Cientistas, saiam da clandestinidade!

O crescimento das pseudociências – que a ciência tem demonstrado uma e outra vez que não funcionam – tem um impacto epidémico na sociedade.

Durante muito tempo os cientistas acreditaram que a importância do seu trabalho era evidente para a sociedade. Nas últimas décadas a relação entre a ciência e a sociedade tem vindo a deteriorar-se e até os mais óbvios benefícios da ciência estão sob minuciosa análise e crítica.

Homeopatia, antivacinação, astrologia, negacionismo do aquecimento global e outras pseudociências fazem parte de um movimento que abertamente nega certos avanços de conhecimento. O crescimento destas pseudociências – que a ciência tem demonstrado uma e outra vez que não funcionam – tem um impacto epidémico na sociedade. Estes movimentos sempre existiram em diferentes escalas, mas com a eleição de novas elites políticas, como a de Trump nos Estados Unidos da América, parece conferir-lhes uma legitimidade democrática que fere a ciência no seu âmago racional.

A ciência como a conhecemos está em risco: já não se pode isolar do resto da sociedade e proclamar altivamente os seus inquestionáveis benefícios. Os cientistas têm de sair da sua clandestinidade, dos seus laboratórios e centros de investigação, e vir para a rua. Não apenas para se manifestarem pela importância fulcral da ciência na nossa sociedade, mas principalmente para dialogar e trabalhar com e para a sociedade.

Uma sociedade livre é essencial para o trabalho da ciência e a ciência é essencial para uma sociedade livre. Hoje, mais do que nunca, o desafio da ciência é aproximar-se da sociedade e trabalhar em conjunto para avançar o conhecimento do nosso mundo e de o tornar mais democrático e socialmente justo. 

Professor de astronomia e sociedade da Universidade de Leiden, Holanda

(twitter: @pruss)

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