Emigrantes atacam apoiantes de Maduro: "As pessoas na Venezuela a morrer à fome e tu aqui a gastar dinheiro"

Mesmo longe, emigrantes venezuelanos dão voz à crise que o país atravessa actualmente.

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A Venezuela enfrenta, desde 2016, uma onda de confrontos, em que já foram registados mais de 67 mortos Reuters/CARLOS GARCIA RAWLINS

Pelo mundo fora, actuais e antigos funcionários do Governo e apoiantes de Nicolás Maduro estão a ser insultados em público por emigrantes venezuelanos, durante as suas viagens pessoais ou de negócios ao estrangeiro. Em pastelarias de Madrid e Miami, a caminho de um espectáculo de ópera em Nova Iorque, numa ida a um supermercado na Suíça ou a regressar de uma visita à praia na Austrália, os momentos vão ficando gravados em vídeos, entretanto partilhados nas redes sociais.

A luta civil faz-se dentro e fora da Venezuela. Dos EUA à Austrália, passando pela Europa, são muitos os venezuelanos que se querem fazer ouvir, com uma única mensagem: qualquer pessoa com ligação ao Governo não é bem-vinda em nenhum país.

Era apenas uma paragem para um café ou um bolo numa pastelaria, mas rapidamente o dia mudou de figura. Recentemente, um funcionário do Governo da Venezuela, chegado a Madrid em negócios, foi reconhecido e insultado dentro da pastelaria venezuelana da cidade. “As pessoas na Venezuela estão a morrer à fome e tu aqui a gastar dinheiro em Espanha. Assassinos!”, gritavam os venezuelanos presentes no local.

Também numa pastelaria, desta vez em Miami, Eugenio Vasquez, um antigo ministro do Governo de Hugo Chávez, foi surpreendido por um cliente que o reconheceu e desatou a insultá-lo, contagiando os restantes venezuelanos dentro do estabelecimento. “Tu aqui a comer e tantas pessoas a passar fome. Nunca mais voltes aqui. Vai para o Canadá ou para o Pólo Norte, onde ninguém te reconhece”, ouviu-se. As ofensas continuaram até Eugenio Vasquez abandonar a pastelaria.

Ainda nos EUA, Rafael Ramirez, embaixador da Venezuela, foi surpreendido enquanto se dirigia para um espectáculo de ópera. Já do outro lado do oceano, em Berna, Suíça, uma venezuelana perseguiu o embaixador Cesar Mendez, acompanhado da sua esposa, num supermercado, exclamando “corrupto” e “ladrões”.

Um dos vídeos mais vistos desta série mostra a filha do antigo vice-Presidente da Venezuela e actual autarca da capital Caracas, Jorge Rodríguez, a ser abordada e insultada por uma mulher. A mesma acusa-a de estar a partilhar fotografias da sua passagem pelas praias de Bondi, “enquanto há estudantes a serem mortos”, pode ouvir-se num vídeo partilhado nas redes sociais. “Por causa do teu pai, há pessoas a morrer”, grita a mulher que abordou a adolescente.

Lucía Rodríguez está a estudar na Austrália, o que parece ter deixado muitos cidadãos insatisfeitos. As autoridades australianas receberam uma petição, já com cerca de 30 mil assinaturas, que pede a revogação do visto de Lucia Rodriguez, afirmando que o dinheiro que está a pagar o seu curso na Austrália é de origem “dúbia e desonesta”.

De acordo com a Fox News, Nicolás Maduro já se pronunciou sobre as recentes demonstrações ofensivas por parte de venezuelanos em todo o mundo, tendo denunciado as ocorrências como “violentas e anti-democráticas”. O Presidente não poupou nas analogias, comparando a situação ao anti-semitismo na Alemanha Nazi.

A Venezuela enfrenta a maior onda de protestos desde 2014, quando a oposição saiu à rua para exigir a saída de Nicolás Maduro, líder da República Bolivariana da Venezuela e sucessor do ex-Presidente Hugo Chávez.

Em Março de 2016, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) da Venezuela decidiu assumir as funções da Assembleia Nacional, onde a oposição tem a maioria. Com esta decisão, que os opositores designaram de golpe de estado, o TSJ, conhecido por apoiar o governo de Maduro, gerou uma onda de contestação por todo o país. Até agora, os confrontos já fizeram cerca de 67 mortos e mais de 1300 feridos.

O país acolhe uma das maiores comunidades portuguesas.

Texto editado por Hugo Daniel Sousa

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