Trump e os seus eleitores

Temos de perceber como os americanos pensam e agem, para não ficarmos admirados com as suas escolhas.

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A maior parte dos eleitores de Trump não gostam da sua forma de ser, dos seus constantes despautérios, da sua forma de pensar, de falar e de agir. Acabam até por se rir das suas patetices. Também não querem saber se Trump vai facilitar à Rússia a tomada da Ucrânia, ou se Putin tem ambições maiores na Europa em países membros da NATO. Não querem saber se existe um artigo 5.º do Tratado do Atlântico Norte, nem se alguém cumpre a regra dos 2% do PIB investidos em defesa. Estes problemas passam ao lado dos norte-americanos, até porque uma potencial guerra na Europa não chegará ao seu território, além de que provavelmente os russos não cairão na asneira dos japoneses durante a II Guerra Mundial.

De uma forma estranha não se importam com o assalto ao Capitólio, ou se Trump cometeu alguma fraude contabilística, que lesou terceiros ou o fisco do país. O que dizer das inúmeras acusações criminais estaduais e federais que podem pender sobre Trump? Nada. Num país onde milhões acreditam que o leite achocolatado provém das vacas castanhas, que 25% não sabem que a terra gira em volta do sol (de quem se livrou Nicolau Copérnico), ou que 30% dos texanos acreditam que o Homem coexistiu com os dinossauros, está tudo dito. Claro que nos Estados Unidos existem largos milhões de cidadãos que pensam por eles próprios, têm elevados conhecimentos científicos, cultura geral de grande nível e que fazem a diferença em termos mundiais em diversas áreas, além de serem empreendedores natos.

Mas, afinal, porque votaram e votarão em Trump milhões de norte americanos? Muito fácil de explicar. Trump teve um discurso e criou um slogan que os americanos queriam ouvir: “Make America Great Again”. Os seus compatriotas saudosos dos templos gloriosos, da altura em que mandavam no mundo, onde a imigração era controlada, o dólar era uma moeda forte e os Estados Unidos um país industrial de ponta, votaram fortemente em Trump. Acreditam ainda que os Estados Unidos perderam a sua importância no mundo devido à influência da imigração e da globalização.

Mas será que os desiludiu? A resposta é não. Desde que tomou posse em 2017 como 45.º Presidente dos Estados Unidos e até à covid-19, ajudou a criar cerca de 7 milhões de empregos e reduziu para metade a taxa de desemprego de longa duração, além de ter colocado a economia a crescer a taxas superiores à Europa. Dificultou ainda as importações de produtos manufaturados, aplicando maiores graus de protecionismo económico e isso ajudou a aumentar a produção industrial do país. Era tudo o que os norte-americanos da classe média, brancos e trabalhadores queriam que acontecesse e nisso não os defraudou. E é exatamente pelos mesmos motivos que tem possibilidades de vir novamente a ser eleito.

Depois ainda existem os denominados “evangélicos” que acreditam piamente que Donald Trump é um enviado de Deus para salvar os Estados Unidos dos infiéis. Já existe quem lhe chame de “Igreja Trump”.

Os norte-americanos olham muito para os seus problemas, para o seu nível de vida, para o bem-estar do país e para a suposta grandiosidade americana perdida por culpa do pensamento dos Democratas. Não é à toa que, estão sempre com pequenas bandeiras do país e se recusam a aprender outras línguas. Temos de perceber como os americanos pensam e agem para não ficarmos admirados com as suas escolhas. De um país onde o candidato que obtém mais votos até pode não ser o Presidente (como já aconteceu) tudo se pode esperar.

Mas, afinal, num país com mais de 300 milhões de habitantes, não existe ninguém melhor que Trump ou que Biden? Serão estes os políticos que o mundo agora tem? Quando voltaremos a ver ao leme dos países autênticos estadistas e não populistas do momento, sem qualquer sentido de Estado com ideologias e limitações partidárias a servir no mínimo clientelismos?

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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