismo estão a melhorar”, indignou-se Prayuth Chan-ocha, líder da junta militar, denunciando os ataques como “actos de sabotagem interna”.

No auge dos protestos que antecederam o golpe de Estado, uma franja mais radical dos camisas vermelhas, a cor que identifica os apoiantes de Shinawatra, lançou alguns ataques, com recurso a explosões de fraca potência. Mas o correspondente da BBC, Jonathan Head, nota que estes grupos estão agora sob vigilância dos militares e sublinha que os ataques ocorreram no Sul, longe do Norte rural onde os Shinawatra têm a sua principal base de apoio. “Seja quem for que tenha lançado estes ataques, certamente fê-lo para passar uma mensagem, abalando a confiança dos militares na sua capacidade para manter a paz e a ordem”, escreveu o jornalista.

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