Os problemas de adaptar Saramago

Apesar de cuidada, uma adaptação que desilude pelo formalismo oco.

Foto

Não se pode dizer que o “realismo mágico” da escrita de José Saramago tenha tido muita sorte nas adaptações ao cinema, talvez porque a realidade mais ou menos tangível do cinema se dê mal com os surrealismos paredes-meias com o fantástico que o escritor gostava de explorar.

Depois do esquecível A Jangada de Pedra de George Sluizer e do esforço honesto de Fernando Meirelles com o Ensaio Sobre a Cegueira, é a vez do canadiano Denis Villeneuve se atirar ao Homem Duplicado, numa adaptação admirável em termos formais, controladíssima mas tão frustrante como as anteriores. Instalando o filme numa atmosfera de desorientação e inquietação, Villeneuve torna a história de um professor que descobre a existência de um seu sósia num quebra-cabeças algo estéril, paredes meias com o cinema fantástico e apoiado numa interpretação rigorosíssima de Jake Gyllenhaal.
Mas os problemas de adaptar Saramago mantêm-se, encerrando O Homem Duplicado num clima de pesadelo que parece esgotar em si próprio as potencialidades do filme, um mal-estar existencialista que o canadiano parece tecer sem esforço a partir do nada mas que elide qualquer tipo de explicação linear sem oferecer em troca mais do que um formalismo cuidado, finalmente oco.
Sugerir correcção
Comentar