116 batimentos por minuto: Tchetchénia põe limites ao ritmo da música

A música não pode ser nem demasiado rápida nem demasiado lenta. A nova lei proíbe grande parte dos géneros tocados no Ocidente e quer repor “mentalidade tchetchena”.

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Géneros como techno, pop e rock vão desaparecer quase por completo do país no dia 1 de Junho Pexels/ Trinity Kubassek
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Quantas vezes cantaste Como Tu, a música mais ouvida em Portugal em 2023 no Spotify? Se Bárbara Bandeira fosse tchetchena, poderia ter problemas: até ao dia 1 de Junho, ver-se-ia obrigada a alterar a sua canção para um ritmo diferente, entre os 80 e os 116 batimentos por minuto (BPM). O tema de hip-hop português tem uma velocidade de 188 BPM, o que, para Musa Dadayev, o ministro da Cultura da Tchetchénia, é "inaceitável", por ser demasiado rápida. Flowers, de Miley Cyrus, a música mais ouvida no mundo no Spotify o ano passado, passa à tangente: tem 118 BPM, mas com menos três ficava fora dos limites, desta vez por ser muito lenta.

A medida, anunciada na rede social Telegram pelo Ministério da Cultura da república russa da Tchetchénia, tem como objectivo transmitir "ao povo e ao futuro dos nossos filhos a herança cultural do povo tchetcheno". As palavras são do próprio ministro da Cultura, que obteve ordens do chefe da República Tchetchena, Ramzan Akhmatovich Kadyrov, para proibir a produção musical de artistas que não limitem os seus ritmos a 80 e 116 BPM. Para o ministro, é "inadmissível tomar emprestada a cultura musical de outros povos", referindo-se a géneros como techno, pop e rock, que vão desaparecer quase por completo do país no dia 1 de Junho.

Nessa data, todos os artistas tchetchenos terão de ter as suas canções adaptadas à nova norma, caso contrário não poderão tocá-las no país.

A música tradicional tchetchena tem um ritmo habitualmente mais lento, na ordem dos 110 BPM, do que o comum no resto da Europa, e a proibição quer repor a"mentalidade e o ritmo musical tchetchenos", explica o Ministério, que clarifica que as coreografias de qualquer tipo de dança também terão de ser reformuladas.

Não há ainda indicações sobre proibição de música internacional, mas é certo que algumas das músicas mais tocadas no mundo inteiro, como Blinding Lights, de The Weeknd, ou a mais antiga Bohemian Rapsody, dos Queen, ficam de fora da norma, com 171 e 144 BPM, respectivamente. Ainda assim, a proibição actual destina-se aos artistas locais, que têm agora de se "adaptar à mentalidade tchetchena", citou o Moscow Times.

Ainda assim, a medida também acaba por proibir alguns clássicos da cultura russa, como o Dia da Vitória, de Lev Leshchenko, um tema sobre a vitória do Exército Vermelho tocado com frequência em comemorações patrióticas (que tem 126 BPM), ou até mesmo o próprio hino nacional russo, com 79.

A Tchechénia é uma república localizada no Cáucaso que pertence à Federação Russa, ainda que tenha alguma autonomia. O país tem já atraído atenções por restrições sobre liberdades individuais, estando no fim da lista no que respeita a direitos LGBT+, com perseguições ilegais sobre a comunidade. É uma república muçulmana, ao contrário da restante população russa, maioritariamente católica ortodoxa.​

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