A Viagem Medieval já mexe e é fonte geradora de emprego

Evento, que cumpre este ano a sua 20.ª edição, já foi responsável pelo surgimento de empresas ou marcas que dão trabalho a várias dezenas de pessoas. E não apenas nesta altura do ano, em que as festas medievais animam vários pontos do país.

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Paulo Pimenta

O que pode ter um clube de snowboard a ver com uma feira medieval? Aparentemente, nada, mas a história da “Décadas de sonho”, empresa que se dedica a produzir espectáculos e recriações históricas em vários pontos do país, contraria esse raciocínio. Há cerca de 10 anos, os elementos do clube de snowboard foram chamados, pela câmara municipal de Santa Maria da Feira, a colaborar com a Viagem Medieval. “Começámos por participar num espectáculo, fazendo tiro ao arco, mas coisas foram evoluindo, começámos a assumir nós próprios um espectáculo e, há cinco anos, decidimos avançar para a criação da empresa de animação”, testemunha Paulo Santos, responsável pela “Décadas de sonho”.

Actualmente, a empresa de Santa Maria da Feira emprega seis pessoas a tempo inteiro e a cada evento contrata dezenas de colaboradores. “Nesta altura de Verão chegam a ser entre 40 a 60 pessoas que contratamos a cada fim-de-semana”, relata o professor de educação física que, desde há alguns anos, passou a ser também empresário, encenador e actor. Tudo por causa da Viagem Medieval – cuja 20.ª edição arrancou na passada quarta-feira, estendendo-se até dia 7 de Agosto -, que anualmente decorre em Santa Maria da Feira, atraindo centenas de milhares de visitantes. E “Décadas de sonho” não é o único caso de ideias de negócio nascidas no âmbito da grande festa de recriação histórica de Santa Maria da Feira. Também a “Ponto produções” é hoje uma marca de produção de espectáculos que vai dando trabalho a vários actores, dançarinos, técnicos de som e luz, e que surgiu, há cerca de três anos, no âmbito da Viagem Medieval.

“Só para o espectáculo que estamos a produzir aqui em Santa Maria da Feira são 25 pessoas envolvidas”, aponta Ana Carlos, responsável pela associação que detém a marca registada “Ponto Produções” e que no futuro, se tudo correr conforme previsto, poderá evoluir para a criação de uma empresa. Tanto mais porque as solicitações já começam a ser muitas. “Depois da Viagem Medieval, vamos para Bragança e, em Setembro, seguimos para os Carvalhos e, depois do Verão, em especial no Natal, também teremos vários trabalhos”, acrescenta Ana Carlos, uma jovem encenadora, de 27 anos, que acabou por decidir fazer das artes profissão por causa da sua participação na Viagem Medieval. “Comecei a participar nos espectáculos da Viagem Medieval aos 15 anos. É verdade que já praticava ballet, mas foi isto que me deixou o bichinho e que, em parte, me levou a decidir tirar uma licenciatura em animação cultural e um mestrado em animação artística”, relata.

Um “bichinho” que atingiu também o responsável pela empresa “Décadas de sonho”, que é cada vez mais “encenador, actor e arqueiro” e que alimenta o sonho de um dia poder criar uma espécie de “parque temático, com recriações históricas, no Algarve”. “É lá que está concentrado todo o turismo durante o Verão”, argumenta, a propósito do projecto que tem vindo a congeminar, nos últimos tempos. Enquanto isso não acontece, empenha-se com afinco nas várias produções que a empresa vai tendo em mãos. A Viagem Medieval de Santa Maria da Feira é, sem sombra de dúvida, o maior “cliente” da empresa. “Nesta edição, temos em mãos a produção e apresentação de três espectáculos de grande formato. No total, são perto de 400 pessoas envolvidas”, ilustra Paulo Santos. E acrescenta: “para que se tenha uma noção, só estes três espectáculos envolvem um investimento de 200 mil euros. Julgo que não haverá nenhuma iniciativa do género, em Portugal, que tenha um investimento deste valor para todo o evento”.

Para além do evento em Santa Maria da Feira, a empresa “Décadas de sonho” é chamada a participar em várias feiras medievais e recriações históricas que vão decorrendo em todo o país, orgulhando-se de ser, cada vez mais, “uma referência na elaboração de espectáculos de grande formato”, vinca Paulo Santos, ao mesmo tempo que lembra que foi a sua empresa que esteve responsável pela produção do “espectáculo comemorativo do 3.º aniversário da classificação ‘Elvas Património Mundial’”. Mais recentemente, e especialmente vocacionado para o público escolar, a empresa começou também a apostar num projecto de “visitas interactivas ao castelo de Santa Maria da Feira”. “E como as coisas correram tão bem, avançámos com o mesmo projecto em Guimarães e Conímbriga”, realça o responsável pela “Décadas de sonho”, sem deixar de assegurar que a empresa ainda tem margem para crescer.

Mais de 10 dias para “viver” o reinado de D. Dinis

A Viagem Medieval de Santa Maria da Feira, que abriu na quarta-feira ao público, é este ano dedicada ao “Reinado de D. Dinis, o plantador de naus”. Até ao próximo dia 7 de Agosto, o público é desafiado a recordar os mais importantes passos e vivências do rei que criou a primeira universidade portuguesa, através de 16 espectáculos inéditos. O programa do evento contempla ainda 1.500 performances de animação circulante, mantendo-se a aposta na feira franca – na qual participam 240 artesãos, mercadores e regatões – e na zona alimentar – com 23 tabernas e oito restaurantes.

“No ano passado, contámos com 600 mil visitantes, 50 mil por dia, e a aposta passa por continuar a crescer”, estima Paulo Sérgio Pais, da organização da Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, certame que tem vindo a afirmar-se como o maior evento de recriação histórica do país. O evento estende-se ao longo de uma área de 33 hectares e garante um tal de 144 horas de animação. “Por dia, estão a trabalhar no evento mais de 2.000 pessoas”, destaca ainda ao PÚBLICO Paulo Sérgio Pais.     

 

 

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