Braga lança plano para recuperar quarteirão da cidade romana

Plano de pormenor de salvaguarda abre portas à musealização da ínsula das Carvalheiras, descoberta há mais de 30 anos.

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A ínsula poderá vir a integrar um Parque Arqueológico em conjunto com outros vestígios como as termas da Civicidade (na foto) Adriano Miranda

A ínsula das Carvalheiras, um quarteirão de Bracara Augusta, deverá ser musealizado dentro de dois a três anos, abrindo aos visitantes a possibilidade de visitarem uma nova área da Braga romana. A Câmara local lançou um plano de pormenor e salvaguarda que abre a porta à recuperação de uma ruína que foi descoberta há mais de 30 anos. A discussão pública da iniciativa começou na semana passada, com um debate no museu D. Diogo de Sousa.

No encontro promovido pela autarquia foi unânime a necessidade de recuperação do quarteirão romano, que Manuel Martins, da Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (UAUM) diz “não ter paralelo” em nenhuma outra área do antigo império. A directora do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, Isabel Silva, que também participou no debate, fez, porém, uma advertência: o projecto que venha a ser idealizado para o local deverá fazer mais do que musealizar a ínsula. “Não pode ser apenas um local de passagem, tem que ser também um lugar de fruição da cidade”, propôs.

A área actualmente visível da ínsula das Carvalheiras corresponde a um quarteirão da cidade romana, mas no local são visíveis elementos de quatro quarteirões de Bracara Augusta. De resto, foi ali que foi descoberto o primeiro cruzamento entre ruas daquele período histórico. Na sua origem está uma luxuosa “domus”, que terá sido construída no século I, tendo depois evoluído para uma ínsula, com dois pisos e um balneário público. A sua ocupação estendeu-se até à alta Idade Média, de acordo com os estudos mais recentes.

A ínsula das Carvalheiras foi descoberta em 1983, quando a junta de freguesia da Sé projectava para o local a construção de uma escola. A parte central do terreno é público e foi estudado em dois períodos: o primeiro que se estendeu até 1995 e o segundo entre 1999 e 2001. Desde então, as únicas intervenções no local têm sido apenas de limpeza e consolidação. Isabel Silva, classifica aquele espaço como “um tesouro de uma extrema fragilidade”, lembrando que, desde a sua escavação, tem estado exposto aos elementos, o que tem provocado algum desgaste.

Manuela Martins, da UAUM, foi mais longe, defendendo que ou a ínsula das Carvalheiras é finalmente recuperada e coberta por uma estrutura que a proteja “ou então será melhor enterrá-la” para evitar a degradação. A arqueóloga, que escavou o local desde os anos 1980, propõe também que, qualquer que seja o projecto final para o quarteirão, seja criada uma área de “respiração” para o monumento romano: “património cercado já temos na cidade”.

A ínsula das Carvalheiras fica situada no interior de um quarteirão habitacional, nos limites do centro histórico de Braga. Fica próximo da Sé da cidade e de outros monumentos romanos como as termas da Cividade, já musealizadas, ou o teatro romano, para o qual há idêntico projecto. No debate desta quinta-feira foi sugerido que os vários monumentos romanos e o museu D. Diogo de Sousa possam integrar um Parque Arqueológico em Braga, promovendo um circuito de visitação das ruínas de Bracara Augusta.

A ideia não é nova e vem sendo defendida desde o início da década pela UAUM, tendo, inclusivamente, sido integrada no programa eleitoral com que o actual presidente da Câmara, Ricardo Rio, chegou ao cargo em 2013. A autarquia não se compromete para já com esse projecto, preferindo valorizar o plano de pormenor de salvaguarda agora lançado para a ínsula das Carvalheiras.

O processo agora iniciado vai ser longo – o período de elaboração previsto pode estender-se até dois anos – mas o vereador do Urbanismo, Miguel Bandeira, vê nele potencialidades, não só do ponto de vista da valorização do património, mas também do turismo. A perspectiva de crescimento da procura turística na cidade é “empolgante”, classifica o autarca, e está associada a um visitante mais exigente, criando uma “necessidade de produção de conteúdos e de criação de novos pontos de interesse” a que projectos como da musealização da ínsula das Carvalheiras podem dar resposta.

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