Direita radical junta-se em Madrid a três semanas das eleições europeias

Líderes de partidos de direita radical e extrema-direita apelaram ao voto nas eleições de Junho.

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Líderes da direita radical e extrema-direita juntaram-se em Madrid REUTERS/Ana Beltran
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Mais de dez mil pessoas juntaram-se, neste domingo, no Palácio Vistalegre, em Madrid, na convenção política Europa Viva 24, organizada pelo partido de direita radical espanhol Vox. Além de Santiago Abascal, o evento contou com a participação de Marine Le Pen, Viktor Orbán, Giorgia Meloni, André Ventura e Javier Milei. Esta convenção decorre a três semanas das eleições europeias, com as sondagens a apontarem para um forte crescimento dos partidos de direita radical e extrema-direita.

Apesar das diferentes geografias dos intervenientes, a linha dos discursos foi relativamente semelhante, tendo sempre em mira temas caros aos partidos da direita mais radical, como a "imigração descontrolada", a "corrupção" e o "socialismo", descreve o jornal El País, assim como a "luta pela liberdade" e a "luta contra a ideologia de género", escreve a agência Europa Press.

Santiago Abascal, líder do partido espanhol Vox, acusou o PP e o PSOE de serem “parceiros de Bruxelas” e apelou a uma “aliança global em defesa do senso comum”. O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, alertou o auditório, de acordo com o que escreve a Europa Press, para “uma grande batalha comum”, e referiu-se a temas como "a migração em massa, a “propaganda de género” e a “destruição das famílias tradicionais”. Orbán apelou ainda à prática de “valores conservadores, cristãos e patrióticos” e à “ocupação de Bruxelas” para garantir a sobrevivência da civilização ocidental.

Também a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, interveio, através de videochamada, no evento organizado pelo Vox, demonstrando o seu apoio a Abascal. “Estamos em vésperas de uma eleição decisiva (...). É altura de nos mobilizarmos, de sairmos à rua. É altura de elevar a parada, temos o dever de lutar até ao último dia", disse Meloni, citada pelo El País.

Mira no Parlamento Europeu e na corrupção

O seu partido Irmãos de Itália, tal como o Vox, pertence ao grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) no Parlamento Europeu. Meloni, escreve a agência Efe, antevê que o Vox “será decisivo para mudar Madrid e Bruxelas”, e espera que, em conjunto, sejam “capazes de mudar a actual maioria no Parlamento Europeu”, onde o Partido Popular Europeu não excluiu a possibilidade de fazer alianças com a direita radical.

Por seu lado, Javier Milei, Presidente da Argentina, usou a corrupção, outro dos temas habitualmente utilizados pelas forças populistas, atacando o chefe do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, e a sua mulher, Begoña Gómez, acusando-os de serem corruptos, aproveitando-se de uma investigação aberta pela justiça espanhola em Abril, mas que o Ministério Público espanhol pediu para que fosse arquivada. “Eles não sabem que tipo de sociedade e de país o socialismo pode produzir e que tipo de pessoas se metem no poder e que níveis de abuso pode gerar", atirou Milei, visando depois um dos seus inimigos favoritos, o Estado social: “A justiça social é sempre injusta.”

Restaurar a credibilidade

Para Carlos Gaspar, investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), a recuperação do PP, confirmada nas eleições catalãs da semana passada, juntamente com o declínio do Vox desde as últimas eleições gerais em Espanha, faz com que o partido de Abascal precise de restaurar a sua credibilidade com a bênção de dirigentes liberais e nacionalistas da direita populista europeia e latino-americana que ganharam eleições, como Milei, ou que estão à frente nas sondagens europeias, como a Frente Nacional de Le Pen. "Quer tirar partido da imagem de poder dos seus parceiros internacionais para não ser considerado como um partido marginal perante os seus adversários espanhóis", justifica o especialista.

Sobre o apoio declarado de Meloni ao Vox, numa altura em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, não excluiu o apoio da bancada dos membros da família dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR, à qual pertence a primeira-ministra italiana) para as europeias, Carlos Gaspar explica que a "direita populista europeia está em crescimento e em fluxo" e, nesse contexto, não é evidente quais vão ser os alinhamentos das formações nacionais que se dividem pelos dois grupos populistas que competem no Parlamento Europeu, a Identidade e Democracia (ID) e o ECR.

"Apesar de o Vox estar filiado ao ECR, onde o partido de Meloni tem uma posição destacada, não é evidente que o Vox não esteja ideologicamente mais próximo do nacionalismo antieuropeu de Le Pen [que integra a ID] do que da linha mais conservadora, pró-NATO e pró-UE da primeira-ministra italiana, que quer substituir os Socialistas Europeus como o parceiro natural do PPE de Von der Leyen", explica Carlos Gaspar.

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