Prémio Costa volta a distinguir um romance para crianças como livro do ano

The Lie Tree conta a história de uma menina que sonha ser cientista na Inglaterra vitoriana. Com muito terror e mistério à mistura e uma árvore que se alimenta de mentiras.

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Frances Hardinge na terça-feira à noite, em Londres, depois de receber o prémio Justin Tallis/AFP

É uma das distinções literárias mais prestigiantes do Reino Unido e acaba de ser atribuída, pela segunda vez, a um livro para crianças. The Lie Tree, de Frances Hardinge, recebeu na terça-feira à noite, em Londres, o principal dos prémios Costa, sendo considerado livro do ano 2015.

The Lie Tree conta a história de uma menina de 14 anos que quer seguir as pisadas do pai e estudar ciências. Só que Faith Sunderly vive na Inglaterra vitoriana, e tanto o meio académico como a comunidade científica são dominados por homens. É neste contexto que o seu pai aparece morto em circunstâncias misteriosas e a menina, apostada em descobrir o que aconteceu, se cruza com uma estranha árvore que se alimenta das mentiras que lhe são sussurradas.

Segundo o diário britânico The Guardian, a autora de 42 anos descreve o seu romance como uma “história de mistério gótica vitoriana a que se juntam paleontologia, pólvora, fotografia post-mortem e feminismo”.

Frances Hardinge, que diz ter sido totalmente surpreendida pela atribuição do prémio, vê esta distinção como uma legitimação da literatura que é feita para o público infantil e juvenil. “Há muita coisa estimulante a acontecer e há a consciência de uma grande diversidade, com muita literatura interessante”, disse a escritora, citada pelo mesmo jornal.

O líder do painel de jurados, James Heneage, classificou The Lie Tree como um livro fantástico, viciante e importante, cuja mensagem é hoje tão actual como seria no século XIX, período em que a acção decorre. Misturando terror, mistério e romance histórico, tem um “tom extremamente rigoroso”, que transmite a “voz de uma rapariga precocemente inteligente numa sociedade dominada por homens”.

Para o responsável do júri Costa do livro do ano, a importância da obra não se deve apenas à grande qualidade da narrativa ou das personagens, mas à sua mensagem central, que envolve uma rapariga que se sente à margem da época em que vive: “Muitas miúdas de 14 anos se sentem hoje desfasadas do seu tempo. Tenho filhas e sei que várias vezes já se sentiram fora de tempo. Este livro enuncia de forma brilhante o que vai na cabeça de uma rapariga inteligente de 14 anos.”

Frances Hardinge, por sua vez, garante que esta é uma altura “fantástica” para escrever para crianças e para jovens adultos: “Para aqueles que acham que este tipo de ficção não é a sua cena, por favor venham explorá-la – há uma selva maravilhosa lá fora”, disse a autora à BBC.

A decisão de atribuir o maior prémio Costa do ano à obra de Hardinge não foi unânime, mas os jurados chegaram a “consenso” depois de uma hora e 40 minutos de reunião. A tensão da narrativa, a construção das personagens e o um “final fabuloso” pesaram na hora de decidir, diz o presidente do júri, que garante que, apesar de se destinar maioritariamente a um publico feminino adolescente, The Lie Tree é capaz de cativar sem esforço qualquer adulto.

Os Costa atribuídos em 2016 distinguiram ainda The Loney, de Andrew Michael Hurley (Primeira Obra); A God in Ruins, de Kate Atkinson (Romance); 40 Sonnets, de Don Paterson (Poesia); The Invention of Nature, de Andrea Wulf, obra sobre a vida e a obra do cientista Alexander von Humboldt (Biografia); e, claro, The Lie Tree (Crianças).

Este é o sétimo romance de uma autora que estudou Inglês e Literatura em Oxford e que trabalhou durante anos numa empresa de software. Entre os seus outros títulos estão A Face Like Glass  e Cuckoo Song.

Em 30 anos de história de prémios Costa, antes conhecidos como Whitbread, The Lie Tree é o segundo título para crianças a ser considerado livro do ano, depois de The Amber Spyglass¸de Philip Pullman, seleccionado em 2001.

Frances Hardinge disse aos jornalistas não saber ainda o que irá fazer com as 30 mil libras do prémio (quase 40 mil euros), mas garantiu que pelo menos algumas vão ser gastas em champanhe.

Em 2015, o livro do ano deste prémio destinado a autores sedeados no Reino Unido e na Irlanda foi A de Açor, de Helen Macdonald.

 

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