Medicina em Números


1118 alunos frequentam o 1º ano do curso

409 alunos são homens

709 alunos são mulheres

6067 é o total dos alunos a frequentar o curso de Medicina

2269 alunos são homens

3798 alunos são mulheres






Defendidas quotas para travar entrada de mulheres nos cursos de Medicina

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Este ano há mais 1500 mulheres que homens a frequentar cursos de Medicina em Portugal João Miguel Rodrigues/Arquivo

O crescente número de mulheres a entrar nas faculdades de Medicina está a causar apreensão entre alguns sectores da classe médica e das próprias instituições de ensino. Há mesmo quem defenda a criação de quotas para homens, numa tentativa de travar a presença maioritária das universitárias nestes cursos.

António Sousa Pereira, médico e presidente do conselho directivo do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), no Porto, é taxativo: se o modelo de ingresso nos cursos de Medicina não for alterado, "terão de ser criadas quotas para os homens nestas faculdades".

A ideia, garante, é partilhada por outros colegas. "Toda a gente fala disto à boca pequena; como é um assunto polémico, há um certo receio de discuti-lo", explica.

Segundo números fornecidos pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior, existem mais 1500 mulheres que homens a frequentar, neste ano lectivo, os diversos cursos de Medicina existentes em Portugal.

Esta maioritária presença feminina nas turmas vai originar, nos próximos anos, um aumento do já de si elevado número de mulheres a exercer Medicina. "É indiscutível que é necessário haver um maior equilíbrio de sexos", defende também o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Germano de Sousa.

O bastonário diz mesmo que, se a situação não se alterar, prevê "muitos problemas" para os próximos anos. O facto de haver áreas da Medicina pouco escolhidas pelas mulheres (como a Urologia e a Ortopedia) não quer dizer que elas não sejam maioritárias em quase todos os colégios de especialidades médicas.

A questão da introdução de quotas começou a ser discutida em força, em Setembro do ano passado, numa reunião anual da Associação de Educação Médica Europeia realizada em Berna, na Suíça. Com o número das mulheres médicas a aumentar em toda a Europa, as faculdades de Medicina discutem já oficialmente a preocupação inerente à mudança de "hábitos e normas" em áreas até agora quase exclusivamente masculinas.

Em Portugal, a revista "Nortemédico", pertencente à secção regional do Norte da Ordem dos Médicos, fala também no assunto na sua última edição. Em entrevista, António Sousa Pereira explana a sua posição em relação a esta questão.

"Maternidade afasta as mulheres do serviço"

O bastonário sabe que, "com o actual sistema de acesso aos cursos de Medicina, entram mais mulheres do que homens" nas faculdades. Para isso conta muito, em seu entender, o facto "de as estudantes terem mais juízo e estudarem mais do que os rapazes".

E que modelo de acesso preferia Germano de Sousa? "Defendo que a nota de candidatura aos cursos de Medicina deve ser de 14 valores e que às notas deve juntar-se outro tipo de provas capazes de evitar que um aluno com notas excelentes e uma má formação geral possa ser um mau médico", esclarece.

Em relação à criação de quotas para os estudantes de Medicina, "no abstracto", o bastonário mostra-se "contra, porque as quotas parece sempre que são para defender um ser inferior". Mas admite que, "oficiosamente, o assunto vai surgindo". Até porque, considera, para além de homens e mulheres terem formas diferentes de trabalhar, "a maternidade afasta as mulheres do serviço e tira-lhes alguma da capacidade de doação à profissão".

Mesmo assim, as mulheres são maioritárias em todas as escolas médicas existentes em Portugal: nas universidade da Beira Interior, de Coimbra, da capital (Universidade de Lisboa e Nova de Lisboa), do Minho e do Porto (Faculdade de Medicina e ICBAS).

Uma Medicina "cada vez mais no feminino", sobre a qual Germano de Sousa diz que é preciso "reflectir". "É necessário rever todo o sistema e é fundamental que o Ministério da Ciência e Ensino Superior, bem como o da Saúde, aceitem entrar na discussão", finaliza.

Uma conversa “sem sentido”

A médica Isabel do Carmo começa por sublinhar que “nunca ninguém se lembrou de quotas quando a situação era inversa”. E recorda a experiência vivida durante a guerra colonial, uma altura em que os homens deixaram algum “espaço” para as mulheres se afirmarem na medicina e em que elas se “mostraram capazes em todas as especialidades e foram tendo filhos”.

O que continua a preocupar Isabel do Carmo é que, havendo hoje tantas médicas, apenas cheguem homens a directores de serviço. O número de mulheres à frente dos serviços dos grandes hospitais, a nível nacional, “é mínimo”, lamenta.

Apesar de admitir que “estamos com um problema em mãos”, que poderá eventualmente acarretar dificuldades nos serviços de saúde no futuro, Teresa Magalhães, directora do Instituto de Medicina Legal do Porto e professora da Faculdade de Medicina, acredita que esta questão [do domínio feminino da profissão] apenas se vai colocar a longo prazo e prevê que até lá serão encontradas soluções. “À partida, não sou favorável a nenhum sistema que discrimine as pessoas” e este problema não se coloca apenas nesta profissão, acrescenta.

A medicina em Portugal já tem um cunho feminino, lembra por seu lado Carlos Arroz, do Sindicato Independente dos Médicos, notando que mais de metade do pessoal clínico nos centros de saúde (52 por cento) é composto por mulheres.

De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, em 2001, as mulheres representavam 45 por cento do total de médicos, quando em 1969 eram apenas 15 por cento. O crescimento foi gradual e sustentado ao longo dos últimos anos, tendo começado a evoluir de uma forma mais rápida a partir da década de 90.

A “conversa” das quotas “não faz nenhum sentido”, desvaloriza Carlos Arroz, sublinhando que não vê qualquer risco ou problema nesta invasão da medicina pelo sexo feminino. Quanto à questão do eventual embaraço sentido pelos homens quando consultam uma urologista, Carlos Arroz contrapõe: “E as mulheres que vão a um ginecologista?” O sindicalista também não vê grandes inconvenientes nas licenças por maternidade, até porque existem “programas de reciclagem e readaptação contínua”. “Que se discuta o ‘numerus clausus’ e a forma de entrada nos cursos de Medicina, tudo bem; agora esta questão não me parece lógica nem pertinente”, defende igualmente Merlinde Madureira, do Sindicato dos Médicos do Norte, para quem este fenómeno traduz apenas “um equilíbrio natural”.

Para o problema das licenças por maternidade, a sindicalista sugere algumas alternativas, nomeadamente a de que seja o marido a ficar em casa com a criança temporariamente, possibilidade que há já algum tempo se encontra prevista na legislação nacional.

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