Conservadores vencem eleições legislativas na Croácia mas falham maioria

HDZ elege 60 dos 151 deputados no Parlamento croata e terá muitas dificuldades para formar governo. Extrema-direita fica em terceiro lugar, atrás do SDP, do Presidente Milanovic.

Foto
Andrej Plenkovic, primeiro-ministro da Croácia, celebrou terceira vitória consecutiva da HDZ em eleições legislativas Antonio Bronic / REUTERS
Ouça este artigo
00:00
03:50

A União Democrática Croata (HDZ), de centro-direita, venceu as eleições legislativas da Croácia, realizadas na quarta-feira. Não obstante, a terceira vitória consecutiva do partido do actual primeiro-ministro, Andrej Plenkovic, foi insuficiente para alcançar a maioria dos deputados no Sabor (Parlamento), pelo que se espera um longo e difícil período de negociações para a formação de um novo governo.

De acordo com os resultados provisórios divulgados pelas autoridades eleitorais, com 97,8% do total de votos contabilizados, a HDZ elegeu 60 dos 151 deputados da câmara legislativa, numa eleição que teve mais de 61% de participação – bem acima dos 47% da votação de 2020.

Em segundo lugar ficou a coligação liderada pelo Partido Social-Democrata (SDP), de centro-esquerda (42 deputados), seguida pelo Movimento da Pátria (DP), de extrema-direita (14 deputados), que se consolida como terceira maior força política da Croácia.

Tanto o DP como os liberais do partido A Ponte (11 deputados) e os ecologistas do Podemos! (10 deputados) poderão ter uma palavra a dizer nas discussões sobre o próximo executivo, que precisará do apoio de pelo menos 76 deputados para poder ser indigitado e assumir funções.

“A HDZ venceu as eleições legislativas pela terceira vez consecutiva. A partir de amanhã [desta quinta-feira], iremos avançar para assegurar uma maioria parlamentar para que seja possível formarmos governo”, disse o primeiro-ministro Plenkovic aos seus apoiantes no final da noite de quarta-feira, citado pela AFP.

“Isto não acabou”, garantiu, por sua vez, Pedja Grbin, líder do SDP, afirmando que o seu partido não vai desistir de liderar um governo. “Temos pela frente dias, semanas – talvez meses – de negociações, que terão como resultado a mudança que fará da Croácia um lugar melhor.”

Para Mario Bikarski, especialista em Europa de Leste e Central e analista na empresa de análise de risco Verisk Maplecroft, “independentemente da distribuição final” dos deputados no Sabor, “é provável que o Parlamento fique mais fragmentado e que as negociações para uma coligação de arrastem” durante bastante tempo.

“Um governo minoritário, seja liderado pela HDZ ou pelo SDP, será ainda mais instável e dificilmente cumpriria toda a legislatura”, vaticina, citado pela Reuters.

Plenkovic vs. Milanovic

Apesar de a HDZ ser o partido que tem dominado a política croata desde que o país se tornou independente da antiga Jugoslávia (1991), as eleições legislativas desta quarta-feira acabaram por ser um confronto entre duas personalidades políticas: Plenkovic, primeiro-ministro desde 2016 e responsável pela implementação de grande parte das reformas necessárias após a adesão da Croácia à União Europeia (2013); e Zoran Milanovic, Presidente do país desde 2020 e ex-primeiro-ministro (2011-2016).

O chefe de Estado liderou a coligação do SDP nestas legislativas, desafiando uma resolução do principal tribunal do país, que decretou que, nos termos da Constituição croata, tinha de renunciar ao cargo presidencial para poder concorrer ao Sabor.

O Presidente avançou à mesma e disse que só abdicará da presidência se o partido de centro-esquerda conseguir uma maioria para formar governo – tendo sido catalogado de “cobarde” pelo primeiro-ministro por causa desta decisão.

Conhecido pelas críticas aos líderes europeus e à estratégia do Ocidente para apoiar a Ucrânia na resistência à invasão russa do território daquele país, Milanovic também foi descrito por Plenkovic como “pró-russo”, por se ter oposto à formação e treino de soldados ucranianos na Croácia (Estado-membro da NATO).

O líder do Governo conservador, que foi acusado pelo Presidente de querer “arrastar” a Croácia para a guerra na Ucrânia, também esteve no centro de uma polémica recente, recorda a Reuters, que pode ter tido impacto nos resultados eleitorais, devido à escolha de um jurista com ligações a pessoas envolvidas em casos de corrupção para o cargo de procurador-geral da Croácia.

Sugerir correcção
Comentar