Mário Laginha em trio, desafiado a “arriscar mais” na Culturgest

Com Bernardo Moreira e Alexandre Frazão, o pianista apresenta na Culturgest composições novas que podem vir a dar um disco. Esta quarta-feira, às 21h30.

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Mário Laginha: “Vai haver momentos livres, de improvisação total” FERNANDO VELUDO/NFACTOS

No seu caminho de despedida como programador da Culturgest, Miguel Lobo Antunes continua a marcar pontos. Agora chegou a vez de Mário Laginha, que esta quarta-feira, com o seu trio, fará do palco do Grande Auditório (21h30) uma tela em branco para um exercício de pura criatividade. Depois da Carta Branca que lhe foi lançada pelo CCB, em 2016 (e que ele dedicou a uma certa ideia de África, com o cabo-verdiano Tcheka por cúmplice directo), este concerto responde a novo estímulo do programador, o que ali já lhe tinha sucedido antes, com os concertos que depois levaram à gravação dos discos Canções & Fugas (2006) e Terra Seca (2013). “Um programador que me diz que posso fazer o que quero, mas que me empurra para coisas que me são atraentes”

Há composições novas, diz Mário Laginha ao PÚBLICO, e apetece-lhe testá-las. Poderão dar um disco, é quase certo, mas o que o motiva agora é mesmo estreá-las em palco, devendo rodá-las depois antes de pensar numa gravação. Bernardo Moreira (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria), que já tocam com ele em diversas formações há trinta anos e no trio há uns quinze, são os seus cúmplices nesta aventura. “As composições são minhas, mas quando as tocamos e elas vão ganhando estrutura, todos dão ideias. E as deles são sempre óptimas. O resultado final é soma do trabalho dos três.” O trio, aliás, é a formação em que Mário Laginha se sente mais à vontade. “O facto de nos conhecermos e entendermos muito bem, musicalmente e humanamente, porque somos muito amigos, torna as coisas muito fáceis. É fácil ensaiar, é fácil tocar, é fácil falar, e isso é muito bom. E dá um conforto que, curiosamente, nos empurra para arriscar mais.”

Sete temas novos

O concerto terá uns sete temas novos, aos quais Mário acrescentará outros dois que, não sendo novos, não foram ainda gravados em disco nenhum. Provêm, ambos, do projecto Biblioteca dos Músicos (CCB, Novembro de 2015, pensado em torno de Fernando Pessoa e José Saramago) e chamam-se Desassossego e Jangada de Pedra. Os novos temas ainda não tem nome, mas Mário Laginha vai tentar baptizá-los até entrar em palco, “nem que seja com nomes temporários”, para não serem apenas designados por abreviaturas numeradas. O importante, contudo, é o exercício de criar e é esse que o entusiasma, neste como noutros projectos idênticos: “Gosto muito do exercício de ter uma música e, depois, poder decompô-la, destruí-la, mantendo um ponto de partida.” O que sucederá na Culturgest: “Vai haver momentos livres, de improvisação total.”

Nesta série musical na Culturgest, com convites para novas criações, o passo seguinte será dado a 8 de Junho com a cantora e compositora Amélia Muge e o pianista (e também compositor) Filipe Raposo. Chama-se Com o Passo das Árvores e, escreve ela no programa, inclui “canções que evocam Bach a partir de um poema de Blake; olham o Tejo e pensam nas viagens de Drummond de Andrade; ligam as serras do norte às serras do sul; põem o gato da rua, de Pessoa, a brincar com a minha gata; evocam memórias de infância, enquanto a chuva cai...” Boas músicas!

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