O melhor da televisão em 2023
As melhores séries de 2023. Escolhas de Joana Amaral Cardoso, Marco Vaza e Rodrigo Nogueira
10
For All Mankind T4 de Apple TV+
Sugere-nos um universo alternativo em que tudo é diferente porque a URSS bateu os EUA na corrida à Lua. Isto foi o primeiro episódio da primeira temporada, no final dos anos 60. À quarta temporada, no início do século XXI, a humanidade tem colónias em Marte. Com o mesmo brilhantismo que reimaginou Galactica, Ronald D. Moore continua a lançar-nos num futuro que parece longínquo, mas credível. M.V.
9
The Righteous Gemstones T3 de HBO Max
A terceira temporada da série de e com Danny McBride sobre uma família de televangelistas trouxe traumas familiares, regressos ao passado, acção bem filmada, especialmente para uma comédia, a sempre grande Edi Patterson, e a melhor luta de homem nu desde Promessas Perigosas, de David Cronenberg. R.N.
8
Dead Ringers de Prime Video
Perturbação. É o que fica desta adaptação de Alice Birch do filme de 1988 de David Cronenberg, exercício estético coeso ao ponto de ser constritivo e original discurso sobre genética, feminilidade e terror. Rachel Weisz no papel de gémeas ginecologistas e especialistas em reprodução faz tudo, mesmo os momentos mais tensos, valer a pena. J.A.C.
7
I’m a Virgo de Prime Video
Um miúdo de quatro metros a crescer em Oakland, Califórnia, é a premissa desta série anticapitalista, uma fantasia cómica absurdista de Boots Riley, que há mais de 30 anos é a cara do grupo de rap militante The Coup, e se virou para a ficção há cinco anos, com Sorry to Bother You. É ouro. R.N.
6
The Last of Us de HBO Max
No papel, tinha tudo para correr mal. Fadiga de zombies, série baseada num videojogo. Suspiro perante a falta de originalidade. E depois é um dos melhores jogos de sempre e Pedro Pascal e Bella Ramsey dão rosto a uma história de sobrevivência e pandemia com um coração muito menos dilatado, muito mais complexo do que as suas antecessoras no género. Às vezes dispersa-se e isso é excelente, outras vezes molha o pé no horror ou no CGI e isso é uma pena. Mas temos série. J.A.C.
5
Barry T4 de HBO Max
Barry Berkman não vai voltar a matar. Durante cinco anos, Bill Hader escreveu, realizou e protagonizou esta comédia mórbida sobre um assassino profissional ansioso que tenta ser actor em Los Angeles. Os oito episódios finais mantiveram o nível, alargaram o escopo e fecharam tudo com chave de ouro. R.N.
4
The Bear T2 de Disney+
Séria candidata à melhor série do ano, The Bear foi a banda que teve sucesso com o primeiro disco que respondeu à difícil tarefa de fazer um segundo álbum classificável com cinco estrelas Michelin. Montar um restaurante. Combater a ansiedade e a auto-sabotagem. Amar. Quebrar padrões intergeracionais. Delícia. J.A.C.
3
Beef de Netflix
Como um acidente de carro, ninguém viu esta série a chegar e, de repente, ela embateu directamente nos corações e cérebros do espectador. Ali Wong é brilhante, uma extensão dramática da sua veia de comediante igualmente cintilante, e Steven Yeun é o seu adversário ideal. Um episódio de road rage entre ambos tem repercussões épicas, muito pessoais ou desconfortavelmente materiais. J.A.C.
2
Reservation Dogs T3 de Disney+
Quando nos apresentam os putos da reserva, eles estão a roubar um camião de batatas fritas picantes. Querem ter dinheiro para fugirem da reserva, forma de fazerem o luto por um amigo que se suicidou, de honrarem uma ideia de futuro que tinham com ele. O que se seguiu foi uma das mais singulares criações televisivas de sempre. Sterlin Harjo e Taika Waititi abriram-nos a porta para um universo que é mundano e espiritual, cómico e dramático, que nos parte o coração, optimista sem ser auto-ajuda. Reflecte a experiência dos ameríndios pela vivência destes quatro putos da reserva e de toda uma comunidade de pais e mães, de tios, tias e espíritos-guia. M.V.
1
Succession T4 de HBO Max
A música que introduz Succession é como Succession: uma encantatória e perturbadora mistura de instrumentos tão diferentes como o piano e batidas de caixa de ritmos para envolver música clássica e uns toques de hip hop, uma simbiose perfeita com uma história que é um drama familiar refogado com comédia mordaz. A melhor série do ano para o Ípsilon (e para muitos outros) chegou ao fim este ano e com ela fica um vazio. Um vazio existencial que nunca poderá ser tão profundo quanto aquele com que Kendall Roy deixa o espectador na última cena, porque esse é sobre poder e sobre a identidade alicerçada no dinheiro, na competição e na importância de se chamar Roy, mas, acima de tudo, de se ser implacável. Deixarão saudades os insultos refinadamente escatológicos, os diálogos cortantes, as cores frias que os ricos e poderosos habitam.
Succession, de Jesse Armstrong, é um raro caso de perfeição em série e uma evolução da categoria não-oficial de “televisão de prestígio” em que tantas personagens foram feitas à medida do anti-herói. Porque a luta pela sucessão numa família dos média que está capilarmente ligada ao poder político e à sátira da humanidade como um todo pôs logo um desafio à entrada: como estabelecer ligação com figuras que nada têm de empático. Succession, mesmo para quem não conseguiu acompanhar o ritmo, fê-lo. O vazio que deixa é no espaço da televisão de autor, mas com meios, pouco dependente de audiências e capitalista ao máximo na importância que dá ao impacto e comentário cultural, numa altura em que o audiovisual está a mudar de rota rumo a coisas… mais simples. Mas pode sempre haver um plot twist.
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