Atirador de Fort Hood estava prestes a ser destacado para o Iraque

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A base de Fort Hood esteve em lock-down Department of Defense Video/Reuters

O exército norte-americano identificou o Major Nidal Malik Hasan, um médico especialista em saúde mental de 39 anos, como o autor do tiroteio que matou doze pessoas e feriu pelo menos outras 31 no centro de Fort Hood, a maior base militar do mundo, situada no centro do estado do Texas.

Os motivos de Hasan, que foi atingido múltiplas vezes no local, num fogo cruzado com agentes da polícia militar, permanecem desconhecidos. Inicialmente o Major foi dado como morto, mas oito horas depois do ataque o exército clarificava que afinal está vivo, internado sob custódia das autoridades, e em estado considerável estável. Três outros soldados, suspeitos de serem cúmplices no ataque, foram detidos, mas dois deles foram posteriormente libertados

“Uma horrível explosão de violência”, qualificou o Presidente Barack Obama, numa curta declaração depois de ser informado da ocorrência. “Já é difícil perder americanos em batalhas em países distantes; é especialmente horrendo saber que eles foram atacados numa base militar em território americano”, considerou.

O tiroteio irrompeu ao início da tarde de ontem (por volta das 13h30, hora local do Texas), nas imediações do Howze Theatre, onde se preparava uma cerimónia de graduação para os soldados que terminaram o ensino universitário. O edifício é contíguo ao “Soldier Readiness Processing Center”, o centro onde os soldados vão prestar testes e receber ordens antes de serem destacados para o teatro de guerra.

Aparentemente, o Major Hasan seria um dos milhares de soldados de Fort Hood que estão prestes a partir para a guerra do Iraque (a informação não foi ainda confirmada pelo Departamento da Defesa). O médico psiquiatra trabalhava no centro médico da base militar texana desde Julho, depois de ter feito um treino em trauma e stress de combate, no hospital Walter Reed de Washington, o maior hospital militar dos Estados Unidos, onde trabalhara nos últimos seis anos.

Nascido e criado no estado da Virginia, Nidal Malik Hasan é filho de imigrantes de uma pequena aldeia próxima de Jerusalém. Alistou-se no exército aos 17 anos de idade, estudou na universidade Virginia Tech e especializou-se em psiquiatria na Universidade de Ciências Médicas do exército, em Bethesda.

Os familiares de Hasan, dois irmãos e vários primos, desconheciam que ele seria destacado para a guerra em breve. Segundo contaram a vários jornais americanos, o Major começara a manifestar dúvidas quanto à sua permanência no exército, depois de ter sido atacado por vários camaradas pelo facto de ser muçulmano.

Antigos companheiros de Hasan como o Coronel Terry Lee, deram conta da alegada oposição do Major à manutenção das tropas americanas no Iraque e Afeganistão, dizendo que este considerava erradas as razões para a intervenção dos Estados Unidos e apoiava a retirada total daqueles dois países.

Autoridades acreditam que o Major Hasan agiu sozinho

Uma reconstituição fidedigna dos acontecimentos ainda está por ser apresentada. Alegadamente, o Major Hasan estaria munido com duas armas, uma semi-automática e possivelmente uma espingarda de canos. Nenhuma das armas era militar (aliás, os soldados não estão autorizados a carregar armas no interior das bases).

Os relatos apontam para a troca de tiros tanto no Howze Theatre como no Soldier Readiness Processing Center, e várias testemunhas afirmaram ter visto mais do que um atirador. As autoridades acreditam, contudo, que o Major Hasan agiu sozinho.

“Um atirador entrou no Soldier Readiness Center, onde se encontravam os soldados a fazer tratamentos dentários e outros ‘check-ups’ médicos antes de partir para o Iraque. Essencialmente o atirador abriu fogo, mas graças a uma rápida resposta das forças policiais foi abatido”, contou o Tenente-General Robert Cone, comandante do III Corps.

Algumas das testemunhas disseram que o tiroteio parecia indiscriminado, outros garantiram que o atirador estava a apontar para indivíduos específicos. À excepção de um civil, contratado como polícia militar, todas as vítimas mortais eram soldados, assim como os 31 feridos, transferidos para o Scott & White Memorial Hospital — uns com lesões menores mas vários em estado crítico. As autoridades médicas imediatamente accionaram um plano de emergência de recolha de sangue, e várias unidades móveis foram enviadas para localidades do centro do estado do Texas. As igrejas locais mantiveram as portas abertas toda a noite em vigília.

Base de Fort Hood esteve em "lock-down"

A base de Fort Hood ocupa uma área de mais de 800 quilómetros quadrados e funciona como uma “mini-cidade”: além dos quase 40 mil soldados em permanência, a base alberga mais de 20 mil dos seus familiares e quinze mil civis que diariamente entram para trabalhar. Tem várias escolas, lojas e cadeias de restaurantes. Depois do tiroteio a base esteve em “lock-down”, sem entradas nem saídas e com toda a gente obrigada a permanecer no interior dos edifícios.

Fort Hood é a sede da 1ª Divisão de Cavalaria com 18 mil homens, uma das unidades com maior experiência de combate da história militar americana, e também da 4ª Divisão de Infantaria. Esta divisão, conhecida como a “Ivy Division” ou “Iron Horse”, tem quatro brigadas de combate no Iraque desde Março de 2003. Foi a 1ª brigada da 4ª Divisão de Infantaria que capturou Saddam Hussein. As forças de Fort Hood preparam-se para cumprir mais uma rotação no Iraque, onde os Estados Unidos ainda mantêm cerca de 124 mil soldados.

Desde o início da guerra do Iraque, há seis anos, o Departamento de Defesa registou 14 casos de soldados mortos pelos seus companheiros de armas, o último dos quais no Camp Liberty de Bagdad, em Maio deste ano, quando um soldado abriu fogo durante uma consulta na clínica psiquátrica da base, matando cinco outros tropas.

Vários especialistas apontam o stress pós-traumático e outras doenças mentais como um dos maiores custos da guerra lançada em 2003. O número oficial de feridos da guerra do Iraque — mais de 31.500 — não tem em conta dos casos de saúde mental, mas estima-se que pelo menos 30 por cento das tropas que estiveram no Iraque já tenham sido diagosticadas com problemas psíquicos.

De acordo com as estatísticas oficiais, 20 por cento das 4300 mortes de soldados norte-americanos no Iraque foram classificadas como “não-hostis” e não estão relacionadas com o combate, tratando-se de acidentes ou suicídios. A base de Fort Hood figura no topo da lista de suicídios de soldados da guerra do Iraque: 75 até Julho deste ano (em 2009 foram nove).

O Pentágono e o FBI estão a colaborar na investigação do ataque de ontem em Fort Hood. O processo pretende averiguar se o tiroteio se tratou de um incidente isolado ou poderá estar ligado a algum tipo de conspiração contra o exército norte-americano. As medidas de segurança foram apertadas em todas as bases.

Oficiais das unidades de contraterrorismo norte-americanas disseram não existir nenhuma suspeita de que instalações militares dentro dos Estados Unidos pudessem estar na mira de redes terroristas.

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