Hovione desafia cientistas para concurso de cinco milhões de euros

A empresa farmacêutica Hovione anunciou, no , o lançamento do programa 9ºW que prevê disponibilizar cinco milhões de euros para três projectos durante três anos. O desafio é dirigido a universidades e centros de investigação e não é completamente desinteressado.

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A comunidade científica vai ser desafiada a encontrar soluções a empresa farmacêutica Maria João Gala

Chama-se 9ºW (9 graus Oeste) porque esta é a longitude de Lisboa e porque o programa é inspirado no Prémio Longitude, que no século XVIII quis premiar a descoberta do cálculo da longitude na navegação de alto-mar com 20 mil libras. Desta vez, a verba disponível é de cinco milhões de euros e será atribuída pela empresa farmacêutica portuguesa Hovione. O avultado investimento, anunciado esta quarta-feira no Encontro Ciência 2016, em Lisboa, quer “reforçar as parcerias com universidades e centros de investigação portugueses” mas não será inteiramente desinteressado. A ideia é escolher três projectos que apresentem soluções para problemas concretos que a empresa enfrenta actualmente.

O programa só será oficialmente lançado a 28 de Setembro, data escolhida pela empresa para celebrar a inovação, e só nessa altura serão conhecidos todos os detalhes e requisitos do 9ºW. “São cinco milhões divididos por três projectos para pelo menos três anos e os projectos têm de ter uma massa crítica. Temos assuntos a resolver na nossa área e, se o fizéssemos sozinhos, levaríamos muito mais tempo”, adiantou ao PÚBLICO Guy Villax, administrador-delegado da empresa que produz princípios activos essenciais para que a indústria farmacêutica desenvolva os seus projectos de investigação em novos fármacos.

O comunicado de imprensa da Hovione refere que “as instituições escolhidas irão dirigir e coordenar a pesquisa e o desenvolvimento de produtos ou tecnologias disruptivas na indústria farmacêutica”. Ao PÚBLICO, Guy Villax sublinha o peso da aposta nas tecnologias revolucionárias e desvenda alguns dos interesses da empresa. “São assuntos que temos para resolver na área da engenharia, automação, com a utilização de diversas formas de energia. São assuntos muito específicos. São sobretudo problemas tecnológicos para produzir eventualmente produtos que já produzimos mas que precisamos de produzir de uma maneira mais eficaz.”

Parece ser uma situação em que todos ganham e quase se poderia dizer que a Hovione está, no fundo, a contratar investigadores em áreas especializadas, num contrato de cinco milhões válido por três anos. Por um lado, a universidade ou centro de investigação premiado tem a oportunidade e verba para desenvolver um projecto durante três anos em colaboração com os cientistas, engenheiros e promotores da Hovione, nos centros de investigação da empresa em Portugal e nos Estados Unidos. Por outro, a empresa consegue ter um problema resolvido com conhecimentos que ela não tem disponíveis e que resultarão numa solução inovadora e num curto período de tempo.

“Estamos aqui à procura de reunir à volta de um problema pessoas que habitualmente não trabalham juntas. Acho que o grande valor desta nossa iniciativa é o de criar uma parceria onde temos de ir buscar conhecimentos de ponta para aplicações industriais que vão ter resultados imediatos. Não estamos a falar de projectos a dez ou 15 anos”, nota Guy Villax. No comunicado, o responsável da empresa lembra que “a Hovione tem uma dívida grande para com o ensino superior português, pois o nosso sucesso está directamente ligado à qualidade do produto desse ensino universitário e às bolsas de doutoramento da Fundação de Ciência e a Tecnologia”, lê-se. “O 9ºW é a Hovione a retribuir.”

Apesar da declarada dívida, Guy Villax diz que o 9ºW é aberto “a todos os interessados” e não vai excluir ninguém. “Queremos pessoas competentes, com vontade de trabalhar em equipa, para resolver problemas difíceis que são importantes para trazer novos medicamentos ao paciente. Isso é o critério-chave”, diz, reconhecendo que a “proximidade tem um peso muito grande”.

A Hovione foi criada em Portugal em 1959 por Ivan Villax e dois outros refugiados húngaros, Nicholas de Horthy e Andrew Onody, formando o seu nome com a junção de sílabas dos apelidos dos fundadores. A empresa investiga e desenvolve novos processos químicos e produz princípios activos para a indústria farmacêutica mundial e, segundo os dados apresentados esta quarta-feira no Encontro Ciência 2016, somou cerca de 250 milhões de euros de receita em 2015. Emprega 1400 pessoas, das quais 750 em Portugal. No ano passado, esteve envolvida no desenvolvimento de três dos 45 novos fármacos aprovados pela agência norte-americana do medicamento (FDA, na sigla em inglês). É em Portugal que a empresa leva a cabo as suas actividades de investigação e desenvolvimento, nas quais emprega 220 técnicos e cientistas. Até ao final do ano, quando forem escolhidos os vencedores do programa 9ºW, vai “contratar” mais três equipas de investigadores. 

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