Antigo guarda nazi julgado pela morte de 170 mil pessoas

Reinhold Hanning vai enfrentar testemunhas que sobreviveram ao horror dos campos de concentração.

Foto
Reinhold Hanning, de 94 anos, começou a ser julgado por crimes cometidos em Auschwitz Reuters

Um antigo guarda de Auschwitz de 94 anos, Reinhold Hanning, vai ser julgado esta quinta-feira, na cidade de Detmold, na Alemanha, acusado de ser cúmplice no assassínio de pelo menos 170 mil pessoas. Este é o primeiro dos quatro julgamentos previstos para os próximos meses, estando todos os réus na casa dos 90 anos.

Reinhold Hanning tinha 20 anos em 1942, altura em que começou a servir como guarda no campo de concentração de Auschwitz, na Polónia ocupada pelos nazis. A acusação afirma que Hanning recebia os prisioneiros judeus quando estes chegavam ao campo e os escoltava de seguida até às câmaras de gás. Mais de 1,1 milhões de judeus foram mortos neste campo.

A acusação diz ainda que Hanning se alistou voluntariamente nas SS aos 18 anos, tendo participado em combates na Europa oriental durante uma fase inicial da II Guerra Mundial. Depois disso, foi transferido para Auschwitz, onde foi guarda até Junho de 1944.

O réu admitiu que foi guarda, numa declaração, mas negou o seu envolvimento nos assassínios em massa. A acusação considera que a máquina nazi dependia de pessoas que aceleravam, ou pelo menos facilitavam, os assassínios.

No seu julgamento, Hanning vai enfrentar várias testemunhas que sobreviveram a Auschwitz. Entre elas está Erna de Vries, de 93 anos, deportada para Auschwtiz em 1943, juntamente com a mãe. Conseguiu escapar da morte ao ser transferida para um campo de trabalho, mas o mesmo não aconteceu com a mãe, que morreu. “Sobrevivi, mas até hoje não sei exactamente como é que a minha mãe foi morta”, declarou à Reuters. “A última coisa que ela me disse foi: 'Vais sobreviver e contar o que nos aconteceu'”, acrescentou.

“Foi o inferno na terra. O cheiro insuportável a carne queimada estava sempre presente. As chamas que vinham das chaminés eram enormes”, afirmou o sobrevivente Leon Schwarzbaum, de 94 anos, ao jornal Independent. Schwarzbaum, que irá testemunhar na abertura do julgamento, conseguiu sobreviver depois de ter sido seleccionado para trabalhar fora do campo.

Já Justin Sonder, agora com 90 anos, tinha 16 quando chegou a Auschwitz. Afirma ter sido operado sem anestesia pelos médicos do campo, que lhe pintaram, com iodo, uma suástica no joelho. “Depois da operação, eu estava convicto que seria considerado inútil e enviado para a câmara de gás”, disse ao mesmo jornal britânico. “Devo a minha sobrevivência ao médico que não colocou lá o meu nome”.

Devido à idade avançada dos acusados, os julgamentos têm sido adiados devido ao longo procedimento para determinar se estes estão ou não em condições de ir a tribunal. As sessões estão limitadas a duas horas por dia. Efraim Zuroff, responsável pela investigação de crimes de guerra no Centro Simon Wiesenthal, considera que a idade não deve servir de obstáculo à acusação. “Quando se pensa nestes casos, não se pensa em homens e mulheres velhos e frágeis, mas sim em jovens que dedicaram a sua energia a um sistema que implementou a 'solução final' e que quis obliterar o povo judeu”, declarou à Reuters.

Estes julgamentos foram tornados possíveis depois de uma jurisprudência criada em 2011, quando John Demjanjuk – antigo guarda do campo de Sobibor – foi o primeiro a ser condenado pela justiça alemã por “cumplicidade” com os crimes cometidos pelos nazis.

O julgamento de Reinhold Hanning vem na sequência da condenação de Oskar Gröning, em Julho do ano passado. O “contabilista de Auschwitz” foi condenado a quatro anos de prisão, depois de ter assistido o regime nazi no assassínio de cerca de 300 mil pessoas no campo de concentração de Auschwitz. 

Sugerir correcção
Ler 6 comentários