Fiscalidade Verde faz subir para 19 cêntimos diferença do preço da gasolina face a Espanha

Contas da Galp dizem que preço do litro de gasolina vai subir 6,5 cêntimos e o do gasóleo 5,1 cêntimos.

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Vem aí "mais um sacrifício para os clientes", diz o presidente da Galp Foto: Filipe Casaca/Arquivo

O presidente da Galp lamentou nesta segunda-feira que o Governo tenha voltado a tomar opções que encarecem os preços dos combustíveis, afastando-os mais ainda dos preços praticados em Espanha. Segundo as contas divulgada por Ferreira de Oliveira, as medidas da chamada fiscalidade verde vão somar 346 milhões de euros ao preço da gasolina e do gasóleo que, comparativamente com os preços espanhóis, irão subir em 19 cêntimos e quatro cêntimos, respectivamente.

“Estou preocupado pelo afastamento dos preços dos combustíveis face a Espanha que é induzido pela fiscalidade verde”, afirmou Manuel Ferreira de Oliveira na apresentação de resultados trimestrais da Galp. Tomando por base os dados do consumo de 2013, o presidente da Galp diz que o aumento da contribuição do serviço rodoviário (2,46 cêntimos), a taxa de CO2 (um agravamento de 1,5 cêntimos tendo como referência o valor actual do carbono nos 5 dólares), o custo da incorporação de álcool (ETBE) nas gasolinas (2,5 cêntimos) e de biodiesel no gasóleo (1,1 cêntimos) vão traduzir-se em aumentos de 6,5 cêntimos por litro na gasolina e de 5,1 cêntimos no gasóleo. Tudo somado, são 346,3 milhões de euros, diz o gestor.

Se aos preços da gasolina e gasóleo apresentados como referência pela Galp para Outubro, de 1,485 euros e 1,263 euros, respectivamente, somarmos o agravamento calculado pela petrolífera e depois compararmos com o preço final actual espanhol (1,362 euros na gasolina e 1,274 euros no gasóleo) verifica-se que o diferencial de preços que portugueses e espanhóis vão pagar nas bombas será de 18,8 cêntimos na gasolina e de quatro cêntimos no gasóleo.

Sublinhando que o preço antes de impostos dos combustíveis em Portugal “está consistentemente abaixo” dos valores praticados em Espanha, quer na gasolina, quer no gasóleo, o presidente da Galp diz que as opções do Governo representam “mais um sacrifício” para os clientes e afectam a competitividade da economia.

Actualmente, enquanto em Portugal, num litro de gasolina 95, cerca de 0,864 euros (ou 58%) correspondem a impostos, em Espanha, o preço final é de 1,362, mas só 0,700 euros (cerca de 51% são impostos). Assim, mesmo com preços sem taxas superiores aos cobrados em Portugal, os espanhóis conseguem pagar preços mais baixos nas bombas, salientou o presidente da Galp.

E lembrou que, apesar de a Comissão Europeia estabelecer que até 2020 os combustíveis deverão ter uma incorporação de biodiesel na ordem dos 10%, dá liberdade a que cada país defina o caminho para lá chegar. “Em Espanha suspenderam o aumento de biocombustível” que tem, ainda assim uma menor penalização do que em Portugal. “Não estou a comentar se o biocombustível é bom ou mau, mas afastamo-nos do equilíbrio com Espanha”, disse Ferreira de Oliveira.

Exportações caem 25%
O presidente da Galp adiantou que as exportações da empresa vão ficar abaixo do valor recorde de mais de quatro mil milhões de euros em 2013, quando totalizaram cerca de 9% das vendas portuguesas ao estrangeiro. No final de Setembro, as exportações de produtos petrolíferos chegaram aos 2337 milhões de euros, menos 25% face aos 3137 milhões registados no mesmo período do ano passado. Ainda assim, as exportações da Galp representaram 6,5% do total nacional, sendo o gasóleo, a gasolina e o fuel os produtos mais exportados.

A paragem programada da refinaria de Sines (iniciada em Março, com uma duração de 45 dias) traduziu-se em menor quantidade de combustível para venda e pesou nesta evolução. Assim como a quebra do mercado interno. As exportações para fora da Península Ibérica foram de 2,7 milhões de toneladas, uma diminuição de 18% face a Setembro de 2013

Mas o presidente da Galp estima que, ainda que fiquem aquém dos valores de 2014, as exportações da Galp tenham alguma margem de recuperação até ao final do ano.

Resultados em alta
Até Setembro os lucros da Galp tinham aumentado 8% face ao mesmo período de 2013, somando 236 milhões de euros. O resultado antes de juros, impostos, amortizações e depreciações (EBITDA) melhorou 5%, para 915 milhões de euros, dos quais 70% foram gerados no exterior, suportados pela produção de petróleo e gás.

“São resultados que nos deixam satisfeitos”, em particular porque nas margens de refinação já se assiste “a alguma normalidade”, disse o presidente da Galp. No terceiro trimestre a margem de refinação (a diferença entre os custos das matérias-primas e da operação de refinação e o preço a que os combustíveis são vendidos) da Galp subiu 4% face ao trimestre homólogo, para 2,4 dólares por barril, depois de evoluções negativas nos trimestres anteriores. Ainda assim, e perante “um mercado ibérico que está estagnado”, no acumulado dos nove meses, o resultado operacional bruto da área de refinação e distribuição da Galp recuou 11% para 221 milhões de euros.

Até Setembro a petrolífera registou um aumento de 22% na produção de petróleo e gás natural. Um negócio “que ainda está na infância, mas que é o que apresenta melhores resultados” de entre as áreas de negócio. O EBITDA da área de exploração e produção subiu 19%, para 342 milhões de euros, com o aumento de 50% da produção no Brasil a mostrar-se “decisivo para os resultados”.

Na área de gás e electricidade, o EBITDA subiu para 5% (337 milhões de euros), mais uma vez com as vendas de gás natural liquefeito (GNL) nos mercados internacionais a compensar a quebra nas vendas aos clientes directos. O chamado “trading” representa já 50% das vendas de gás natural da Galp. Questionado sobre o processo negocial com que o Governo queria repartir com os consumidores alguns dos ganhos da empresa nesta área, baixando os preços do gás, Ferreira de Oliveira remeteu a resposta para o executivo. “O Governo conhece a nosso posição sobre essa matéria”, disse.

O presidente da Galp revelou ainda que a empresa está “em conversações com o Governo” para decidir se avança para a prospecção de petróleo em águas ultra profundas ao largo do Alentejo. Sem querer adiantar mais pormenores, Ferreira de Oliveira disse que a empresa poderá começar a perfurar em 2016, caso decida avançar. No início do ano o gestor já tinha dito que a Galp estava à procura de parceiros para este projecto e nesta segunda-feira reiterou que, embora tendo a Galp 100% das licenças, “sozinhos o risco é demasiado elevado”.

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