China
Procura-se namorada a fingir (para apresentar aos pais)
Tudo começou com a curiosidade de Zhao Yuqing. Esta blogger chinesa ficou intrigada com os sites e as aplicações móveis destinadas aos solteiros em busca de pessoas que se façam passar por seus companheiros junto das famílias.
Yuqing, que se formou recentemente em Direito, decidiu então pôr online um anúncio no qual se oferecia para cumprir esta função durante o período de festividades do novo ano chinês. Em troca pedia apenas que lhe pagassem as despesas de transporte.
Recebeu 700 respostas. A selecção levou-a até Wang Quanming, um homem com pouco mais de 30 anos, natural de uma zona rural no Sul da China. “Ele está a ser pressionado para encontrar uma mulher e a sua necessidade de alugar uma namorada é real”, explicou Yuqing ao fotojornalista que a abordou após ter encontrado o seu anúncio online e ter tomado conhecimento do acordo entre ambos.
Durante o período de festas, homens e mulheres, quando solteiros, são habitualmente alvo de sermões por parte dos seus familiares. No centro da conversa está a importância do casamento e da manutenção da linhagem familiar.
Segundo a agência Reuters, homens e mulheres na casa dos 20 anos chegam a pagar, durante os períodos festivos, entre 3 mil a 10 mil yuan (380 a 1270 euros) por dia a estas pessoas.
Antes de partirem para a visita a casa dos pais de Quanming, o suposto casal delineou os detalhes inventados da sua história comum e estabeleceu as fronteiras do relacionamento. Não haveria beijos, não dormiriam juntos nem beberiam álcool. Ela aceitaria ajudar nas tarefas domésticas. O acordo chegou mesmo a ser transposto para uma folha de papel, assinada por ambos.
Depois da visita de três dias a Anxi, na província de Fujian – que decorreu de forma completamente normal, com a mãe de Quanming a fazer os possíveis para que Yuqing se sentisse bem-vinda e sem fazer muitas perguntas sobre os dois –, a blogger publicou um texto na rede social WeChat. Garantia ter tido uma “experiência maravilhosa” na casa da família de Quanming.
Por esta altura, Quanming decidiu pôr fim à farsa. Temia que, caso a família viesse a descobrir primeiro, a situação se tornasse pior. Enviou a publicação à mãe que, em declarações à Reuters, disse não ter ficado chateada com o que aconteceu mas sim emocionada com as palavras escritas pela blogger.
“Inicialmente não sabia que me estavam a enganar”, explicou. “Tenho mais de 50 anos e não entendo o que é que estes jovens andam a fazer mas não fiquei zangada.” No entanto, a experiência não acalmou a pressão familiar sobre Wang Quanming para arranjar uma esposa. “A exigência por parte da minha mãe para casar cedo ainda se mantém”, desabafou.
Para Yuqing, a experiência confirmou a sua preocupação sobre as tensões geracionais que existem na China relativamente a esta urgência na procura de um companheiro de casamento, sobretudo nas zonas rurais onde o conceito de casamento se mantém mais ancorado nas tradições. “Eles têm de enfrentar uma maior pressão para casar e isso torna mais difícil encontrar uma cara-metade apropriada.”