Israel pode reduzir exigências para novo cessar-fogo em Gaza

Nova proposta surge após vários meses em que Israel pedia a libertação de 40 reféns, tendo agora reduzido a exigência para 33. Negociações com vista a novo cessar-fogo começam na terça.

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Nova proposta surge no meio de uma onda global de protestos a reclamar um cessar-fogo DAVID SWANSON / REUTERS
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Israel terá dado um passo significativo para o reatar das negociações para um cessar-fogo na Faixa de Gaza ao diminuir as suas exigências junto do Hamas. De acordo com o jornal norte-americano The New York Times, as autoridades israelitas admitem reduzir para 33 o número de reféns cuja libertação é neste momento exigida ao Hamas para retomar um eventual cessar-fogo. Para esta terça-feira, estão agendados novos encontros entre as duas partes na capital no Egipto.

Até ao momento e durante vários meses, Israel tinha como principal exigência a libertação de 40 reféns, nomeadamente "mulheres, idosos e pessoas com doenças graves", para aceitar um cessar-fogo na Faixa de Gaza. A redução no número, segundo três representantes israelitas que falaram de forma anónima com o NYT, deveu-se em parte à crença de que parte dos reféns já teria morrido. A mudança do lado israelita surge depois de um bombardeamento israelita na região de Rafah ter causado pelo menos 30 mortes e dezenas de feridos. Nas últimas semanas, a pressão internacional para que Israel aborte um anunciado ataque militar em larga escala a Rafah tem crescido, de uma forma particular por parte dos EUA.

"Dissemos claramente, e já há algum tempo, sobre Rafah que, na ausência de um plano que garanta que os civis não serão prejudicados, não podemos apoiar uma grande operação militar", disse Antony Blinken, nesta segunda-feira, na conferência do Fórum Económico Mundial, em Riad, na Arábia Saudita.

As negociações para uma nova pausa, mediadas tanto pelo Egipto como pelo Qatar, arrastam-se há meses, esbarrando ora no número de reféns que deve ser libertado, ora nos prisioneiros palestinianos que Israel deve também libertar. Outro dos problemas que afastam as duas partes está relacionado com a presença dos militares israelitas em Gaza e com o regresso dos palestinianos ao Norte do enclave.

Há ainda a questão da duração do cessar-fogo, com o Hamas a pedir uma pausa permanente, enquanto Israel pretende que a mesma seja apenas temporária, para conseguir avançar depois contra Rafah, onde acredita estarem quatro dos seis batalhões que restam ao Hamas. É também na zona em que permanecem mais de 1,5 milhões de palestinianos que fugiram do resto do território que Israel diz estar Yahya Sinwar,​ que as autoridades israelitas afirmam ser o arquitecto do ataque de Outubro.

​"As coisas parecem melhores”

Izzat al-Rishq, membro sénior do Hamas, referiu nesta segunda-feira nas suas redes sociais estar a analisar, sem detalhar, uma nova proposta do lado israelita, segundo o New York Times. À agência de notícias Reuters, um representante palestiniano “envolvido nos esforços de mediação” afirmou que, “desta vez, as coisas parecem melhores”, sem revelar se a proposta seria ou não aceite.

Para esta terça-feira está agendado o início de novas conversações entre Israel e o Hamas, através da mediação do país anfitrião desta ronda: o Egipto. Presentes na conferência do Fórum Económico Mundial, o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, Sameh Shoukry, admitiu ter esperança de que a proposta seja bem acolhida.

“Esperamos que a proposta tenha tido em conta as posições de ambas as partes, que tenha tentado extrair moderação de ambas as partes e estamos à espera de uma decisão final”, afirmou o representante, citado pela Reuters. Caso se concretize, este novo cessar-fogo seria o primeiro desde o ocorrido durante durante quatro dias, em Novembro de 2023, e que permitiu na altura a libertação de 105 reféns. Por essa altura, já o Hamas tinha libertado quatro reféns dos 253 reféns capturados no dia 7 de Outubro. Depois disso, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na conhecida sigla em inglês) resgataram três pessoas com vida e trouxeram do enclave os corpos de 12 (contando com militares mortos já na guerra lançada por Israel), incluindo três reféns mortos por engano pelas IDF.

Presente na conferência, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, comentou e elogiou a proposta de Israel. “O Hamas tem perante si uma proposta extraordinariamente generosa da parte de Israel”, afirmou o secretário de Estado, acrescentando que "a única coisa que está no caminho entre o povo de Gaza e um cessar-fogo é o Hamas” e que estava esperançoso que chegassem a um acordo. O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Cameron, pediu também na conferência do Fórum Económico Mundial para que o Hamas aceite a proposta israelita, que, segundo cita o Guardian, será para uma trégua de quarenta dias. “Espero que o Hamas aceite este acordo e, francamente, toda a pressão do mundo e todos os olhos do mundo deveriam estar hoje sobre eles a dizer ‘aceitem este acordo’”, acrescentou.

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