Newsletter Encontro de Leituras #3 

(Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa em Coimbra, Portugal, em 1974, Centro de documentação 25 de Abril/ Divulgação)

Clube Encontros • Abril 

Novas Cartas Portuguesas, obra conjunta de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa (nestas edições com anotações de Ana Luísa Amaral) estará em discussão em Maio no Encontro de Leituras.

O clube de leitura, parceria do PÚBLICO com a revista literária brasileira Quatro Cinco Um à volta dos livros publicados nos dois lados do Atlântico,  terá como convidadas a professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Marinela Freitas, que organizou com a académica e poeta Ana Luísa Amaral (1956-2022) a colectânea Novas Cartas Portuguesas: Entre Portugal e o Mundo (ed. Dom Quixote, 2015), e também a antropóloga e professora brasileira Debora Diniz, conhecida pelo seu trabalho em defesa da descriminalização do aborto e dos direitos das mulheres (entrevista).

Publicado durante a ditadura em Portugal, Novas Cartas Portuguesas foi apreendido e suas autoras foram acusadas de pornografia e ofensas à moral vigente.

 Novas Cartas Portuguesas
Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.
Dom Quixote • 464 pp • € 17,76
Todavia • 352 pp • R$ 99,90
COMPRAR

O Encontro de Leituras é aberto a todos os que queiram participar. A ID é a 821 5605 8496 e a senha de acesso 719623. Entre na reunião Zoom através do link.

Dia: 14 de Maio, terça-feira
Hora: às 18h do Brasil e 22h de Portugal 


Leia também no PÚBLICO
1) Este livro afrontou o regime — e continua a ser uma arma (e um abraço) 
2) Autoras afirmam que "Novas Cartas Portuguesas" é um "livro mal-amado" em Portugal
 3) Lá fora o eco de "Novas Cartas Portuguesas" foi enorme
4) As "Novas Cartas Portuguesas" regressam do desterro (entrevista com Ana Luísa Amaral)


Crítica literária


Esse corpo indecente gera a revolução

O livro Novas Cartas Portuguesas, que se tornou manifesto feminista internacional, tem agora a sua primeira edição brasileira. 
"Estou na cozinha. Penso nas Novas cartas portuguesas. É o corpo, sempre o corpo. Eu, ainda com meus movimentos coordenados, corto uma cebola. As três Marias, por tradição, subestimadas e, depois, perseguidas. "Comigo me desavim/ Minha senhora/ de mim." Corto, decididamente, uma cebola ao meio. Depois, faço-lhe pequenos desenhos com pequenas talhas. Mariana, Maria, Maina, e corto, acidentalmente, a carne do meu dedo. A cebola escapou. Rolou sua cabeça pelo chão. O sangue do dedo é o sangue do meu corpo e não estanca. Mas isso não é novidade. É sempre o corpo pretexto e revolução.

[...] Em 1971, Maria Teresa Horta publicou um poema chamado Minha senhora de mim. Uma imoralidade, consideraram os infelizes de plantão. Sempre eles, homenzinhos irritados que protestam, gritam, guincham com a voz grossa e escondem, sabe-se lá, o desejo de também ser livres como quem escreve poemas. Foi precisamente em direção ao corpo de Maria Teresa que marcharam os homenzinhos. "É para aprenderes a não escreveres como escreves", relata-nos o prefácio de Tatiana Salem Levy para Novas cartas portuguesas, em urgente e belíssima edição da Todavia que acaba de sair.

Leia na íntegra o texto de Nara Vidal na revista Quatro Cinco Um

Memória

A Quatro Cinco Um de Abril traz o dossier especial "Como nasce a democracia", sobre os cinquenta anos da Revolução dos Cravos.

O ano da viração: Sebastião Salgado relembra como se firmou na carreira ao documentar a longa trajectória portuguesa rumo à democracia

(Crianças em Luanda, Angola, durante as comemorações da independência em 1975, fotografia de Sebastião Salgado)

"Nós fomos de carro para Portugal. Na época as passagens aéreas eram caras e não tínhamos dinheiro para ir de outro jeito. E nosso carro era um carrinho que gastava pouca gasolina, o menor Renault que existia. Os três cabíamos direitinho lá dentro: Lelinha, eu e o Juliano."

Em 25 de abril de 1974, logo quando começou o golpe militar que derrubou a ditadura salazarista em Portugal, Sebastião Salgado foi enviado pela agência Sygma para cobrir o movimento chamado de Revolução dos Cravos, pois os soldados simbolicamente levavam essa flor na ponta dos fuzis. Exilado desde 1969, Salgado tinha deixado havia um ano o emprego na Organização Internacional do Café, em Londres, para abraçar o sonho da fotografia. Naquele mesmo ano, nasceu o filho Juliano. E a família se mudou de mala, cuia e Renault 4 para Lisboa. Era mais barato morar uma temporada do que ir e vir e se hospedar em hotéis. Leia na íntegra na Quatro Cinco Um o texto de Leão Serva.

Entrevista

Sebastião Salgado: "A gente acreditava que Portugal ia ser completamente de esquerda"

Ao jornalista Amílcar Correia, o fotógrafo diz que todas as pessoas que tinham ideias libertárias vieram assistir à revolução, "na esperança de que Portugal seria um grande país democrático, com ideias sociais avançadas". Leia a entrevista no PÚBLICO.

Garota interrompida

Dulce Maria Cardoso fala sobre sua infância em Luanda e as marcas do 25 de Abril na sua vida e obra.

Em conversa com a Quatro Cinco Um, a escritora fala sobre a conciliação da memória privada com a colectiva. Leia na íntegra na Quatro  Cinco Um o texto de Beatriz Muylaert.

O correspondente acidental

Ruy Castro morava em Lisboa quando foi surpreendido com a revolução que derrubou a ditadura mais longeva da Europa: ‘Tive a sorte de estar lá’

O jornalista e escritor Ruy Castro, 76, assistiu desde o primeiro momento à surpreendente Revolução dos Cravos. Tão surpreendente que, na noite de 24 de Abril de 1974, ao passar em frente à sede da Pide, a polícia política do regime salazarista, ele se resignou pensando que ela continuaria oprimindo a sociedade por muitas décadas. No dia seguinte, acordou com as rádios tocando marchas militares e a cidade ocupada por tanques e coberta por um tsunami de cravos vermelhos representando a alegria da população diante da manchete: "Caiu a ditadura". Leia na íntegra a entrevista feita por Leão Serva para a Quatro Cinco Um.

Nas Montras e Vitrines  — Livros que cruzaram o Atlântico


Assim nasceu uma língua: sobre as origens do português. Fernando Venâncio

Vencedor do Prémio de Ensaio Jacinto do Prado Coelho 2020, o linguista, escritor e crítico literário português narra neste ensaio a história da língua portuguesa: fala das suas estruturas e formas, dos processos históricos que a formaram e da sua disseminação por outros continentes — desde sua origem como variante do galego, língua ibero-românica falada no noroeste da Espanha, até a popularização do português brasileiro. Publicado originalmente pelas Edições Tinta-da-China, em Lisboa, a edição brasileira surge agora acompanhada por um prefácio do linguista Marcos Bagno, que reflecte sobre os mitos em torno da língua.
Tinta-da-China Brasil • 304 pp • R$ 99,90
Em Portugal este livro está publicado pela Guerra & Paz.
Leia no PÚBLICOFernando Venâncio: "O português é um fenómeno tardio"

 

Deus na escuridão. Valter Hugo Mãe.
O escritor português vencedor do prémio José Saramago de Literatura narra o quotidiano de dois irmãos que moram numa comunidade no meio da natureza na Ilha da Madeira. Pref. Rodrigo Amarante e Carlos Reis.
Biblioteca Azul • 240 pp • R$ 69,90
Porto Editora • 288 pp • € 8,85.
Leia também a crítica de Mário Santos no PÚBLICO Uma história sobre as maravilhas do amor fraterno

Estela sem Deus. Jeferson Tenório.
Do autor de O avesso da pele (que venceu o Prémio Jabuti), chega a Portugal o seu primeiro romance. É centrado nas vivências traumáticas de uma jovem negra numa cidade marcada pelo racismo, pela violência e pela miséria. Reflecte sobre o papel das religiões diante das desigualdades sociais.
Companhia das Letras • 208 pp 
• € 15,95

Ouça também: No Encontro de Leituras de Junho de 2021, leitores do PÚBLICO e da Folha de S.Paulo conversaram com o escritor brasileiro Jeferson Tenório. Ouça o podcast
E no 451 MHz, os escritores Jeferson Tenório e Airton Souza falam sobre o que está por trás da tentativa de censura dos seus romances premiados. Ouça o podcast.


Cartas para a Minha Avó. Djamila Ribeiro.
A professora, escritora brasileira e colunista da Folha de S.Paulo faz um relato íntimo e memorialístico de momentos da sua infância e adolescência para reflectir sobre a ancestralidade negra e os desafios quotidianos numa sociedade racista. Como criar os filhos, as relações amorosas, a vida académica e outras experiências profissionais são alguns dos temas. Premiada com o Jabuti, a autora de Quem tem medo do feminismo negro (2018) e Pequeno manual antirracista (2019), ambos publicados pela Companhia das Letras no Brasil, cria esta narrativa a partir de cartas endereçadas à sua avó Antonia, "uma benzedeira" que conhecia o poder curativo das ervas, e com quem ela teve uma relação estreita de cumplicidade.
Editorial Caminho • 240 pp • € 15,90 

Leia também no PÚBLICO: Djamila Ribeiro: "Nós, feministas negras, também somos sujeitos políticos"

Dom Casmurro. Joaquim Maria Machado de Assis.
Edição portuguesa de um dos maiores clássicos do Bruxo do Cosme Velho, com fixação e notas de Manoel M. Santiago-Almeida, que integra o projecto Tesouro do Léxico Patrimonial Galego e Portugués do Instituto da Língua Galega da Universidade de Santiago de Compostela e do grupo de pesquisa Crítica Textual da Fundação Biblioteca Nacional). O livro tema ainda uma  introdução de Amândio Reis, investigador da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e director da Compendium: Revista de Estudos Comparatistas. 
Penguin Clássicos • 352 pp • € 10,95
 

É sexta-feira e o Ípsilon está nas bancas

O tema de capa é do jornalista Mário Lopes que nos leva ao 50 anos de música de intervenção.

Na próxima semana estarei na Feira do Livro de Buenos Aires. Até lá.