TAP: "Para analisar com seriedade tem de se conhecer as regras do jogo"

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Foto: Pedro Cunha

O milionário dono da Avianca, uma das maiores companhias da América Latina, diz que o interesse na transportadora nacional depende das contas e da regulação no sector.

A colombiana Avianca, detida maioritariamente pelo empresário Germán Efromovich, é uma das interessadas na privatização da TAP, calendarizada para este ano. Na primeira entrevista à imprensa portuguesa, o milionário colombo-brasileiro assume estar atento à definição do modelo de privatização, que, tal como o PÚBLICO noticiou hoje, já está a ser definido pelos quatro assessores financeiros contratados pelo Governo, em encontros que já decorreram com uma comissão de administradores da companhia de aviação nacional.

A Avianca Taca vai concorrer à privatização da TAP?

Não sabemos as condições em que ela vai sair. Não tenho uma única pessoa na minha organização a trabalhar nesse projecto. Ninguém.


Excepto você...

Eu também não.


E sobre as conversações com Tomás Metello (presidente da companhia portuguesa Euroatlantic), pode falar?

Não estamos a discutir nenhum negócio específico. E se isso estivesse a acontecer eu iria abster-me de falar. Vocês querem que as pessoas digam o que querem ouvir e não querem aceitar a realidade como ela é.


E qual é essa realidade?

É uma só. Um empresário, um homem de negócios, está sempre a olhar o que está à sua volta. Agora, para analisar com seriedade, tem de se conhecer as regras do jogo. Nós estamos em vários negócios e estamos sempre analisando.

E quando conhecerem as regras do jogo em relação à TAP?

Vamos analisar e aí vamos ver se estamos interessados. Vamos decidir se há interesse e pomos uma equipa a analisar o plano de negócios. Se as regras do jogo não satisfizerem, seja economicamente, seja ao nível da regulação, aí não vamos nem mexer no dossier. É tão simples quanto isto. Não há ciência, nem mistério. Vou dizer uma coisa e podem registar: 99% do que a imprensa escreveu é invenção e mentira.


Mas não é verdade que já contrataram uma empresa de consultoria para avaliar o mercado português?

Eu não preciso de contratar ninguém para avaliar o mercado da aviação. Ninguém tem profissionais mais bem qualificados do que a Avianca Taca para analisar o mercado. Um consultor para quê? Para dizer como vou fazer o meu negócio? Se ele fosse bom era meu concorrente.


Então desmente que falou com a consultora financeira 3anglecapital sobre a TAP?

O Vasco [Duarte Silva, presidente da 3anglecapital] é meu amigo há 50 anos. Vêem o passarinho voar e depois inventam histórias. Se fosse verdade, não teria problemas em dizê-lo. Não devo nada a ninguém.


Mas a TAP é um bom partido?

Não conheço a noiva. Ainda não a mostraram. No dia em que me mostrarem logo vejo se é feia ou bonitinha.


Pode perguntar ao seu amigo Tomás Metello.

Eu não sei se ele conhece a noiva. Aliás, não vou perguntar a um potencial concorrente se ele quer casar com a mesma mulher que eu.


Mas ele é concorrente?

Pode ser concorrente, pode ser aliado, pode não ser nada. Agora são vocês e o Governo que estão esquentando a história. Há dois anos que se fala da privatização da TAP e não se deve perder tempo com isso enquanto não se vir um negócio real, palpável.


A Avianca Brasil tem, ou não, necessidade de ganhar dimensão rapidamente?

A Avianca, como um todo, não está para conquistar mercado. Está para prestar um bom serviço e ter rentabilidade. A Avianca Brasil voa com quase 80% de ocupação e está a crescer no ritmo dela, sem entrar numa carnificina.


A aposta do grupo é crescer organicamente ou através de aquisições?

As aquisições são uma questão de oportunidade. Se surge uma oportunidade analisa-se. Às vezes é mais barato investir na própria empresa e ganhar mercado do que comprar mercado com pepino. Este negócio da aviação comercial é tão dinâmico que é preciso personalizá-lo como uma sanfona. Há que saber crescer, encolher, acomodar-se e reagir rapidamente.


Faz falta à Avianca Brasil ter negócio internacional?

Não faz falta, porque hoje fazemos tudo através dos hubs de El Salvador e Bogotá. Enquanto não tiver uma infra-estrutura melhor e slots bons isso não funciona. A aviação comercial hoje é uma parte importante do PIB e é vital para a sobrevivência de todos nós. E têm de ser criadas infra-estruturas. Acho que, neste momento, no Brasil não há mais espaço para viajar no longo curso.


Uma vantagem competitiva da TAP...

A vantagem vem de lá, Portugal, para cá. A TAP tem um negócio importante no Brasil e isso foi feito de uma forma muito inteligente pelo Fernando Pinto. A companhia não estaria nas condições que está se não fosse essa "movida", só que isso não faz dela uma companhia mais ou menos atractiva.


A jornalista viajou a convite da Star Alliance
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