Vereador diz que 95% das escolas com má qualidade do ar em Coimbra já foram intervencionadas

Estudo de 2015 apontava para partículas nocivas no ar de 51 escolas do ensino básico no concelho.

Foto
Nuno Ferreira Santos

O responsável pela pasta da educação da autarquia de Coimbra garante que quase todas as escolas que apresentavam má qualidade do ar num estudo de 2015 já sofreram obras de melhorias. O vereador Jorge Alves diz que, dos 45 estabelecimentos de ensino públicos que foram objecto de estudo, 95% foram intervencionadas desde 2014, num investimento que representou cerca de 1 milhão e 300 mil euros. Jorge Alves acrescentou ainda que estão a decorrer intervenções em mais duas escolas.

O estudo analisou salas de aula de 51 escolas do primeiro ciclo do ensino básico do município e detectou partículas nocivas (PM2,5 e PM10) na totalidade dos estabelecimentos de ensino. O período de recolha de amostras decorreu entre 2010 e 2011 em 45 escolas públicas e 6 privadas e permitiu ainda verificar que, em 66% dos espaços, os alunos estavam “constantemente expostos” a concentrações de dióxido de carbono acima do limite que a legislação permite.

As principais causas são a “deficiente ventilação e renovação do ar”, diz ao PÚBLICO Ana Ferreira, autora do estudo que foi apresentado em livro na semana passada.

As amostras foram recolhidas em dois momentos, tendo-se verificado piores resultados nas estações de Outono e Inverno. “Este indicador é específico da falta de ventilação existente nas salas de aula”, afirma a professora da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra (ESTeSC), que realizou o estudo no âmbito da tese de doutoramento defendida na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. A existência de fogões ou salamandras durantes os meses mais frios do ano contribuem para a pior qualidade do ar.

Os quadros de giz, o pavimento em madeira (com fissuras que acumulam pó) e armazenamento de materiais nas salas contribuem para os resultados, indica Ana Ferreira. Entre as possíveis formas de melhorar a qualidade do ar, a docente aponta para a instalação de sistemas de ventilação, complementados com o abrir e fechar de janelas por parte dos auxiliares de educação.

Durante a reunião do executivo camarário que decorreu nesta segunda-feira, Jorge Alves explicou que as intervenções “passaram por melhorar pisos, substituir caixilharia, substituir bancas degradadas”. Estas intervenções representaram “de certeza uma melhoria da qualidade daquilo que são as instalações escolares”, disse o autarca sem mencionar sistemas de ventilação.

O responsável disse ainda que têm sido dadas, no início dos anos lectivos, indicações para que os auxiliares de educação das escolas abram e fechem janelas, de forma a arejar manualmente os espaços.

Autarquia diz que desconhece

A investigadora garante que, quando os resultados foram apresentados, há cerca de dois anos, “foi dado conhecimento à autarquia” e que a câmara se comprometeu a analisá-los. “Conheço o estudo porque o tirei da internet. Não me foi entregue e ao senhor presidente penso que também não” afirma Jorge Alves.

O responsável respondia às questões dos vereadores José Augusto Ferreira da Silva, do movimento Cidadãos por Coimbra, e José Belo, eleito pelo PSD, num momento em que o presidente da autarquia tinha abandonado a sala.

Ferreira da Silva considera que os resultados do estudo têm “gravidade” e queria saber que medidas foram tomadas pelo executivo. Depois foi a vez de José Belo, que salientou que a qualidade do ar “afecta a saúde, o conforto e o processo da aprendizagem das crianças”.

O vereador responsável pela pasta da educação estabeleceu uma comparação entre a leitura que fez do estudo e as notícias que saíram sobre o assunto. “Má comunicação social”, ironizou Ferreira da Silva, que diz lamentar que o vereador socialista tenha “desvalorizado” o problema.

Ainda antes do lançamento do estudo em livro o PÚBLICO pediu um esclarecimento ao município sobre o estudo em que, entre outras questões, procurava saber se a autarquia tinha instalado sistemas de ventilação em alguma das escolas e se estava prevista alguma medida para melhorar a qualidade do ar nas salas de aula das escolas. A câmara não respondeu. 

Sugerir correcção
Comentar