Em Medellín, Papa insiste na reconciliação e na abertura ao outro

A mensagem do Papa na Colômbia tem sido sempre a mesma: a defesa do diálogo e em nome da paz e da unidade do país.

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A reacção dos quase dois milhões de fiéis esperados para a missa do Papa Francisco, em Medellín, à mensagem de encorajamento da paz e reconciliação nacional que o Pontífice tem vindo a repetir desde que aterrou na Colômbia, estava a suscitar quase tanto interesse e curiosidade, este sábado, como a própria celebração – debaixo de um céu plúmbeo e carregado que ameaçava desabar em chuva torrencial, mas não esmoreceu o entusiasmo de quem percorreu muitos quilómetros e esperou muitas horas para vislumbrar o Papa latino-americano.

Juan Manuel Santos e Álvaro Uribe, respectivamente Presidente e ex-Presidente, e também promotor e opositor do processo de paz com os grupos guerrilheiros do país, ouviram vários recados de Francisco, que nas suas diferentes paragens no país defendeu o aprofundamento do processo político iniciado há quatro anos, sem deixar de evocar as mais de 200 mil vítimas do conflito interno que se prolongou por 50 anos. “Foi demasiado o tempo que vocês passaram no ódio e na violência. Não queremos que mais nenhuma vida seja anulada ou restringida”, declarou.

A cidade de Medellín, centro da guerra sangrenta dos cartéis do narcotráfico que ameaçaram a estabilidade da Colômbia nos anos 80 e 90, é o grande reduto eleitoral do conservador Álvaro Uribe, cuja posição de intransigência com o diálogo iniciado pelo actual Presidente com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (já concluído) e do Exército de Libertação Nacional (em curso) tem merecido críticas veladas do Papa. “É preciso fugir de tentação de vingança e da busca de interesses particulares e de curto prazo”, aconselhou Francisco no seu primeiro dia na Colômbia, durante uma recepção na Casa de Nariño, a residência oficial do Presidente e sede do Governo.

Uribe, um católico devoto, preferiu não participar nessa cerimónia oficial de recepção ao Papa – a quem tinha alertado para o momento “difícil” que o país atravessa, numa carta que não mereceu resposta pública do Vaticano. Aos jornalistas, a quem se tem recusado comentar as declarações de Francisco sobre o processo de paz, Uribe confirmou apenas que participaria, com toda a sua família, na missa multitudinária de Medellín, nas não nos “encontros sociais” promovidos à margem das celebrações religiosas. No programa de Francisco em Medellín, havia uma visita a um lar para crianças abandonadas pela família, e um centro para vítimas de violência gerido pelos jesuítas, a ordem a que pertence o Papa.

Ao sublinhar a necessidade do diálogo e da reconciliação para ultrapassar os traumas políticos que marcaram a vida dos colombianos nas últimas décadas, Francisco lembrou o papel da Igreja e os seus preceitos de aproximação e acolhimento de todos, especialmente aqueles que estão doentes ou são marginalizados pela sociedade – muitas vezes proscritos como pecadores. A receita do Papa, em relação aos ex-guerrilheiros, como também aos órfãos e enfermos, é de abertura. “Como cristãos, não podemos andar a exibir cartazes de ‘Entrada Proibida’. Nem prender-nos a interpretações rigorosas da lei e da doutrina. Não podemos ter medo de ouvir o outro e de nos renovarmos, temos de ter a coragem de sair ao encontro e consolar quem sofre e quem precisa”, afirmou.

Na Colômbia, como noutros países latino-americanos, a Igreja está a sentir a pressão dos grupos pentecostais (vulgarmente designados como evangélicos), cuja expansão se tem feito habitualmente à custa de crentes católicos – que permanecem, contudo, como a grande maioria religiosa. Actualmente, 72% dos colombianos professa a fé católica. Há 30 anos, eram 88% da população.

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