Humza Yousaf demite-se do cargo de primeiro-ministro da Escócia

Partidos da oposição pedem eleições antecipadas. Sondagens indicam que trabalhistas passam SNP pela primeira vez numa década.

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Humza Yousaf deixa o cargo de primeiro-ministro Jeff J Mitchell/Pool via REUTERS/File Photo
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Humza Yousaf anunciou, nesta segunda-feira, que vai abandonar o cargo de primeiro-ministro e líder do SNP (Partido Nacional Escocês), pouco mais de um ano após a sua eleição. Numa conferência de imprensa na Bute House, a residência oficial, disse que permanecerá no cargo até à eleição do sucessor, de forma a assegurar uma "transição suave e ordenada".

Nos próximos dias, Yousaf iria enfrentar duas moções de confiança no Parlamento de Holyrood, na sequência de uma crise política causada pelo rompimento da coligação governamental sustentada com os Verdes escoceses, na quinta-feira. O partido anunciou que iria apoiar uma moção de rejeição à liderança de Yousaf apresentada pelos conservadores escoceses, o principal partido da oposição.

A coligação entre os independentistas escoceses e os ecologistas foi quebrada depois de desentendimentos acerca do cumprimento das metas relacionadas com as alterações climáticas.

"Depois de ter passado o fim-de-semana a reflectir sobre o que é melhor para o meu partido, para o governo e para o país que lidero, concluí que a reparação da nossa relação para além da divisão política só pode ser feita com outra pessoa ao leme. Por conseguinte, informei o secretário nacional do SNP da minha intenção de me demitir do cargo de líder do partido", disse, durante a conferência de imprensa.

Sobre o fim do acordo com os Verdes, Yousaf disse que tomou a decisão que "achava ser a melhor para o partido e que ainda considerava ser esse o caso". "Mas, mais importante, eu acredito que essa foi a melhor decisão para o país", sublinhou aos jornalistas, explicando que tinha a expectativa de continuar a trabalhar com os Verdes "num acordo menos formal", à medida que o SNP avançava para uma "fase de governo minoritário"."Infelizmente, ao pôr termo ao acordo de Bute House da forma como o fiz, subestimei claramente o nível de mágoa e aborrecimento que causei aos colegas dos Verdes", lamentou-se.

O SNP está a perder apoio popular após 17 anos à frente do governo escocês, na sequência de um escândalo de financiamento e da demissão de Nicola ​Sturgeon como líder no ano passado. Este mês, a empresa de sondagens YouGov indicava que o Partido Trabalhista ultrapassou o SNP nas intenções de voto para as eleições de Westminster pela primeira vez numa década.

Na corrida à liderança do SNP, que detém 64 dos 128 lugares do parlamento depois das eleições de 6 de Maio de 2021, pode já estar, segundo revela o jornal The Guardian, John Swinney, que assumiu a liderança do SNP entre 2000 e 2004 e que foi vice-primeiro-ministro de Nicola Sturgeon. "Estou a ponderar muito bem a possibilidade de me candidatar a líder do SNP. Os pedidos que me foram dirigidos nesse sentido, com muitas, muitas mensagens de muitos colegas de todo o partido, deixaram-me um pouco assoberbado. Por isso, estou a ponderar muito activamente essa questão", admitiu o próprio John Swinney em declarações à Sky News.

Verdes disponíveis para trabalhar com SNP

Pouco depois do anúncio de que se iria demitir das funções, Patrick Harvie, co-líder do Partido Verde da Escócia (que com os sete lugares no parlamento sustentava a maioria com o SNP), disse, segundo escreve o jornal Telegraph, que o SNP, por ser o maior partido no Parlamento, tem o "direito de formar um governo minoritário".

"Os Verdes escoceses têm um longo historial de trabalho construtivo na oposição e fá-lo-ão com qualquer primeiro-ministro que partilhe os nossos valores progressistas e que possa assegurar a nossa confiança", deixando, no entanto, um aviso ao sucessor de Humza Yousaf: "A confiança é importante, a integridade é importante, os valores são importantes. Nunca os tomem, nem aos vossos aliados políticos, como garantidos. O país espera, exige e merece melhor."

Por seu lado, o Partido Trabalhista, através do seu líder Anas Sarwar, apelou a eleições antecipadas na Escócia, explicando que o SNP "não pode impor outro primeiro-ministro não-eleito" e que o Partido Trabalhista escocês está pronto para promover a "mudança".​ Ainda assim, e "apesar das diferenças políticas", Sarwar agradeceu ao primeiro-ministro cessante pelo serviço público. "Em particular, os escoceses recordarão a forma digna como actuou enquanto os seus entes queridos enfrentavam o perigo em Gaza. Desejo-lhe a ele e à sua família o melhor para o futuro."

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