Um livro também pode ser arquitectura

Uma Anatomia do Livro de Arquitectura, de André Tavares, é lançado esta semana em Montréal, seguindo-se depois apresentações em Lisboa (15 de Março) e no Porto (dia 17).

Foto
Dickinson's Comprehensive Picture of the Great Exhibition of 1851 DR

É um objecto de todo invulgar aquele que André Tavares “construiu”, a concluir um trabalho de vários anos em torno da história do livro de arquitectura, e que o levou a “mergulhar”, durante vários períodos entre 2011 e 2015, na biblioteca e nos arquivos do Centro Canadiano da Arquitectura (CCA), em Montréal. E é por esta razão, de resto, que o primeiro lançamento público de Uma Anatomia do Livro de Arquitectura foi agendado para esta quinta-feira, na instituição canadiana que recentemente se tornou mais conhecida em Portugal por ter acolhido parte dos arquivos pessoais de Álvaro Siza. Depois da apresentação na cidade do Quebeque, o livro terá lançamentos em Portugal, na Trienal de Lisboa, a 15 de Março, com apresentação de José Mateus e Joaquim Moreno, e no Porto (Cinema Passos Manuel), dois dias depois, na presença deste e também do editor norueguês radicado na Suíça Lars Müller, que, aliás, partilhou com o CCA a edição em inglês do trabalho – sendo a edição portuguesa assegurada pela portuense Dafne.

Foto
Desenhos, plantas, gravuras, litografias, pinturas,
fotografias fazem-nos passar por obras de figuras
maiores da arquitectura, de Vitrúvio a Gottfried Semper,
de Rafael a Frank Lloyd Wright

E foi, dizíamos, como uma obra de arquitectura que André Tavares – arquitecto, professor, investigador, editor e comissário-geral da Trienal de Arquitectura de Lisboa – organizou este seu livro, que fisicamente quase parece um “tijolo”, material base da construção. “Os arquitectos, normalmente, pensam o espaço do livro como sendo equivalente a uma construção: organizam sequências e caminhos lógicos que geram significados”, diz o autor no prólogo. O percurso de Uma Anatomia do Livro de Arquitectura por essa “biblioteca infinita” que é a história da edição de arquitectura é balizado por dois anos-âncora, 1851 e 1925, dois anos vintage, que “foram colheitas editoriais excepcionais”, justifica o autor, citando depois várias publicações de arquitectura associadas a dois acontecimentos maiores na Europa nessas datas: a abertura do Palácio de Cristal no Hyde Park em Londres, para a 1.ª Grande Exposição Universal, e a Exposição Universal de Artes Decorativas de Paris.

Uma plêiade de imagens – desenhos, plantas, gravuras, litografias, pinturas, fotografias… – ajuda a fazer essa viagem, que nos faz passar por obras de figuras maiores da história da arquitectura, de Vitrúvio a Gottfried Semper, de Rafael a Le Corbusier, de Andrea Palladio a Frank Lloyd Wright…

André Tavares escreveu o seu texto originalmente em inglês, o que lhe permitiu chegar a um público mais vasto. “O tema é ‘quente’, tanto mais que a euforia em torno das publicações digitais está a trazer um novo fulgor à cultura do livro impresso, e este livro intersecta precisamente esse universo em mutação”, diz o autor ao Ípsilon.

Pelo meio do seu percurso, e seguindo o mesmo fio de investigação, André Tavares fez uma viagem paralela a bibliotecas de Roma, Vicenza, Paris e Londres em busca de uma leitura de síntese da cultura arquitectónica europeia – e que lhe valeu o Prémio Távora 2015

Sugerir correcção
Comentar